Coronavírus

"Solidão, dores e preconceito", curados da Covid-19 relatam como enfrentaram a doença

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Veja história de quem enfrentou e se curou do coronavírus na capital baiana   |   Bnews - Divulgação Reprodução/ Agencia Brasil

Publicado em 27/07/2020, às 16h20   Aline Damazio


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“Nunca pensei que iria passar por isso. Eu fiquei 40 dias internada no hospital, destes, 22 dias e incontáveis horas passei entubada. Meu pulmão  ficou 70% comprometido. Recebia alimentos e fazia as necessidades através de sondas. Com três dias no quarto, eu tive crise de loucura”, revelou  a aposentada Ailza Santos, 59 anos, infectada com coronavírus em maio. O relato da aposentada ajuda a construir a história que o rastro da pandemia do coronavírus está deixando nos lares de Salvador e do mundo. 

Ela é um dos 44.187 pacientes que são considerados curados na capital baiana, de acordo com último boletim emitido por secretaria de Saúde Municipal na sexta-feira (24). Seus relatos ficarão registrados como exemplos de sobreviventes de uma guerra contra um novo vírus sem precedes para a história da humanidade.  Contudo, fazer parte dos 2.402.255 infectados no Brasil é um verdadeiro embate diário para não fazer parte de outra estatísticas provocada pela Covid-19, esta mais nefasta, dos mais de 86.591 mortos pelo vírus no país. 

Durante a tragédia mais recente que o mundo enfrenta de vidas perdidas, outras recuperadas, alguns pacientes relataram ao BNews que “estar curado” é bom,  mas o processo de restabelecimento em alguns casos não é tão fácil assim. 

Os positivados com a Covid-19 relatam solidão, dores e o preconceito por terem contraído. 

Os pacientes que contraíram a Covid -19 fazem questão de destacar  que apesar do relato fidedigno, não conseguem refletir a dimensão do quão ruim é ser infectado por coronavírus. Apesar de muitas pessoas ignorem a real situação de cautela e extremo cuidado que o momento da pandemia requer de cada um. 

A aposentada Arilza detalha os momentos de tensão e incertezas das horas internada em um dos hospitais de campanha de Salvador. “Com três dias no quarto, depois de sair da UTI, eu tive uma crise de loucura. Eu liguei para minhas filhas, sem conseguir falar direito e disse que iria fugir, mas eu nem conseguia andar. Eu estava tomando muitos remédios controlados, pois não dormia, por conta das dores, resultado das feridas nas nádegas  provocadas por ficar muito tempo deitada” relembrou a aposentada.

“Foi concedido  permissões para minhas filhas ficarem comigo. No início não reconheci nenhuma das duas. Eu não tinha forças nem para pensar, só tinha medo de não resistir, via outras pessoas não resistindo [ morrendo ]  no leito ao lado, foram dias muito difíceis” relembrou Dona Arilza.

O ex-ministro da Saúde, Luiz Mandetta e o coordenador do Consórcio Nordeste para combate ao coronavírusMiguel Nicolelis, falam em cautela na abertura do comércio em cidades da BahiaEm entrevista recente a um jornal local, autoridades de saúde pedem mais atenção com os múltiplos e crescentes casos de Covid-19 na Bahia. 

“Os dados mostram que não vemos um fim da pandemia. Houve interiorização do vírus na Bahia e em Salvador um crescimento nas últimas duas semanas. Ainda é uma posição bem delicada abrir o comércio nesse momento. E não deveria estar acontecendo na velocidade que está sendo feita no Brasil. Ainda é momento de manter isolamento social, para quebrar a proliferação do vírus”, enfatizou Miguel Nicolelis, coordenador da comissão científica do Consórcio Nordeste para combate ao coronavírus.

Já, o ex-ministro da Saúde Luiz Mandetta alerta para o elevado número de vidas perdidas para coronavírus.“No dia 10 de maio, nós tivemos 10 mil óbitos, depois 20 de julho, 70 dias depois, mais  80 mil mortos. Nós fizemos uma média mil óbitos por dia, por 70 dias consecutivos, um platô muito ruim. As pessoas costuram se brutalizar e dizer que são só mil mortos, mas 1220 mortos são cinco aviões boing caído em nossas cabeças todos os dias e uma vida interessa", enfatizou.

"Depois que passa por esse platô a tendência é cair, mas como existem pessoas suscetíveis podemos ter pequenas epidemias, se vai se configurar uma segunda onda de Covid-19, ainda há muita discussão”, alertou o ex-Ministro.

Na Bahia, onde atualmente é cogitado por especialistas de saúde um platô, ocorre uma estabilização em níveis altos de mortos. Alguns dos dias mais letais no estado foram registrados nos dias 8 e 6 em julho, com 61 óbitos dia. Exceto esses dias citatos, a médica diária é de cinquenta mortes.

Eu com coronavírus?  Como?
“Não sei como peguei esse vírus. Eu não saía de casa. A pandemia começou logo depois que eu fiz uma cirurgia, pois quebrei o tornozelo e estava de repouso. Eu não andava na rua, não pegava ônibus. Sou a prova que o vírus pode ir para dentro de casa e contaminar os parentes que não saem do lar”, relembra  Arilza.

O relato de D. Arilza não destoa de outra paciente positivada com o coronavírus.”Não sei como peguei a Covid-19. Saía pouquíssimo para ir ao mercado. Aí senti dor no corpo, nos olhos, febre, perdi olfato e paladar. Fiz o teste e o vírus estava instalado em meu corpo”, relembra a funcionária de uma clínica, que preferiu anonimato.

Preconceito 
Como se não fosse o suficiente as incertezas trazidas com o vírus, o preconceito de vizinhos, os olhares quando a pessoa positivada para Covid-19 chega a ambientes, a fuga de pessoas próximas e até de enfermeiras, deixaram marcas difíceis de esquecer. “Existe muito preconceito com quem contraiu a Covid-19. Eu senti que logo no início as pessoas ficavam com receio de ficarem perto de mim. Minhas filhas falavam que passaram por isso também, as enfermeiras criavam um bloqueio humano entre elas e as outras  pessoas que chegavam ao hospital, como se elas fossem um instrumento do vírus. Isso é pior que o coronavírus. Ninguém pede para ficar doente, o vírus pode contaminar qualquer um.  Quem pegou a Covid-19 precisa de apoio, não discriminação” diz a agora recuperada, Arilza.

A funcionária de uma clínica que preferiu anonimato reafirma o preconceito com pessoas com a Covid-19. “Tem preconceito com as pessoas com coronavírus, sim. Mas, não adianta pois não se sabe quando e como vamos contrair”, relata em tom de voz baixo. “Eu nem quero me lembrar que tive coronavírus. Agora que estou curada, graças a Deus, ao apoio de minhas e dos médicos.  Não tenho vergonha de dizer que tiver coronavírus. Tenho é orgulho de dizer que venci e seguirei passando uma mensagem de esperança para quem está com essa doença que ninguém sabe o que é direito”, disse.

Confira as mensagens de esperança das pessoas que sobreviveram a guerra contra o coronavírus:

BNews · Arilza, paciente positivada para o coronavírus

BNews · Funcionária De Clínica positivada para coronavírus

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