Justiça

‘Síndrome de fragilidade’: Laudo de sanidade mental de idoso acusado de matar a mulher em Alphaville é concluído; veja

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Peritos e psiquiátricas concluíram que suspeito não apresenta risco à sociedade e não tinha consciência à época do delito  |   Bnews - Divulgação Reprodução/Internet

Publicado em 23/03/2021, às 10h06   Yasmin Garrido


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Síndrome de fragilidade. Foi esse o principal resultado da conclusão do laudo de sanidade mental do idoso de 82 anos, acusado de matar a mulher no condomínio Alphaville, localizado na Avenida Paralela, em Salvador. A morte, que foi descoberta em 18 de outubro, quando o corpo da vítima foi encontrado no chão da sala por um dos netos, não tem muitas respostas, nem mesmo com sucessivos exames físicos e psiquiátricos realizados no suspeito.

Pai de quatro filhos e avô de seis netos, nem o próprio acusado consegue explicar o porquê é apontado como o principal suspeito de tirar a vida da pessoa que, segundo ele, mais amava. “Ela era meus olhos e meus ouvidos”, disse ele aos médicos, após ser constatada a baixa visão e audição, o que o impedia de dirigir e trabalhar.

O documento de 77 páginas, que o BNews teve acesso na íntegra, foi assinado pelos médicos psiquiatras e peritos Andréa Mascarenhas e Paulo Barreto Guimarães, ambos do Hospital de Custódia e Tratamento da Bahia. Na conclusão consta que o paciente se trata de um “idoso frágil, de baixa complexidade, e com declínio funcional estabelecido”.

Ainda segundo o laudo, “há cerca de seis meses, o periciando vinha apresentando alterações comportamentais acompanhadas por uma flutuação do déficit funcional, além da perda ponderal significativa e inexplicada”. Para se chegar aos resultados, obtidos após cinco meses da data do delito, foram ouvidos médicos dos hospitais e clínicas por onde passou o idoso, além dos filhos e netos do casal.

Lembranças
Aos domingos, o casal tinha o hábito de frequentar a missa matutina na Igreja da Pituba e depois almoçavam no Salvador Shopping. “Como eu não podia mais dirigir, era ela quem me levava para todos os lugares: passeios, consultas, exames. Ela cuidava de minha alimentação e me ajudava com os meus remédios. Gostava quando ia com ela ao mercado comprar coalhada. Ela era tudo para mim”, diz um dos trechos do depoimento do idoso, que, segundo os médicos, foi todo feito com olhos sempre marejados de saudade.

No dia da morte da mulher, o suspeito contou que nada fugiu à rotina. Ele disse que tinha o hábito de ficar acordado até mais tarde, porque gostava de assistir a um programa de TV, enquanto a mulher sentia sono primeiro. “Quando acabava, eu ia dormir. Depois não lembro mais de nada (...) só quando meu neto chegou e viu minha camisa suja de sangue. Por isso eu acho que fui eu”, relatou à perícia.

Ainda de acordo com ele, “se eu fiz, tenho que pagar”. E continuou: “Como fiquei sem ela, não importa mais nada. Depois disso, só basta aguardar a minha morte”. Quando perguntado sobre o motivo que o levou a supostamente ter cometido o crime, ele afirmou não saber o que aconteceu e finalizou dizendo que “há muito tempo não sou eu”, relatando não ter mais disposição para fazer nada, nem mesmo se alimentar.

Laudo
Na oitiva das famílias, os peritos explicaram que os relatos, muitas vezes, “encontram-se gravemente comprometidos pela grande diversidade de sentimentos envolvidos” (...) não sendo raro se prestar “informações distorcidas, quase sempre no sentido de um pré-julgamento”.

Em razão da parcialidade dos depoimentos de familiares, por se tratar de documentação que será anexada à ação penal que julga a culpa ou não atribuída ao idoso pela morte da mulher, os médicos explicaram que as informações prestadas são complementares aos dados apresentados por equipe técnica.

Desta forma, cabe ao avaliador “decidir quem é o informante mais confiável, de quem vem as informações mais seguras e úteis para a história e o trabalho clínico”. Foi sob essa condição que os depoimentos dos quatro filhos do casal foram coletados pela perícia responsável pela conclusão do laudo de sanidade mental do idoso.

Para a conclusão do laudo pericial foram ouvidos médicos que acompanham há anos o paciente acusado de matar a mulher a facadas. Um deles, um psiquiatra que acompanha o suspeito desde 2012, disse que o idoso já exibia sinais de “agravamento da desconfiança, evoluindo para momentos de hostilidade por ficar francamente delirante com a perspectiva de infidelidade da esposa”.

Ainda de acordo com o profissional, o idoso “pode ter desenvolvido um transtorno delirante de ciúmes, independentemente de um diagnóstico de personalidade paranóide anterior”. Ainda segundo relatório médico, “as alterações comportamentais (...) são compatíveis com a vigência de um estado confusional agudo - demência mista, com delirium”. 

No que tange à síndrome de fragilidade, o laudo apresenta que se trata da junção de características observadas no idoso, como fadiga extrema, inapetência, perda de peso involuntária e inexplicada, diminuição de massa muscular e força. O idoso foi diagnosticado com a síndrome, em razão do estado de saúde apresentado durante os cinco meses em que esteve sob observação médica. 

Risco zero
No entanto, após a aplicação de um método de análise de risco, os peritos chegaram à conclusão que o idoso, acusado de matar a facadas a mulher, em outubro do ano passado, “apresenta um risco muito baixo de violência, (...) que, todavia, não é imutável e, por isso, deverá ser reavaliado a cada 6/12 meses e, ainda, sempre que houver qualquer modificação in concreto”.

Por fim, o laudo concluiu que, “à época do fato delituoso, o idoso era incapaz de entender o caráter ilícito do quanto praticado e, do mesmo modo, incapaz de determinar-se de acordo com esse entendimento”.

Classificação Indicativa: Livre

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