Cultura

Iemanjá: Primeiro encontro com a Rainha da Água e impressões sobre a festa

Paulo M. Azevedo/BNews
Pela primeira vez, a jovem repórter do BNews fez a cobertura de uma das maiores festas religiosas da Bahia  |   Bnews - Divulgação Paulo M. Azevedo/BNews
Milena Ribeiro

por Milena Ribeiro

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Publicado em 02/02/2023, às 18h00


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Não dá para ser indiferente à Festa de Iemanjá. Apesar de ser uma grande manifestação religiosa pública do candomblé na Bahia, o evento abraça a todos, independentemente da sua religião. A energia inigualável que paira no local faz com que qualquer um sinta-se abraçado e queira ficar.

No início da manhã, quando o lado sagrado da festa tem mais destaque, tudo flui mais tranquilamente, apesar da longa fila enfrentada pelos fiéis que pretendem entregar suas oferendas. De longe, dá para ver e até sentir a emoção das pessoas ao oferecerem suas flores à Rainha do Mar.

A festa deste ano parecia ter algo especial, certamente, passeia pela animação dos devotos ao retomarem a tradição interrompida durante dois anos por causa dos protocolos de combate à pandemia da Covid-19.

A primeira experiência no local fez com que eu olhasse com mais atenção a cada detalhe, ouvisse cada história de forma especial e reparasse um dos pontos mais importantes: não há nenhuma figura mais importante do que a Mãe das Águas no local. No lado sagrado da festa, a vaidade é deixada de lado, as personalidades conhecidas viram coadjuvantes. Os populares dão atenção máxima a sua fé. A hierarquia nítida que o evento carrega faz com que a protagonista seja exaltada do início ao fim, sem espaço para distrações.

Com lágrima nos olhos as pessoas faziam seus agradecimentos e fortaleciam seus pedidos durante o momento da oferenda. Dentro da colônia de pescadores, na casa de Iemanjá ou na praia, a energia parecia ser a mesma. Pessoas diferentes com objetivos em comum fizeram com que a festa fluísse na perfeita ordem na parte da manhã.

Outro ponto importante foi a mudança da tonalidade da pele de Iemanjá, que antes era branca e agora é preta. Na terra onde boa parte da população se identifica como negra/parda, a nova imagem, como em outros anos, atraiu uma fila de devotos que parecia não terminar na colônia de pescadores.

Quem quer se conectar com a proposta do festejo, deve viver a experiência de vivenciar o início da festa que, com certeza, não vai se decepcionar. Mas, preciso alertar: a acessibilidade é pouca e os cadeirantes, por exemplo, que decidirem ir ao local precisaram da ajuda de alguém para conseguir fazer suas oferendas.

Apesar de uma entrada exclusiva para prioridade, até que os deficientes cheguem a esse ponto, eles precisarão passar por um longo caminho e muitos desafios. As autoridades baianas parecem que ainda não se comprometeram por completo com a causa e não pensaram em meios que, de fato, facilitem a vida dessas pessoas.

Sobre a energia da festa, a tarde as coisas começam a mudar de ar, e a paz que antes pairava no lugar agora, dá vez a um ambiente mais agitado, aglomerado e perigoso. Em pouco tempo, alguns furtos já começaram a ser denunciados e muitas pessoas que foram ao local com o intuito de se divertirem, voltaram para suas casas chorando a dor de uma perda de algum material. Não era incomum ouvir relatos de devotos se queixando da criminalidade no cortejo.

Ao mesmo tempo que muita gente saía desolada após ter seus pertences levados, outras pessoas pareciam aproveitar para fazer da festa um "esquenta" para o Carnaval.

Os bares começam a lotar, as músicas já não eram mais os sons feitos pelos religiosos, mas sim hits de pagodes baianos. Aqueles que já tinham feito suas oferendas, passaram a ir para o lado profano da festa de Iemanjá. Com certeza, a festa abraça todos os gostos e públicos. Há uma divisão entre os turnos que parece tão exata que deixa todos cientes.

Do sagrado ao profano. O tradicional festejo, que eu levei 25 anos para participar, se mostrou muito fácil de se fazer entender. A energia, a fé, a festa, a empolgação, a devoção. Cada coisa no seu lugar habitando o mesmo espaço faz com que quem decide comparecer ao local queira ir sempre mais vezes.

Classificação Indicativa: Livre

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