BNews Pet
Publicado em 10/04/2023, às 05h00 Mariana De Siervi
O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é uma síndrome que pode afetar no desenvolvimento comportamental, responsável por déficits na comunicação e também na interação social. Algumas situações podem acontecer com essas pessoas, como dificuldade de lidar com lugares cheios e barulhentos, dificuldades de manter diálogos com outros indivíduos e entre outras habilidades sociais.
Especialisas ouvidos pelo BNews PET, o psicólogo Antônio Otávio Júnior e a zootecnista especialista em comportamento animal, Carolina Ferreira, explicaram que algumas dificuldades enfrentadas por pessoas autistas podem ser amenizadas com uma grande ajuda: a companhia de um cachorro de suporte emocional.
CÃO DE SUPORTE EMOCIONAL
O psicólogo avaliou que nem todas pessoas autistas precisam de um pet de companhia, os casos devem ser avaliados individulamente por profissional especialista. “É preciso compreender que o TEA abrange uma ampla gama de sintomas e comportamentos, envolvendo desde dificuldades sociais e de comunicação até comportamentos repetitivos e restritivos, portanto, é necessário avaliar o grau de suporte que a pessoa autista precisa para se manter funcional e independente em vida social, avaliar como os sintomas do TEA se manifestam e que estratégias essa pessoa usa para auto regulação emocional”, disse
Antônio ainda destacou que nem todo mundo se sente confortável em ter um animal de estimação, ou seja, é necessário respeitar a individualidade das pessoas. “Além disso, é preciso respeitar as necessidades e preferências de cada indivíduo. Há crianças que se beneficiam muito da simples presença de um cão em casa ao passo que outras entram em pânico só de ver o animal do outro lado da rua”.
Além disso, o psicólogo alertou que apesar de ser uma excelente alternativa, o cão de suporte emocional não pode ser levado como única solução terapêutica, e adotar e cuidar de um cachorro requer muita responsabilidade e cuidados com o animal, por isso, precisa se pensar muito na possibilidade de ter um animal de estimação.
“Um cão treinado para oferecer um conforto emocional pode ajudar algumas pessoas autistas a se sentirem mais calmas e seguras quando em público ou frente a situações sociais que para ela podem ser desafiadoras, mas é preciso ter em mente que o cão não deve ser pensado como a única solução terapêutica para as questões emocionais e comportamentais envolvidas. Adotar um cão é um ato de responsabilidade e irá requerer dedicação e cuidado adequado ao animal”, alertou.
Apesar de estudos que apontam melhorias na saúde e bem-estar de pessoas autistas que adotaram um cão de suporte emocional, ainda não é um campo tão explorado, fazendo-se necessário mais pesquisas sobre o assunto.
“É importante notar que esses estudos são limitados em número e escopo, e mais pesquisas são necessárias para confirmar esses achados e entender melhor como os cães podem ajudar as pessoas autistas”, disse o psicólogo.
TREINAMENTOS e RAÇAS
Oficialmente, esses animais são chamados de Animais de Assistência Emocional (ESAN). Podem ser cães, gatos e cavalos que proporcionam conforto e auxiliam no controle de doenças psiquiátricas de seus tutores, como depressão e ansiedade. Os bichinhos só podem ser considerados como ESAN por um médico psiquiatra.
A especialista em comportamento animal, Carolina Ferreira, explicou o treinamento desses cachorros para serem suporte emocional de pessoas autistas. “Podemos prepará-los, através de treinamento, para serem cães de suporte emocional para autistas e para qualquer pessoa que requeira, como pessoas com depressão, internadas em hospitais, etc”, comentou.
A zootecnista contou que testes podem ser feitos em filhotes antes mesmos da aquisição deles, para ajudar na escolha do cachorro ideal. De acordo com Carolina, estes testes conseguem estimar a aptidão ou não do filhote para este fim. Ela ainda detalhou como é feito o teste.
“O teste de Volhard nos ajuda a identificar temperamento, treinabilidade, como reage a novas situações, independência, interação com humanos, etc. Todos estes requisitos são habilidades importantes para um cão de suporte emocional”, disse.
Sobre as raças que são mais apropriadas, a mais indicada é a Golden Retriever, por sua personalidade. Mas outras raças de porte pequeno e pets sem raça definida (SRD) podem ser verdadeiros aliados dessas pessoas que precisam de suporte.
“Os Golden Retriever são muito usados por serem dóceis, apreciarem a interação humana e por serem resistentes. Mas isto também depende de cada indivíduo e é mais importante a avaliação individual para se determinar a aptidão. Tem muitos casos de SRD muito amáveis na função, e cachorros de pequeno porte que gostam de aconchegar-se entre as cobertas.”, disse Carolina.
QUESTÕES JURÍDICAS
Mas o que é preciso para que pessoas autistas consigam ter autorização para que seus cachorros de apoio emocional os acompanhem em lugares públicos e em viagens?
“No Brasil, a lei que regulamenta o uso de animais de assistência é a Lei nº 11.126/2005, que garante a pessoas com deficiência visual, auditiva, física e mental o direito de ingressar e permanecer com seus animais de assistência em locais públicos e privados de uso coletivo”, explicou Antônio.
E, para isso, é necessário que as pessoas tenham um laudo médico ou declaração de profissional habilitado, como psicólogo ou psiquiatra. Além disso, é importante o treinamento e algum tipo de identificação desses animais, para melhor compreensão de todos.
“É importante que o animal passe por um treinamento específico para ser um animal de assistência e que esteja adequadamente identificado com o uso de coletes ou plaquinhas que indiquem sua função”, acrescentou.
Os especialialistas também destacaram a necessidade das pessoas seguirem regras em lugares públicos, além das normas de higiene e segurança.
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