Artigo
Publicado em 17/04/2017, às 11h08 Guilherme Reis*
Há muito tempo me espanto com a discrepância que são a durabilidade de alguns relacionamentos e a volatilidade de outros. Conheço alguns casais da minha faixa-etária, tanto héteros quanto gays, que estão juntos há anos, declaram-se felizes um com o outro e assim se exibem na vitrine pós-moderna do Instagram. Outros se desfazem com a mesma brusquidão com a qual haviam se juntado, e logo já estão com parceiros novos, em uma sôfrega interação que parece ser mais pautada pelo sexo do que por qualquer outro aspecto.
Realmente não sei o que se passa na cabeça e na vida íntima de nenhuma dessas pessoas, mas a mim despontam duas conclusões igualmente plausíveis: a primeira é que, nesses tempos de amor líquido, quando a qualidade nos decepciona, procuramos a solução na quantidade. Afinal, depois de incontáveis sexos ruins ou medianos, uma hora certamente estaremos supridos em nossas carências.
A segunda conclusão é que a incerteza que por vezes nos acomete no início de um relacionamento é maior que a coragem e a maturidade para enfrentá-la. Enfim você encontrou o companheiro ou a companheira dos seus sonhos. Atingiu a curva na retidão que parecia infinita, a trivialidade resolveu baixar a guarda. “O amor chegou, e já não era sem tempo”, você pensa, mas aí se pergunta: “O que nós dois sentimos é suficiente? O amor vai durar para sempre? Se não, quando vai acabar? Daqui a dois anos ou dois meses?”.
Em nossa época de “fast-feelings”, quando consideramos tempo jogado no lixo instantes necessários de angústia e reflexão, conviver com incertezas sentimentais pode se tornar insuportável. Para muitos de nós, é mais cômodo virar artista do desapego, cortar e repelir vínculos. Publicizar o amor livre e descompromissado, quando na verdade ele sai de cena, empurrado para a penumbra ao fundo do palco.
*Guilherme Reis é repórter do Bocão News e escreve neste espaço às segundas-feiras.
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