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Bolsonaro minimiza atos contra ele e diz que faltou maconha para manifestantes

Alan Santos/PR
Bnews - Divulgação Alan Santos/PR

Publicado em 31/05/2021, às 20h18   Folhapress


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​Em sua primeira manifestação pública sobre os protestos que reuniram milhares de pessoas contra seu governo no sábado (29), o presidente Jair Bolsonaro minimizou nesta segunda-feira (31) o tamanho dos atos e disse que faltou maconha e dinheiro para os manifestantes.

"Você sabe por que teve pouca gente nessa manifestação da esquerda, agora, no último fim de semana? Porque a PF [Polícia Federal] e a PRF [Polícia Rodoviária Federal] estão apreendendo muita maconha pelo Brasil. Faltou erva para o movimento", disse o presidente aos seus apoiadores.

Como mostra um vídeo publicado na internet por um apoiador, ao conversar com eleitores na porta do Palácio da Alvorada na manhã de segunda-feira, Bolsonaro afirmou que faltou dinheiro também para aqueles que se reuniram em atos nas capitais, com maiores concentrações em São Paulo e no Rio de Janeiro.

Até esta segunda-feira, Bolsonaro não havia se manifestado sobre os protestos. Ao contrário das agitadas agendas dos últimos finais de semana, o presidente se encastelou no Palácio da Alvorada, residência oficial do presidente, em Brasília.

No sábado, dia dos protestos, o presidente fez uma publicação em rede social segurando uma camiseta com a mensagem "imorrível, imbroxável, incomível" -mesmos termos usados recentemente por ele quando atribuiu a Deus a exclusividade de poder tirá-lo do cargo. Nesta segunda, diante dos apoiadores, voltou a usar as mesmas expressões.

De acordo com relatos de aliados de Bolsonaro feitos à reportagem sob condição de anonimato, a estratégia do governo, já iniciada no final de semana, é tentar desqualificar os atos e manter a base bolsonarista radical unida. Para isso trabalham para ressuscitar o antipetismo.

​Dentro desta lógica, os governistas querem generalizar como petistas todos os que foram às ruas protestar contra Bolsonaro.

Aliados do governo também trabalham para distorcer o foco dos atos.

Em vez de reconhecer que as manifestações são pela falta de vacina e em desacordo com a condução do governo no enfrentamento à pandemia, levantam o discurso de que as passeatas tiveram viés eleitoral, em defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Em contrapartida, argumentam que os bolsonaristas que vão às ruas em apoio ao presidente são cristãos e patriotas.
Além disso, aliados do mandatário estão usando imagens de aglomeração nos atos contra ele para se blindar de críticas naqueles favoráveis ao presidente.

Durante evento organizado pela CNI (Confederação Nacional das Indústrias) na tarde desta segunda, o ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho, afirmou que o Brasil vive "um momento político de antecipação".

"Mas antecipação talvez seja importante para que os grandes temas nacionais sejam discutidos com profundidade.

Nós não podemos como país retroceder a uma agenda e a uma pauta corporativas asfixiantes que nos leva para trás e que nos afunda como âncora", disse.

Marinho defendeu a continuidade das reformas e da "modernização do Estado brasileiro".

O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), que também participou do debate promovido pela CNI, avaliou que existe uma polarização política no Brasil e defendeu que ela não interfira na pauta do Congresso Nacional.

"Existe uma polarização política, mas que está num campo da discussão social, num campo da discussão política, e esta polarização não pode entrar no Congresso Nacional neste instante, sob pena de sacrificarmos a apreciação de projetos, de propostas de emenda à Constituição, de iniciativas que a sociedade espera de nós", argumentou.
Pacheco afirmou que os parlamentares devem focar os trabalhos nas reformas, sem contribuir para o aumento da polarização.

"Em 2022 nós teremos uma eleição e cada qual se posicionará, porque somos todos políticos filiados a partidos políticos, teremos as nossas posições futuras, mas nesse momento nós temos que pensar um pouco além, um pouco acima e pensar no bem comum, e não calha nós permitirmos que essa polarização afete a harmonia entre os Poderes."

A recomendação para a utilização de máscaras teve ampla adesão de manifestantes no sábado, mas houve aglomerações em diversos locais, em descumprimento às regras de distanciamento social sugeridas por especialistas para conter a disseminação da Covid-19.

Ao longo do fim de semana, aliados de Bolsonaro inflaram o discurso de polarização e miraram ataques a Lula. O ex-presidente, segundo a última pesquisa Datafolha, aparece com vantagem para a disputa pelo Palácio do Planalto em 2022.

Lula não foi aos protestos de sábado e manteve silêncio, mas em diversas cidades houve declarações de apoio ao petista. Ele readquiriu o direito de disputar a eleição após o STF (Supremo Tribunal Federal) anular condenações da Lava Jato.

Diante de um adversário com elevada rejeição e um cenário difícil inclusive na economia, a estratégia dos petistas é deixar que Bolsonaro se desgaste. A gestão da pandemia da Covid já é alvo de uma CPI no Senado.

Conforme o jornal Folha de S.Paulo publicou, o final de semana fez emergir entre os políticos a avaliação de que a eleição presidencial de 2022 foi antecipada. O mesmo diagnóstico é traçado por bolsonaristas e políticos de esquerda.

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