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Filhotes gêmeos de anta são registrados pela primeira vez na natureza no Brasil

Gabriel Marchi
Espécie tem o corpo preparado para gerar apenas um filhote e está ameaçada  |   Bnews - Divulgação Gabriel Marchi

Publicado em 27/04/2021, às 12h08   Redação BNews


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O registro raro de filhotes gêmeos de anta (Tapirus terrestris), animais ameaçados de extinção, foi registado na Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Trápaga, no município de São Miguel Arcanjo, em São Paulo. O acontecimento e a identificação foram feitos por cinco pesquisadores do Programa Grandes Mamíferos da Serra do Mar. 

Segundo os especialistas, a descoberta é uma dose dupla de esperança para a espécie que está ameaçada de extinção na Mata Atlântica, já que, além de ser um fenômeno da natureza que pode ampliar o conhecimento sobre o animal, tem potencial para fortalecer a conservação por meio da sensibilização e encantamento pela espécie. 

Os pesquisadores tiveram acesso ao vídeo de antas gêmeas, feito por um equipamento fotográfico instalado na reserva, em dezembro do ano passado. Em janeiro deste ano, houve a confirmação, depois de outros registros em imagem e observação direta, ou seja, vendo os animais presencialmente. 

Para bater o martelo no que seria o primeiro registro desse tipo na natureza, Mariana Landis, pesquisadora do Instituto Manacá, associado ao Programa Grandes Mamíferos da Serra do Mar, conta que outros pesquisadores foram envolvidos. 

“Além da nossa equipe, a pesquisadora Patrícia Médici teve um papel fundamental na confirmação dessa descoberta e sua raridade, nos ajudando também com a busca por relatos de antas gêmeas no mundo. Como desconfiávamos, não tinha nenhum caso similar documentado. Ficamos surpresos”, disse.

Embora as antas da espécie Tapirus terrestris sejam os maiores mamíferos terrestres da fauna silvestre da América Latina, as fêmeas só geram um filhote por gestação, que nasce com cerca de seis quilos, após 13 meses. A surpresa pela gestação de gêmeos é por se tratar de uma espécie que, evolutivamente, tem o corpo preparado para gerar apenas um filhote. A animação é porque os filhotes já têm cerca de um ano e meio.

Na Mata Atlântica, bioma onde ocorreu o registro, é um grande desafio um filhote de anta resistir diante do ciclo da própria natureza, mas também por ser um bioma muito ameaçado pela atividade humana, onde, além do desmatamento, as antas enfrentam ameaças como a caça, atropelamento, perseguições de cães domésticos, entre outras.  

“No Brasil, existem dois registros de filhotes gêmeos de antas nascidos em cativeiro. Nestes locais, esses animais têm o suporte de profissionais para garantir o sucesso do nascimento e desenvolvimento dos filhotes. Ainda assim é desafiador, demanda cuidado especial para sobreviver. Na natureza, essa mãe e os filhotes estão sozinhos, e os fatores que podem garantir a sobrevivência envolvem, além da saúde da mãe para gerá-los e nutri-los, sua dedicação intensa para protegê-los e uma floresta saudável que, no caso da Mata Atlântica, é cada vez mais difícil”, explicou Mariana. 

A pesquisadora disse que seriam precisos estudos para afirmar ou associar o fenômeno a algum fator específico, mas chama atenção que a descoberta pode guardar informações importantes sobre a espécie. “Esses registros podem ser eventos aleatórios, mas também podem representar mudanças significativas na compreensão que temos da espécie. Pretendemos continuar monitorando estes animais em busca de mais informações”, informa Mariana. 

A observação de antas, assim como a descoberta dos gêmeos, pode ser uma linha de ação voltada à mitigação de conflito humano-fauna e redução de ameaças, segundo o Analista de Conservação do WWF-Brasil, Felipe Feliciani. “Há diversos casos de sucesso de turismo de observação como meio para minimizar os conflitos humano-fauna, incluindo no Brasil. Os conflitos, geralmente, têm origem em prejuízos econômicos que os animais silvestres geram para produtores rurais – por invasão a plantações e predação de animais de criação. Mas, com um bom manejo e ainda com retorno econômico, o cenário pode ser outro. Se há pessoas indo ver antas, gera renda para região, captação e divulgação de imagens da espécie, mais pessoas abraçando a conservação. Uma descoberta, associada a uma espécie envolvida em diversos conflitos, é uma boa dose de esperança”, explicou.

O programa é realizado pelo Instituto de Pesquisas Cananéia (IPeC) e Instituto Manacá, com apoio da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, WWF-Brasil e banco ABN AMRO, e conta com a parceria da Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental (SPVS), a Fundação Florestal, o Legado das Águas – Reserva Votorantim, Fazenda Elguero, o Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Conservação da Universidade Federal do Paraná (PPG ECO – UFPR),  Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Ekoa Park, Parque do Zizo e Salve Floresta.

Classificação Indicativa: Livre

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