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Rui incendiou o próprio quintal

Imagem Rui incendiou o próprio quintal
Bnews - Divulgação

Publicado em 08/11/2021, às 05h00   Victor Pinto


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O presidente da Câmara Federal, Arthur Lira (PP-AL), junto com o governo federal, principal interessado na proposta, conseguiu desestabilizar a oposição e seus aliados regionais de centro. Vide o PDT nacional e o governo da Bahia através das recentes declarações do governador Rui Costa (PT) a respeito da votação, em primeiro turno, da PEC dos Precatórios. Chamar os deputados do PP e PSD de traíras, em um discurso, no evento público, estourou uma crise na boca de uma eleição concorrida. 

“Eu vou rodar, no ano que vem, pedindo voto para todo mundo que estiver ao lado de Luiz Inácio Lula da Silva. Chega de deputado traíra, chega de gente que maltrata o povo e que vem aqui com conversa mole enrolar o povo. O Brasil não aguenta mais”. Eis o estopim da fala do chefe do Palácio de Ondina. 

Ele esperava que a PEC não fosse aprovada. A Bahia receberia, ainda em 2022, cerca de R$ 10 bilhões de recursos de precatórios do Fundef. O valor passa a ser parcelado com a PEC aprovada em definitivo. Além de passar um cheque em branco para o calote da dívida pública com o furo do teto dos gastos com o novo Auxílio Brasil. 

O governador pode e deve emitir sua opinião. Como cidadão e como político: direito garantido. Mas, e se fosse ao contrário? Um deputado da base criticando publicamente uma decisão do governador? A represália política seria cumprida de ponta a ponta.  Rui, agora, prova do próprio sabor das opiniões, mas com falta de amparo, lastro e crédito nas relações institucionais próprias. Aplica-se a essa situação o faço o que eu digo, mas não faço o que eu faço. 

Coincidência ou não, a fala vem justamente conjunta com a confirmação de que não será candidato no próximo ano. Não pensou Rui no arranho que causou a articulação política, não mais sua, mas de Jaques Wagner? O senador, inclusive, fora do País, na Escócia, na COP26, entrou no circuito para contornar o estrago. Sabedor de que sozinho não vence, só em grupo conseguirá êxito. 

Leão, quando questionado, preferiu colocar panos quentes, mas os mais chegados confirmaram que rugia contra a fala de Rui. Otto, que demonstrou um cumprimento de acordo feito com o próprio Rui, nos bastidores, estava possesso. Os recados foram dados por seus filhos: os deputados Cacá Leão e Otto Alencar Filho que subiram o tom nas redes sociais. 

Nas apurações das conversas com os diversos políticos nos últimos dias, um deputado chegou a cravar na conversa reservada: “Para estancar a crise é só inverter as agendas: manda Rui para a conferência de Meio Ambiente e traz Wagner para cuidar da articulação política”. 

A sorte de Wagner e o azar de ACM Neto (DEM) é ter acontecido muito tempo antes das eleições. Para avaliação dos mais otimistas: dá tempo reverter o incêndio e a terra arrasada. Debelar as chamas ainda é um desafio para os próximos dias. 

Victor Pinto é editor do BNews e âncora do programa BNews Agora na rádio Piatã FM. É jornalista formado pela Ufba, especialista em gestão de empresas em radiodifusão e estudante de Direito da Ucsal. É colunista do jornal Tribuna da Bahia, da rádio Câmara e apresentador na rádio Excelsior da Bahia. 

Twitter: @victordojornal

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