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“Romantização da tortura”, diz babalorixá sobre imagens de escravos vendidas em aeroporto

Imagem “Romantização da tortura”, diz babalorixá sobre imagens de escravos vendidas em aeroporto
Em entrevista ao BNews Agora, o babalorixá David Dias, criticou a venda desse tipo de obra, principalmente numa cidade majoritariamente negra  |   Bnews - Divulgação

Publicado em 08/02/2022, às 20h01   Redação


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Em entrevista ao programa BNews Agora, o babalorixá de umbanda e mestrando em ciência da religião, David Dias, afirmou que as obras vendidas em uma loja no Aeroporto de Salvador, representando escravos, era uma romantização da tortura: “quando a gente “tá” em uma loja que vende suvenires, onde está escrito escravos à 99 reais, isso nos remete diretamente a venda e a comercialização das pessoas, numa qualidade de escravos, que foi colocado à morte. Não só um povo, mas toda uma ancestralidade. Então é a romantização da escravidão, romantização do apagamento, a romantização da tortura hoje na nossa sociedade”, afirmou David.

Na ocasião, o jornalista Rafael Albuquerque, apresentador do BNews Agora, chegou a questionar o babalorixá sobre o pedido de desculpas da loja, onde eles afirmam que a escultura é uma representação do Preto Velho- uma entidade das religiões de matrizes africanas. Para David, isso nada mais é do que uma tentativa de reduzir a ancestralidade negra: “Não é uma exclusão ou informação equivocada sobre o arquétipo da umbanda, como diz o comentário da empresa, é o apagamento da memória e da existência da negra reduzida a escravidão”.

Para finalizar, o babalorixá chegou a comentar que tal situação é a reprodução de um crime: “a venda da imagem é um sintoma da sociedade ao qual estamos inseridos. Não se trata somente da romantização da escravidão, mas também da normatização da ideia de que o maior genocídio da história agora pode ser representado por “arte” e vendido em loja de grife, em salvador.

Confira a nota completa da Hangard das Artes:


"A loja Hangar das Artes vem a público se retratar e esclarecer os fatos ocorridos na manhã de hoje (07/02/2022).

Trata-se de uma empresa que emprega inúmeras pessoas, atuante no mercado de artesanato e obras de arte há mais de 20 anos, comercializando e divulgando a confecção de obras de diversos artistas regionais, sempre incentivando a produção daquele pequeno artesão cujo seu sustento depende exclusivamente de sua arte.

Todas as obras que exibimos são voltadas para a exaltação da cultura e história baiana e brasileira. Nossa loja está localizada no Aeroporto de Salvador e sempre exaltou as diversas culturas, com ênfase na cultura africana, já que temos orgulho de demarcar que somos, provavelmente, a cidade mais negra fora de África. Sempre com muito respeito e admiração.

As imagens que estão circulando, de algumas de nossas esculturas, tratam-se da imagem do Preto(a) Velho(a) - espíritos que se apresentam sob o arquétipo de velhos africanos que viveram nas senzalas, majoritariamente como escravos, entidades essas que trabalham com a caridade e cuidam de todas as pessoas que os procuram para melhorar a saúde, abrir caminhos e ter proteção no dia a dia. Por isso, algumas das peças possuem correntes, na tentativa (ERRÔNEA) de retratar a história dessa entidade de maneira literal. Erramos na forma em que as peças foram expostas e em descrevê-los apenas como escravos, apagando, de certa forma, a história que carrega.


Pedimos nossas mais sinceras desculpas a todos que se sentiram feridos e menosprezados pela maneira como conduzimos às coisas. Nossa intenção JAMAIS foi menosprezar, ferir ou destituir da imagem de uma entidade tão importante e a potência de sua história. Nossas correntes foram quebradas! E não queremos de maneira alguma trazer de volta memórias desse passado tenebroso e vergonhoso.

Por isso, retiramos todas as peças de circulação afim de minimamente nos retratar diante do ocorrido. Sabemos que não se apaga o que foi feito, mas reconhecemos a nossa falha e não tornaremos a repeti-la, não só pela repercussão que houve e sim por não condizer com a nossa verdade.

Nossas sinceras desculpas pelo ocorrido."

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