Cultura

Entenda a presença de comidas com dendê na mesa de famílias baianas durante a sexta-feira santa

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Cozinheiros compartilham experiências sobre a presença do dendê nos pratos típicos do feriado  |   Bnews - Divulgação Reprodução/Youtube

Publicado em 06/04/2023, às 05h40   Natane Ramos


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É tradição nas mesas de muitas famílias baianas consumir alimentos que sejam preparados com dendê e outros ingredientes típicos da culinária local na Sexta-Feira Santa, feriado de origem de religiosa, em referência a crucificação e morte de Jesus Cristo

Em entrevista ao BNews, a cozinheira Ednalva Gonçalves, de 69 anos, que atua na venda de comidas típicas do período, falou sobre como a mistura de povos presentes na Bahia influencia na escolha dos ingredientes consumidos pelas famílias. “O costume do azeite e das comidas vem das origens africanas. Aqui na Bahia principalmente, já que houve uma concentração grande de escravizados oriundos da África”, comentou Ednalva.

Nesse contexto, o professor, historiador, e ex-coordenador do turismo cultural religioso e histórico da Bahia, Rafael Dantas, reforçou sobre como essa tradição é reflexo de uma população multicultural. “Essa explicação está inicialmente relacionada à predominância e a resistência dos costumes ligados à cultura afro, ou afrobaiana, no contexto de Salvador e da Bahia. É perceptível que se manifestaram de uma forma enraizada e presente, não só no que toca a culinária, mas em tudo que toca a cultura geral do povo”, explicou Rafael.

Ednilton Brito, de 40 anos, dono de um negócio familiar que também vende comida baiana, fez questão de compartilhar sua experiência com o prato durante essa época do ano. “Notamos que os clientes se animam mais quando vai chegando a semana santa. Isso deve-se à tradição cristã/católica”, declarou.

Brito, que é filho de uma baiana de acarajé que tem mais de 58 anos de profissão, contou que a empresa é formada por ele, a esposa, sua mãe, que ainda atua na área, seu primo e sogro, enfatizando tratar-se de um trabalho que foi introduzido a sua vida desde a infância. 

Sem deixar de abordar o aumento no valor dos produtos necessários para os alimentos da ceia da Sexta-Feira Santa, Ednilton fez um alerta. "Os produtos tem aumentado significativamente desde a semana passada. Pra você ter uma ideia, o camarão seco defumado que estava de 45 reais kg, hoje está sendo vendido por 68 reais, peixes de primeira tiveram reajuste de até 50%, e sem falar no quiabo que hoje na Ceasa estava sendo comercializado por 180 reais a saca. Quanto mais perto do feriado, mais caro fica”, esbravejou o cozinheiro.

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Vale lembrar, que segundo vendedores dos principais mercados populares da capital baiana, ouvidos pela reportagem do BNews, peixe, camarão e derivados tiveram, de fato, um aumento em relação ao ano anterior. É possível encontrar, por exemplo, arraia e corvina por R$ 20 e pescada e vermelho por R$ 40 e R$ 45, respectivamente.

De acordo com estudo da Fecomércio-BA (Federação filiada à CNC), com base nas informações do IBGE, a inflação dos principais produtos e ingredientes ligados ao evento subiu 12,21% em um ano, quase o dobro da inflação geral da região, de 6,51%.

Por conta disso, a Diretoria de Ações de Proteção e Defesa do Consumidor (Codecon), iniciou a Operação Semana Santa, na última quinta-feira (30). A ação visa pesquisar os preços dos produtos típicos do período além de fiscalizar as grandes feiras livres, mercados e supermercados da cidade em relação ao cumprimento das normas do Código de Defesa do Consumidor (CDC).

Rafael Dantas também comentou sobre a influência etnocultural nos pratos presentes na mesa das famílias baianas. “Quando a gente fala de Salvador, Brasil, a gente destaca que a formação da nossa identidade e de nossa cultura é multicultural, e multiétnica. Esse traço multiétnico está presente também nos alimentos. Como um todo, essa influência da cultura nos alimentos, esse colorido da moqueca baiana, também representa o colorido dessa cultura, dessa diversidade da nossa culinária, que é tão rica, e que representa, justamente, essa diversidade de um povo, que ao longo de todo esse tempo, continuou através da sua culinária e de outras tradições, mantendo viva a suas expressões culturais com muita resistência”, concluiu o historiador.

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