Cultura

Consciência Negra: negros vencedores contam suas dificuldades

Imagem Consciência Negra: negros vencedores contam suas dificuldades
Eles reclamam que sofreram racismo   |   Bnews - Divulgação

Publicado em 21/11/2013, às 06h34   Priscila Chammas


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Cada um em seu segmento, eles chegaram no topo. Mas não foi  fácil. Neste dia da Consciência Negra, o Bocão News ouviu negros vencedores, e eles contaram suas dificuldades.

A desembargadora Luislinda Valois, por exemplo, precisou recorrer ao Conselho Nacional de Justiça (CNJ) para conseguir sua nomeação em 2011. "Eu já estava em primeiro lugar na lista de antiguidade, mas apesar de ter solicitado uma audiência, não marcavam a sessão. Procurei o CNJ. Na primeira vez não adiantou, mas insisti de novo e eles marcaram a data", conta a desembargadora, que foi a primeira juíza negra do Brasil. Para ela, o dia de hoje não é para comemorar, mas para refletir. "Em pleno século XXI, a gente ainda passa por situações desagradáveis. As cadeias estão lotadas de negros, os cemitérios também". Enquanto isso, ela lembra, "dos 39 ministérios, apenas um é ocupado por uma pessoa negra (Luiza Bairros, Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial). E mesmo assim é uma secretaria específica para tratar de questões raciais. Será que não tem nenhum negro bom em economia, em outros assuntos?", questiona. 


Antônio Carlos dos Santos, o Vovô do Ilê, também conta quesempre enfrentou muitas dificuldades em seu segmento. "Os patrocinadores não querem associar sua imagem à negritude. Sempre oferecem um valor menor do que os dos blocos de brancos", queixa-se. Para ele, o racismo mudou nos últimos anos, mas não diminuiu. "As formas é que são outras. Não te chamam mais de fedorento e de macaco, mas você chega nos lugares e vê a má vontade", observa. 


O vereador do PSB, Sílvio Humberto, concorda. "É  muito difícil que um negro não tenha passado por situações individuais ou coletivas de racismo, mesmo de forma subliminar, quando o recrutador da empresa diz que você não preenche o perfil", opina. Ele é um dos fundadores e presidente de honra do Instituto Steve Biko, que visa incluir os negros nas universidades. "Eu estudei em colégio particular e fui para a universidade (ele cursou Economia na Ucsal) aos 17 anos. Mas eu olhava para o lado e não via outros estudantes negros", relembra. Segundo ele, nos 21 anos de existência, o instituto, ajudou mais de 3 mil negros a passarem no vestibular. 

Por meio de seu facebook, a vereadora Olívia Santana (PCdoB) se manifestou sobre o fato de, na Bahia, o Dia da Consciência Negra não ser feriado, apesar de o estado ser o mais negro do Brasil. "No Brasil não há nenhum feriado relacionado ao heroísmo de homens e mulheres negros. Nos Estados Unidos tem o Luther King Day, e os negros estadunidenses não pararam de lutar por causa disso. Ao contrário, eles conseguem que todo o país sintonize na data que homenageia o grande líder Luther King, e há mobilizações civis e oficiais. Enquanto não damos a Zumbi dos Palmares a devida reverência como um herói de Estado, vamos continuar contemplando feriados religiosos ou de fatos patrióticos nem sempre vinculados à luta popular", postou. 


A Miss Bahia Priscila Santiago discorda que não haja motivos para comemorar. Feliz com o título, ela se disse orgulhosa. “É um prazer ver a população negra chegar em lugares que há anos atrás não sonharíamos estar. Me orgulho ainda mais que fazer parte dessa conquista, sou negra, de bairro simples e hoje represento minha cidade com leveza e simplicidade".  

Publicada no dia 20 de novembro de 2013, às 10h38

Classificação Indicativa: Livre

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