Brasil

Palco de 21 mortes no Pará, presídio tinha preso armado com fuzil e explosivos

Folhapress
Tentativa de fuga na terça teve troca de tiros em um presídio na Grande Belém  |   Bnews - Divulgação Folhapress

Publicado em 12/04/2018, às 08h39   Folhapress


FacebookTwitterWhatsApp

A tentativa de fuga em massa em um presídio na Grande Belém, no Pará, e que terminou com 21 pessoas mortas na tarde desta terça -feira (10), contou com presos armados com fuzis e explosivos.

Segundo a Folha apurou com fontes da segurança pública do estado, o plano vinha sendo organizado pelos presos havia pelo menos dois meses, mas nada havia sido percebido pelas equipes do presídio. Até por isso, os policiais militares que agiram no enfrentamento eram apenas da vigilância das muralhas.

A ação começou quando explosões romperam as paredes de duas alas do complexo, em Santa Izabel do Pará. Presos armados também com pistolas, revólveres e facas fizeram seis agentes reféns, atravessaram o muro, cortaram cercas de arame com alicates e iniciaram a fuga. Eles, porém, foram atacados a bala por policiais posicionados nas guaritas.

Dos mortos na troca de tiros, foram 15 presos, 5 criminosos que os aguardavam para resgatá-los e um agente prisional refém —outros quatros agentes ficaram feridos, um em estado grave.

A Polícia Civil diz que ainda investiga o caso, assim como também apura as circunstâncias das mortes de presos e criminosos externos e se a entrada de armas e de explosivos contou com a ajuda de funcionários do complexo.

Ainda na manhã e tarde desta quarta (11), os funcionários no complexo prisional ainda tentavam contar os presos e confirmar se houve ou não fuga. Essa incerteza contaminou uma multidão de parentes de presos que se desesperavam, em gritos e choros, nos portões do presídio.

Um dos mais emocionados era Natanael da Silva de Souza, 47, que jurava ter visto o filho morto em um dos vídeos que circulavam em grupos de WhatsApp de familiares de detentos do complexo. “Eu só quero uma resposta. Se está vivo ou morto mesmo.”

“Eu não acredito nessa lista [de mortos]”, disse Patrícia Dias da Silva, 35. “Ele não está nela, mas eu não sei onde meu marido está”, afirma ela, esposa de outro detento.

O estado do Pará passa por crise de segurança pública. Nesta semana, em um intervalo de apenas cinco horas, 12 pessoas foram assassinadas na Grande Belém.

 complexo penitenciário é dominado pela facção criminosa Comando Vermelho. O local tem capacidade para 432 detentos, mas abriga 660, em condições definidas como “péssimas”, segundo o CNJ (Conselho Nacional de Justiça), que divulgou um relatório em fevereiro deste ano dizendo que as fugas em massa eram recorrentes, apontando uma série de fragilidades e cobrando providências.

O órgão solicitava a construção urgente de uma muralha para isolamento da unidade e pedia uma solução para a “profunda superlotação”. A muralha pedida pelo CNJ era justamente para evitar “a facilidade do resgate realizado com apoio externo”, situação classificada como “alarmante, insustentável e recorrente”, de acordo com os termos utilizados no relatório.

O conselho também dizia que objetos ilícitos, como armas, eram constantemente arremessados para dentro da prisão —situação que a muralha poderia dificultar.

A superlotação de presídios em um problema de todos os estados do país. No Pará, por exemplo, há 16.108 presos para apenas 8.630 vagas. Segundo o governo paraense, nos últimos 3 anos, cerca de 2.000 novas vagas foram criadas.

O país teve no início de 2017 uma matança em diferentes presídios. Na época, massacres e confrontos em série deixaram pelo menos 126 detentos mortos em prisões do Amazonas, Roraima e Rio Grande do Norte. Um ano depois, como mostrou reportagem da Folha, as realidades nesses estados seguiam longe de resolver seus principais problemas carcerários, como sistemas penitenciários superlotados, facções criminosas, infraestrutura precária, fugas e mortes.

O Brasil ultrapassou a Rússia em 2015 e abrigava a terceira maior população prisional do mundo, segundo dados divulgados no final do ano passado pelo Ministério da Justiça.Eram 699 mil brasileiros presos naquele ano, contra 646 mil russos. Só perdemos para os Estados Unidos (2,1 milhões) e a China (1,6 milhão).

TEMER
O presidente Michel Temer manteve silêncio público e não se pronunciou oficialmente até agora sobre a onda de assassinatos em Belém. 

A demora não se verificou, por exemplo, no ataque terrorista a uma boate em Orlando, em 2016, e na morte do ex-presidente português Mário Soares, em 2017. Ele lamentou no mesmo dia os episódios.

Na noite de terça, o Palácio do Planalto informou que o Ministério de Segurança Pública é quem estava acompanhando o caso. Procurado pela Folha, o ministro Raul Jungmann não quis comentar o ocorrido.

Nesta quarta, o ministro se reuniu com o presidente, no Palácio do Planalto, para discutir a onda de violência em Belém, mas não houve pronunciamento.

Não é a primeira vez que Temer demora para lamentar um massacre em presídio no país. 

Sob pressão da opinião pública, ele levou três dias para se pronunciar sobre a morte de 56 pessoas, no início do ano passado, em uma penitenciária no Amazonas. 

Na época, ele chamou as mortes de um "acidente pavoroso" e se solidarizou com as famílias dos presos assassinados.  A utilização da palavra "acidente" para a chacina foi criticada.

Classificação Indicativa: Livre

FacebookTwitterWhatsApp