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A cria e o terror do criador

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Repórter do BNews avalia campanha de reeleição do presidente Jair Bolsonaro  |   Bnews - Divulgação Arquivo Pessoal
Daniela Pereira

por Daniela Pereira

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Publicado em 21/09/2022, às 13h21 - Atualizado às 13h22



Quem não se lembra das fábulas do Pinóquio e Frankenstein? Ambos são produtos do século XIX e representam incertezas, desejos e questionamentos. Os dois também se voltaram contra seus criadores, quiseram ser maiores, mais fortes e mais poderosos.

Trazendo para a realidade do cenário eleitoral do século XXI (com algumas ações características do século XIX, vale ressaltar), podemos dizer que Jair Bolsonaro criou o bolsonarismo. O que antes era motivo de orgulho e carinho, com direito a ‘alimentação’ diária para ver sua cria forte e robusta, hoje tornou-se seu pior pesadelo, em ano eleitoral.

Enquanto amarga o segundo lugar em todas as pesquisas de intenções de voto, carregando uma imagem de macho viril, impaciente com jornalistas, intolerante com os antagonistas e sem tempo para o contraditório, Bolsonaro tem reunido forças para se livrar da imagem negativa que construiu desde a campanha de 2018.

Recentemente gravou vídeo de cabeça baixa e voz calma dizendo que caso perdesse as eleições iria ‘entregar a faixa e se recolher’. Uma declaração que foi na contramão de tudo que o mandatário vem pregando em seus discursos e redes sociais.

Em outra tentativa de enterrar a imagem de “moço mau”, seus advogados teriam apresentado ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), um requerimento pedindo a troca da foto que será apresentada nas urnas. A foto de urna atual do presidente no TSE mostra o candidato sem sorriso, o que estaria incomodando o mandatário do Palácio do Planalto.

Mas um fator importante não foi previsto pelo presidente e candidato à reeleição: o bolsonarismo já está criado. E de 2018 para cá ele foi bem alimentado, cresceu, ficou robusto e deu certo como o seu criador queria. Da mesma forma que Geppetto e Victor idealizaram suas criações.

O problema agora é que, inconscientemente ou não, o bolsonarismo tornou-se o maior pesadelo de Jair Bolsonaro, neste ano de eleição. A fúria do bolsonarismo diante de situações antagônicas tem limado as chances do presidente de construir uma imagem de ‘paz’.

Tivemos o assassinato do petista Marcelo Arruda, os ataques a jornalista Vera Magalhães, o assassinato de um outro petista em Mato Grosso e as manifestações políticas em Londres, durante o velório da Rainha Elisabeth II. Crimes motivados por ódio político, inflamados por um discurso repetido há quatro anos.

Os ataques de Jair Bolsonaro à imprensa, aos jornalistas, às mulheres e aos antagonistas estão sendo repetidos em ipsis litteris (do latim, 'pelas mesmas letras') pela sua cria (o bolsonarismo), o que tem gerado uma onda de reprovação, inclusive dentro da própria cúpula.

O que era para ser uma corrente inquebrável e insolúvel de apoio ao presidente, tem surtido efeito contrário e agora há grandes chances do criador ser derrotado pela sua própria criatura, como nas fábulas de séculos anteriores.

*Daniela Pereira é repórter de política do BNews

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