BNews Agro
As deficiências nos setores de logística e armazenamento representam obstáculos ao desenvolvimento do agronegócio brasileiro. Isso fica evidente ao comparar o crescimento da capacidade de armazenamento de grãos com o aumento da produção de 2010 a 2023. É oq eu afirma Cristiano Oliveira, head of Research da Rivool Finance.
Segundo o especialista, a capacidade de armazenamento foi reduzida em um terço desde que atingiu 91% em 2010, terminando 2023 com uma capacidade de cerca de 60%. Um percentual muito distante do recomendado pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), que sugere que a capacidade de armazenamento de um país seja 1,2 vezes sua produção agrícola anual.
“Diferente dos Estados Unidos, onde as unidades de armazenamento estão próximas ou fazem parte do complexo agrícola, no Brasil, apenas 15% das fazendas possuem armazéns ou silos, de acordo com dados da CONAB (Companhia Nacional de Abastecimento). Ao mesmo tempo, esse percentual é de cerca de 54% nos Estados Unidos. No Canadá, chega a cerca de 80%. Além disso, no Brasil, a infraestrutura de armazenamento de grãos consiste principalmente em unidades específicas para armazenamento a granel (silos), que representam 78% da capacidade total. Os outros 22% são compostos por armazéns convencionais, que utilizam sacos e fardos para armazenar o produto, apresentando desvantagens na conservação e nas operações de carga e descarga dos grãos em relação ao sistema de silos”, salienta Oliveira.
De acordo com o head, essa característica se torna clara ao analisar os dados que mostram que o maior déficit de armazenamento de grãos no Brasil está concentrado na região Centro-Oeste, responsável pela maior produção de grãos do país. Isso ocorre principalmente no Mato Grosso, que, apesar de possuir a maior capacidade de armazenamento de grãos entre os estados brasileiros - cerca de 38 milhões de toneladas - sua capacidade não atinge nem metade de sua produção de grãos.
“O déficit de armazenamento expõe os produtores de grãos brasileiros não só da região Centro-Oeste, mas de todo o Brasil, a perdas econômicas significativas, pois precisam vender grande parte de sua produção durante o período da colheita, o que implica em assumir custos de frete mais elevados (significativamente maiores durante a colheita) e receber preços abaixo do valor internacional para seus produtos ao utilizar como referência o valor da Bolsa de Chicago”, esclarece.
Oliveira também ressalta que, com safras recordes em 2024 e o alto déficit de armazenamento de grãos, os preços de exportação de soja e milho estão em níveis negativos em relação ao mercado internacional.
“A primeira estimativa para a safra de grãos na temporada 2024/2025, realizada pela CONAB, aponta para uma produção de 322,47 milhões de toneladas. O volume representa um crescimento de 8,3% ao obtido em 2023/24, ou seja, 24,62 milhões de toneladas a serem colhidas a mais que no ciclo anterior. Com a perspectiva de aumento da produção, a baixa nos preços tende a ser uma constante nos próximos anos, caso não sejam feitos novos investimentos no setor de armazenamento. Um estudo realizado pela Câmara Setorial de Equipamentos para Armazenagem de Grãos (CSEAG) da Abimaq indica que seriam necessários cerca de R$ 10 bilhões por ano, durante dez anos, para que o déficit de armazenamento fosse zerado até 2030”, destaca.
Para ele, no entanto, os dados mais recentes indicam que os investimentos estão muito aquém da capacidade de armazenamento necessária para o crescimento da produção. “O principal programa de crédito (público) para esse fim, o Programa para Construção e Ampliação de Armazéns (PCA) do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), disponibilizou em 2022 apenas R$ 4,12 bilhões. O programa oferece crédito de até R$ 50 milhões a ser pago em 12 anos, com carência de até dois anos, e com taxas de juros entre 7% e 8,5% ao ano, dependendo do tamanho da unidade de armazenamento. Recentemente, o Banco do Brasil e o Novo Banco de Desenvolvimento (NBD) anunciaram R$ 1,5 bilhão em crédito para a construção de armazéns”, fala.
Ainda assim, a média histórica indica que cerca de 70% do volume de crédito público disponibilizado é contratado. As razões para a demanda reduzida são o excesso de garantias exigidas, a alta burocracia, o baixo interesse do mercado por esse tipo de projeto e a falta de percepção sobre o “déficit” de armazenamento e seus custos.
Segundo Tadeu Vino, superintendente comercial e de marketing da Kepler Weber, empresa brasileira voltada para serviços de pós-colheita, os lucros dos produtores podem ser aumentados em cerca de 15% com novas instalações de armazenamento, permitindo que o valor investido seja recuperado em cinco ou seis anos. “Quando bem mantida, com manutenção preventiva, uma unidade de armazenamento pode durar mais de 30 anos. Um estudo da Câmara Temática de Infraestrutura e Logística (CTLOG) indica que a Taxa Interna de Retorno (TIR) de um investimento desse tipo seria de 6% ao ano e que a taxa média de ocupação para tornar o negócio economicamente viável seria de 62%”, explica Vino.
E completa: “Portanto, acumula-se anualmente um déficit de investimento em armazenamento de pelo menos R$ 5 bilhões em crédito, enquanto o setor tem prejuízos de R$ 20 bilhões. Há um potencial de retorno para produtores e empresários que investirem nesse setor, em particular no armazenamento a granel (silos), assim como um grande potencial para a expansão do crédito privado para esse fim. Com fontes de crédito menos burocratizadas e atreladas aos resultados dos empreendimentos, todas as partes envolvidas terão parte dos ganhos que o setor de exportação de commodities brasileiro proporcionará nas próximas décadas”.
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