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“As camadas de dor são tantas, e muitas ainda estão escondidas sobre toneladas de lama”, desabafa Mariana Ferrão sobre Brumadinho

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A postagem teve mais de 315 mil visualizações e cerca de 4100 comentários  |   Bnews - Divulgação Reprodução/Redes sociais

Publicado em 03/02/2019, às 16h05   Márcia Guimarães



A jornalista Mariana Ferrão publicou em sua conta no Instagram um relato emocionante sobre os dias em que passou cobrindo a tragédia em Brumadinho (MG). A postagem teve mais de 315 mil visualizações e cerca de 4100 comentários.

Mariana trabalhou intensamente por uma semana na região e, além de acompanhar o trabalho dos bombeiros e voluntários, entrevistou dezenas de sobreviventes e familiares dos mortos. Antes de voltar para casa, ela publicou um vídeo com partes dos momentos que viveu durante os dias em que esteve em Brumadinho e uma legenda onde transformou a tristeza em poesia.

“Avião. Voltando pra casa. Vim para Belo Horizonte no dia 25/01 para dar uma palestra. Quando entrei naquele avião, recebi uma mensagem sobre o rompimento da barragem. Começamos nosso evento com um minuto de silêncio em homenagem às vítimas, sem ter a menor noção da dimensão da tragédia. Depois de uma semana, me arrisco a dizer que ainda não temos. As camadas de dor são tantas e, muitas ainda estão escondidas sobre toneladas de lama. No sábado, havia uma angústia esperançosa no ar: centenas de pessoas achavam que iam encontrar seus parentes e amigos vivos. No céu a lua começava a minguar. E foi minguando, assim como a esperança de cada um, a cada dia. Os olhares atentos a qualquer movimentação foram dando lugar às pálpebras quase fechadas mirando o chão. Gente querendo desviar da própria dor. Mas a dor veio em enxurrada, em avalanche. A lama em lava de vulcão queimando sonhos, destruindo famílias inteiras. O que dizer numa hora desta? Dei abraços, troquei olhares. Gravei entrevistas. E outras não tive coragem de gravar porque, pra mim, naquele sofrimento, não cabia câmera. Só registro no coração”, contou Mariana.

A jornalista global ainda destacou algumas histórias que a impactaram: “Ontem conheci o seu Edson. Engenheiro geólogo que trabalhou muito tempo na Vale: “o que eu construí em 30 anos com a ajuda da empresa, a própria empresa me tirou em um segundo.” O Edson estava com roupa emprestada. A única coisa que sobrou da casa em que ele morava foram 11 corpos entre os escombros. Um era o da esposa. Ela avisou o jardineiro, que conseguiu fugir junto com a cozinheira, mas a esposa do Edson voltou para pegar o cachorro. Seu corpo foi encontrado com o cão nos braços. “História. Foi tudo que restou.”, ele me disse. E eu disse pra muita gente que um jeito de não deixar ninguém morrer é carregar pra sempre estas histórias no coração. A do Leo também vai comigo. A esposa dele, Daiana, voltou de licença maternidade no dia do rompimento da barragem. Na hora do almoço fez uma ligação de vídeo para o filhinho de 4 meses, o Heitor: “espera a mamãe pra te dar banho”. Conheci o Heitor dois dias depois na porta do IML coletando DNA para ajudar na identificação do corpo da mãe. Enquanto conversava com o Leo, caí no choro e uma enfermeira voluntária que também trabalhou no desastre da Samarco, veio me dizer: ‘A tragédia me ensinou que mais importante do que identificar sinais vitais é a gente perceber o quanto está doente quem não sente a dor do outro. Então chora, chora que faz bem’. Ainda vamos chorar muito. Mas o grande esforço é amar mais. Mais e mais. Os que ficaram e os que foram. Porque saudade é alguém que mora dentro da gente. E eu já tô com saudade de um bocado de gente de Brumadinho”, completou.

O relato emocionou milhares de seguidores e fãs de Mariana. “Lindas suas palavras! Dói muito por essas pessoas que perderam tudo inclusive suas famílias. Me coloco todo dia em seus lugares e tento mensurar a dor que estão sentindo. Minhas orações são diariamente por essas famílias! E agora todos nós esperamos que a justiça seja feita e que essas pessoas consigam pelo menos ter de volta à dignidade! Que Deus dê força as famílias pra superarem o ocorrido, pq as vítimas que se foram infelizmente não podem voltar. Muito triste!”, escreveu Amanda Letícia.

O internauta Marcelo Silva comentou: “Cada um com sua dor, com seu suspiro sua lágrima que arde no olho, ardendo até cair e quando cai a desolação vem à tona”. Simara Fernanda aproveitou também para criticar alguns jornalistas. “Parabéns Mari, eu acho estranho as pessoas darem essas notícias na tv e logo depois fazer propaganda de alguma coisa já com um sorriso no rosto, sei que é um mal necessário nesse mundo da imprensa, mas você mostrou tudo com mais humanidade, empatia, que Deus conforte essas pessoas”, analisou Simara.

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