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UFBA e Universidade de Shangai criam o Instituto Confúcio da Bahia

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Penildon Silva Filho é professor da Ufba e doutor em Educação  |   Bnews - Divulgação Reprodução/ Arquivo Pessoal

Publicado em 06/08/2023, às 21h15 - Atualizado em 18/08/2023, às 21h15   Penildon Silva Filho


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As relações entre Brasil e China começaram no início do Século XIX e continuaram até 1949, quando houve uma interrupção decorrente da criação da República Popular da China. Posteriormente em 1974, durante o governo do general Ernesto Geisel, apesar de ser no período da ditadura militar no Brasil, houve o restabelecimento das relações diplomáticas e um constante incremento das relações comerciais, econômicas e culturais entre os dois países. Em 1974 um acordo permitiu o funcionamento da Embaixada do Brasil em Pequim e da Embaixada da China em Brasília. Desde então, os laços bilaterais têm crescido e em 2009 a China tornou-se o principal parceiro econômico do Brasil, ultrapassando os Estados Unidos. A criação do bloco dos BRICS em 2011, envolvendo Brasil, Rússia, China, Índia e África do Sul, iniciou o questionamento da ordem mundial unipolar hegemonizada pelos Estados Unidos no período pós-Guerra Fria com a queda do Muro de Berlim, e o questionamento da estrutura das Nações Unidas e dos Acordos de Bretton Woods, que refletem uma realidade de 1945 que não mais existe.

Atualmente os BRICS se converteram na principal alternativa de modelo de governança global, propondo um mundo multipolar, que preconiza a inclusão social, o desenvolvimento econômico em bases que ultrapassam o paradigma neoliberal, uma transição socioecológica e um mundo que procure resolver os conflitos de forma não beligerante. O Brasil com o governo Lula em 2023 volta a jogar um papel ativo de integração regional na América do Sul e com a África, que é complementar com o papel que a China tem desempenhado com a “Nova Rota da Seda”, maior projeto de integração e desenvolvimento econômico mundial, envolvendo a Ásia, passando pelo Oriente Médio e o Leste da África, podendo se integrar com o Oeste da África e a América Latina.

Interessa ao Brasil um mundo multipolar, pacífico, que tenha como prioridade a inclusão social e a superação da miséria e da pobreza extrema, coisas que a China já conseguiu, e um mundo que vença o desafio da crise climática e ambiental e da corrida armamentista. Por isso o nosso país tem papel central no redesenho da arquitetura mundial e da geopolítica, e as alianças com a América Latina, África e BRICS são essenciais, tendo a China um papel fundamental. Nesse redesenho, o BRICS tem o seu Banco Internacional de Desenvolvimento, dirigido hoje pela ex-presidente Dilma Roussef, como um banco de fomento maior que o FMI e o Banco Mundial, e caminha rapidamente para acabar com a hegemonia artificial e prejudicial do dólar nas transações comerciais internacionais. Em março de 2023, o Brasil anunciou que começará a exportar para a República Popular da China sem utilizar o dólar.

Essa relação multipolar internacional deve ser econômica, mas para ser completa precisa ser social, cultural e educacional, e a Universidade Federal da Bahia dá mais uma contribuição nesse sentido, ao lado de várias outras ações de internacionalização do seu ensino, da sua pesquisa e da sua extensão, com a criação do Instituo Confúcio na Bahia

O Instituto Confúcio (IC)é uma instituição sediada na China, com o objetivo de promover o ensino da língua e cultura chinesas, e é viabilizado pela parceria entre uma universidade chinesa e outra universidade em outro país, com o objetivo também de promover intercâmbio acadêmico de estudantes e professores e estimular pesquisas e projetos conjuntos entre os países. Cada Instituto nas universidades brasileiras faz parte de uma rede internacional de mais de 500 Institutos Confúcio presentes em 146 países, que têm por missão o ensino e a promoção da língua e da cultura chinesa.

O Brasil não tem qualquer restrição à instalação de Institutos Confúcio em seu território e atualmente contamos com doze Institutos em Universidades brasileiros: Universidade Federal Fluminense(UFF), Universidade Estadual Paulista (UNESP), Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), Universidade de Brasília (UNB), Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Universidade de Pernambuco (UPE), Universidade Federal do Ceará (UFC), Universidade do Estado do Pará (UEPA), Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP), Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RIO) e Universidade Federal de Goiás (UFG).

O programa e o plano de funcionamento do Instituto Confúcio na Bahia, pelo acordo assinado entre a UFBA e a Universidade de Shangai, uma das principais da China, realizará o ensino da língua chinesa, com formulação de recursos didáticos; garantirá a formação de professores de língua chinesa com professores indicados pela sede do IC na China; realizará exames de língua chinesa e exames de certificação de professores de chinês com a coordenação também do pessoal indicado pelo IC na China. Mas também promoverá a informação e consulta sobre educação e cultura chinesa; atividades de intercâmbio linguístico e cultural, debates, seminários e cursos de formação sobre a cultura e história chinesas, assim como encontros e formações sobre relações internacionais e política internacional em parceria com nosso grupo de pesquisa de Relações internacionais. Nesse interim, realizará debates sobre temas contemporâneos de Ciência, Política, Cultura e História no mundo, abertos ao público em geral, exposições de arte e apresentações artísticas chinesas e brasileiras, cada vez mais de forma conjunta, e seminários acadêmicos em áreas científicas e culturais visando a aproximação entre professores, estudantes e pesquisadores das duas universidades, especialmente no campo das Relações Internacionais e Relações bilaterais Brasil-China, História, Literatura e Ciência Política, estudos culturais e históricos da Bahia, Meio ambiente e Sustentabilidade, estudos linguísticos e de tradução Português-Mandarim, Engenharia, Cinema e Audiovisual e Educação

Dentre os 13 institutos que existem no Brasil, apenas três deles têm e a UFBA terá um Centro de Pesquisas China-América Latina para tratar e desenvolver as temáticas acima, promover intercâmbio de estudantes e professores entre as duas universidades e pesquisas conjuntas com pesquisadores das duas instituições. O IC na UFBA inovará ao estimular uma troca cultural e a promoção de artistas entre os dois países, apoiando a economia da cultura e projetos artísticos conjuntos de caráter amplo, para serem apresentados às populações do Brasil e da China.

Entendemos que uma boa parceria no campo da pesquisa e da extensão pode ser com o investimento conjunto das duas universidades nessas atividades, tanto de promoção de pesquisas e extensão com editais para apoio a projetos, como busca de recursos para a concretização de debates, seminários, apresentações artísticas, grupos de pesquisa.

O Instituto é dirigido por uma professora indicada pelo Reitor da UFBA, a professora Elsa Kraychete, da pós-graduação em Relações Internacionais de nossa Universidade, e pelo professor Kun Zhang da Universidade de Shangai, sendo o órgão no Brasil autorizado pelo governo da China a aplicar os exames de proficiência de língua chinesa (HSK, HSKK e YCT). O Instituto Confúcio da UFBA funcionará no Centro de Estudos Afro-Orientais (CEAO), que funciona no Largo 2 de Julho, em Salvador, fortalecendo esse campo de atuação de nosso órgão complementar que agora conta com uma nova direção dos professores Jamile Borges e André Luís dos Santos, diretora e vice-diretor respectivamente.

Dias 11 e 12 de setembro realizaremos a inauguração formal do Instituto com atividades na UFBA que contarão com a presença da direção de outros dez Institutos Confúcio do Brasil e certamente diferentes áreas do conhecimento se beneficiarão e participarão dessa iniciativa, como engenharias e cinema e audiovisual, Letras e Relações Internacionais, Educação e Biotecnologia, Medicina e Artes, todas áreas muito fortes em nossa Universidade e na Shangai University para aproximarmos os grupos de pesquisa, professores, técnicos e alunos interessados em cooperar academicamente com a Universidade parceira. Faremos convites às universidades baianas, ao governo da Bahia e às prefeituras a participar desse momento de inauguração do IC, assim como para serem parceiros de nossas atividades.

Classificação Indicativa: Livre

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