Política

PT da Bahia repudia comercialização de peças de negros acorrentados no aeroporto de Salvador

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Loja afirma que retirou todas as peças da comercialização  |   Bnews - Divulgação Reprodução/Instagram @paulao_rj

Publicado em 08/02/2022, às 19h43   Redação BNews


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A Secretaria de Combate ao Racismo do PT-Bahia repudiou a comercialização de peças de cerâmicas de negras e negros escravizados na loja Handar das Artes, que fica no aeroporto de Salvador. Em nota, o partido refutou a confecção e venda de produtos que retratam a escravidão sob a justificativa “de retratar a história do País”. 

“Essas peças só deixam nítido como o racismo está enraizado e naturalizado na sociedade brasileira, especialmente a baiana e a soteropolitana, pois a dona do estabelecimento nem reconhece o fato como um ato racista. Não superamos a mentalidade escravocrata e ainda há muito chão pela frente para descontruir o racismo nas estruturas sociais, algo que tem sido reforçado em tempos de fascismo e de aumento do ódio em relação ao diferente. Não vamos calar”, declarou Ademário Costa, secretário de Combate ao Racismo do PT/Ba.

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Após a repercussão, a loja Hangard das Artes divulgou uma nota de retratação em que que justifica a venda da cerâmica. No texto, o estabelecimento ainda pede desculpas e afirma que retirou todas as peças de circulação. [veja nota na íntegra no final da matéria]

A secretaria também repudiou outros ataques racistas acontecidos já nas primeiras semanas de fevereiro deste ano, como o assassinato do congolês Moïse Kabamgabe, espancado cruelmente até a morte por vários homens, depois de cobrar o pagamento pelos dias trabalhados no quiosque onde era atendente, na Praia da Barra, no Rio de Janeiro; as ofensas racistas sofridas pelo atacante Gabriel Barbosa, do Flamengo, reiterando o racismo presente no futebol brasileiro; e a prisão injusta do jovem negro, no Rio de Janeiro, Yago Corrêa de Souza, de 21 anos, que saiu para comprar pão. 

“Uma das formas mais eficazes de combater o racismo é dando visibilidade aos casos. Foi assim que, em 2021, as discussões sobre raça se ampliaram no Brasil com foco no combate à discriminação racial de forma efetiva. Portanto, o nosso papel é mostrar onde o racismo está, como ele ocorre e propor uma nova visão e comportamento sociais antirracistas, e isso é uma construção cotidiana”, afirmou o secretário, Ademário Costa.

Veja nota da loja na íntegra:

"A loja Hangar das Artes vem a público se retratar e esclarecer os fatos ocorridos na manhã de hoje (07/02/2022).

Trata-se de uma empresa que emprega inúmeras pessoas, atuante no mercado de artesanato e obras de arte há mais de 20 anos, comercializando e divulgando a confecção de obras de diversos artistas regionais, sempre incentivando a produção daquele pequeno artesão cujo seu sustento depende exclusivamente de sua arte.

Todas as obras que exibimos são voltadas para a exaltação da cultura e história baiana e brasileira. Nossa loja está localizada no Aeroporto de Salvador e sempre exaltou as diversas culturas, com ênfase na cultura africana, já que temos orgulho de demarcar que somos, provavelmente, a cidade mais negra fora de África. Sempre com muito respeito e admiração.

As imagens que estão circulando, de algumas de nossas esculturas, tratam-se da imagem do Preto(a) Velho(a) - espíritos que se apresentam sob o arquétipo de velhos africanos que viveram nas senzalas, majoritariamente como escravos, entidades essas que trabalham com a caridade e cuidam de todas as pessoas que os procuram para melhorar a saúde, abrir caminhos e ter proteção no dia a dia. Por isso, algumas das peças possuem correntes, na tentativa (ERRÔNEA) de retratar a história dessa entidade de maneira literal. Erramos na forma em que as peças foram expostas e em descrevê-los apenas como escravos, apagando, de certa forma, a história que carrega.

Pedimos nossas mais sinceras desculpas a todos que se sentiram feridos e menosprezados pela maneira como conduzimos às coisas. Nossa intenção JAMAIS foi menosprezar, ferir ou destituir da imagem de uma entidade tão importante e a potência de sua história. Nossas correntes foram quebradas! E não queremos de maneira alguma trazer de volta memórias desse passado tenebroso e vergonhoso.

Por isso, retiramos todas as peças de circulação afim de minimamente nos retratar diante do ocorrido. Sabemos que não se apaga o que foi feito, mas reconhecemos a nossa falha e não tornaremos a repeti-la, não só pela repercussão que houve e sim por não condizer com a nossa verdade.

Nossas sinceras desculpas pelo ocorrido".

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