Coronavírus

Mulher em Campo: Pandemia expõe fragilidades da administração do futebol feminino na Bahia

Divulgação/Felipe Oliveira/ECBahia
Jogadoras do Vitória, Bahia e São Francisco do Conde contam a realidade que tiveram que encarar com a interrupção dos jogos e a incerteza sobre o retorno  |   Bnews - Divulgação Divulgação/Felipe Oliveira/ECBahia

Publicado em 29/07/2020, às 16h21   Yasmim Barreto e Léo Sousa


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Um esporte de coletividade. O futebol, que não mobiliza só atletas, mas toda uma equipe, familiares e torcedores, precisou parar suas atividades, porque o isolamento social virou uma recomendação mundial, em meio a crise do coronavírus. No entanto, quando se trata do futebol feminino, os desafios por causa da pandemia só somaram com outras dezenas de dificuldades enfrentadas pela categoria. 

Na série de reportagens especiais ‘Mulher em Campo’, o BNews entrevistou algumas das protagonistas do assunto e outros especialistas para desenhar o cenário geral do futebol feminino baiano e suas especificidades antes, durante e pós-pandemia. Nesta primeira reportagem, as jogadoras dos times Bahia, Vitória e São Francisco do Conde - únicos clubes baianos que estão competindo pelo Brasileirão - contam a realidade que tiveram que encarar com a interrupção dos jogos e a incerteza sobre o retorno.  

“Por conta da pandemia, a CBF tinha repassado um dinheiro para ser entregue aos times femininos, aí no caso tão decidindo o que vão fazer, mas até então a gente não recebeu nada, inclusive acho que tá devendo gente do ano passado ainda”, relatou uma jogadora do Vitória, que preferiu não se identificar, sobre uma das polêmicas envolvendo o presidente do clube, Paulo Carneiro, e o repasse de verbas da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) aos times femininos.

A CBF disponibilizou R$ 120 mil aos times que participam da Série A1 do Brasileirão feminino, com o objetivo de ajudar com pagamento e manutenção das atletas durante a crise da Covid-19, sendo R$ 50 mil para os clubes da Série A2. Mas, a decisão do presidente do Vitória em redirecionar para o masculino impactou as atletas que, segundo a jogadora, não sentem estímulo para vestir a camisa do clube.  

“Foi uma falta de respeito, uma humilhação, tem atletas que ficaram chateadas e talvez nem queiram vestir a camisa do vitória, representar o clube por conta das coisas que ele fez”, contou.  

Ao BNews, a coordenadora do time feminino, Many Gleise, não respondeu aos questionamentos até o fechamento da matéria. No entanto, nesta terça-feira (28), o Vitória divulgou que teria regularizado o salário das atletas e os treinos devem voltar ainda esta semana.  

Uma das jogadoras disse que o pagamento ainda não foi realizado, mas, que o clube já entrou em contato para efetuá-lo. “Finalmente deram uma posição e resposta pra gente”, completou. Ainda conforme a atleta, os treinos devem acontecer no próximo dia 3.  

Vale salientar que o desvio dos recursos não foi um “privilégio” apenas do rubro-negro. Na Região Metropolitana de Salvador (RMS), o clube de São Francisco do Conde a situação foi parecida. Ao BNews, uma atleta detalhou como a diretoria do clube administrou os R$ 50 mil: “os times da série A1 e A2 receberam verba e aí eles disseram que seriam três parcelas, aí quando chegou na data de receber a terceira, eles disseram que não tinham mais dinheiro”. 

A reportagem não conseguiu contato do São Francisco do Conde para maiores esclarecimentos. 

No tricolor baiano, o cenário é outro e traz uma certa dose de esperança no meio do futebol feminino. Para as jogadoras, é o Bahia que atualmente reflete respeito e perspectiva de mudança.

Desde setembro do ano passado, o Esquadrão, segundo a meio-campista Milena, conseguiu manter os pagamentos do elenco em dia durante a paralisação das competições por conta da pandemia do novo coronavírus.

“As perspectivas pós-pandemia são as melhores. Temos um possível calendário, o que dá uma motivação a mais. Porém, ainda não temos uma data fixa do retorno da competição e muito menos da volta aos treinos”, diz Milena.

Na avaliação da atleta, que também já jogou pelo Vitória, Lusaca e teve uma passagem pelo Boavista, de Portugal, o calendário enxuto é um dos entraves para que o futebol feminino na Bahia se desenvolva.

“O futebol feminino baiano tem uma carência muito grande tanto em verbas pras equipes menores, quanto em calendário. São poucos jogos. Acredito que um ponto importante para o futebol baiano ter uma evolução é estudar uma forma para que exista mais jogos, que as atletas ganhem mais experiência e mais vivência no meio do futebol”, diz a jogadora.

Competições nacionais e o futebol feminino baiano 

Em 2019, 18 times de futebol feminino participaram do Campeonato Baiano. A competição estadual, no entanto, durou apenas um mês, com realização em novembro. O Bahia levou o título, após final contra o Juventude.

Entretanto, vale lembrar que o time de futebol feminino tricolor é recente. Após um ano de parceria com o Lusaca, só em meados de 2019 o Bahia passou a ter uma equipe própria da modalidade. 

À reportagem, o vice-presidente do Bahia, Vitor Ferraz, explicou: “passamos de um modelo de parceria, no ano de 2018, para um modelo de equipe própria, com um maior investimento, neste ano (2019), justamente pra tentar acelerar esse processo de alavancagem interna em relação ao futebol feminino”.

E apesar dos esforços, o dirigente define como “abismo” a diferença da valorização entre o futebol feminino e o masculino. “A gente enxerga ainda uma diferença muito grande de importância, de visibilidade, de investimento”, reconhece.

Classificação Indicativa: Livre

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