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A polarização política e os valores

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O certo e o errado estão se confundindo, mas em função de quem o pratica  |   Bnews - Divulgação Arquivo pessoal

Publicado em 14/08/2023, às 19h12   José Medrado


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A polarização política pela qual o Brasil está passando saiu contaminando tudo, ultrapassou – infeliz e lamentavelmente – as fronteiras das questões políticas e minou muitas das estruturas de conceitos e das relações interpessoais e familiares. Percebemo-nos no meio de distorções de toda natureza. Não se trata aqui de questões que o tempo vai adaptando, moldando ou modificando, não é isto, mas questões mesmo de estrutura de ser, de perceber o mundo, a sociedade. O certo e o errado estão se confundindo, mas em função de quem o pratica. Não se considera mais o feito em si, mas de onde ele nasceu, da pessoa, de suas ideologias, principalmente políticas. As pessoas “desenvolveram” uma estranha capacidade de inverter valores e éticas, onde o errado se torna o certo, quando se faz comparativos com o mesmo erro, mas em posições ideológicas distintas, ou simplesmente se omitem diante de fatos que antes poderiam ser uma tempestade de indignação.  Essa aceitação ou mudança de paradigmas dos atores de algum erro não vem para favorecer, mas para contribuir com a deturpação da ética, do conjunto de valores e princípios através do qual decidimos entre o que queremos, o que devemos e o que podemos fazer.

O mais triste, ainda, diante dessa inversão de valores dos dias atuais é que não vemos mais fazerem as perguntas, as discussões para melhor situar ou mesmo para discernir o certo do errado. O fato não importa mas, e sim, o seu autor. Iguala-se comportamentos, sempre com a frase iniciando com “o pior foi Fulano que”... Em verdade, o pior será sempre o que ética, a lei, os valores de sociedade abjuram, condenam. Agora mesmo, você que lê esse despretensioso arrazoado reflexivo já está me conceituando com base exatamente na minha proposta de pensarmos as atitudes que temos, que os nossos ou os que admiramos tenham. Esquecemos que o valores que deterioramos serão os que poderão estar apontados para nós amanhã, ainda que não relutemos em fazer o uso do escudo da hipocrisia e da mentira para mascarar a real verdade. Recentemente, uma senhora me abordou em uma clínica, para que eu falasse que nos processos de traição conjugal havia uma questão cármica, ou seja, quem fosse traído(a) estava no carma. Estranhei, haja vista ser uma mulher, que, em geral, se indignam mais em tais atitudes, porém que houvera “pulado a cerca” tinha sido exatamente ela. É disso que eu falo, entendeu? Talvez seja o velho e muito citado “pimenta nos olhos dos outros é refresco , já nos nossos”...

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