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Alfabetização financeira: Saiba como startups de Salvador colaboram para democratização do conhecimento sobre economia

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Startups tornam assuntos como 'Educação Financeira' e 'Macroeconomia' mais relevantes  |   Bnews - Divulgação Divulgação / Pixabay

Publicado em 20/12/2024, às 11h49 - Atualizado às 12h55   Vagner Ferreira



Entender e gerenciar finanças pessoais e, até mesmo profissionais, como é o caso de (micro) empreendedores, deixou de ser uma habilidade específica de especialistas e passou a ser uma necessidade para o convívio em sociedade - afinal, em um mundo globalizado, a economia faz parte da vida de todos. Desta forma, temas como educação financeira e macroeconomia passaram a ser cada vez mais relevantes no cotidiano das pessoas, especialmente quando associados às inovações e ao uso estratégico das tecnologias.

Diante disso, as startups têm se destacado por meio de iniciativas que promovem criatividade e desmistificam o distanciamento de práticas financeiras. O termo de origem estadunidense, segundo informações disponíveis no portal do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), é associado às ideias de criações de modelos de negócios que agreguem valor não apenas econômico, mas social; ou seja, que vai gerar algum conhecimento ou crescimento na vida de outras pessoas -, e que contêm custos menores. 

De acordo com o relatório ‘Global Startup Ecosystem Report 2024’,  consultoria econômica de São Francisco, na Califórnia, o Brasil ocupava o primeiro lugar de crescimento e desenvolvimento de startups da América Latina. No geral, a Bahia ocupa a sétima colocação no ranking nacional de desenvolvimento de startups e alcançou a liderança entre os estados do Nordeste, conforme dados publicados este ano pela Associação Brasileira de Startups (Abstartups) e Deloitte. E Salvador está inserida nessa onda de inovação, criando iniciativas que buscam soluções para a educação financeira e para o fortalecimento da economia baiana.

Uma startup de origem soteropolitana que tem se destacado no conhecimento de educação financeira é a Inventivos, fundada em 2020, por Monique Evelle e Lucas Santana. A proposta tende a preencher uma lacuna no mercado de formação empreendedora, especialmente para quem não tem acesso às redes de apoio. 

Inventivos

Para a empreendedora, Monique Evelle, uma das prioridades da Inventivos é democratizar o acesso à educação empreendedora. “Oferecemos conteúdos acessíveis ao contexto e a realidade de quem está começando com poucos recursos. Nosso objetivo é garantir que mais pessoas possam desenvolver habilidades e tenha acesso a informações que normalmente não estão disponíveis”, descreveu.

A Inventivos é um negócio de impacto, o que significa que buscamos gerar mudanças sociais e econômicas concretas. Ao formar e conectar novos empreendedores, estamos fortalecendo a economia e criando um ecossistema mais inclusivo”, continuou.

Monique começou a empreender aos 16 anos, em um contexto em que discutir assuntos financeiros não era comum, inclusive por mulheres. Uma de suas maiores dificuldades ao começar na área foi não ter referências de empreendedoras em posição de destaque. No entanto, tinha em mente que queria tornar o assunto acessível para o máximo de pessoas possíveis e queria ser uma figura para outras pessoas se inspirarem e começarem a investir.

A empreendedora defende que o assunto deve ser debatido por todos, independente da idade, e ressaltou a importância de ter aprendido educação financeira em casa, com os pais, que a ensinou a administrar os ganhos ainda quando criança.

“Meus pais sempre conversavam abertamente sobre como lidar com dinheiro e como fazer com que o que eu recebia mensalmente rendesse, me dando uma base sólida na tomada de decisões financeiras”, contou.

Esse aprendizado foi essencial porque, na escola, temas como finanças pessoais ou inovação não faziam parte do currículo. A partir disso, entendi que empreender não é só sobre ter ideias, mas sobre olhar para problemas reais e propor soluções práticas e sustentáveis. Isso é inovação e significa fazer funcionar”, continuou.

Além de gerar impacto na vida da população, a representante da Inventivos disse que a startup tem um papel importante na economia local, promovendo o fortalecimento de negócios que surgem em Salvador. Ela destacou ainda que, ao incentivar práticas de inovação e formalização, a startup cria um ecossistema capaz de atrair investimentos e gerar empregos. 

Segundo informações do Sebrae, as micro e pequenas empresas no Brasil são responsáveis por mais de um quarto do Produto Interno Bruto (PIB) nacional. Com cerca de 9 milhões de negócios desse porte em atividade no país, elas correspondem a 27% do PIB, uma participação que tem registrado crescimento contínuo nos últimos anos.

“A Inventivos é a prova de que é possível criar soluções com impacto social, econômico, além de ser um negócio. Ao compartilhar histórias de quem passou pela nossa plataforma e teve resultados concretos, mostramos que o empreendedorismo é um caminho”, descreveu Monique.

“Além disso, o foco em educação contínua e acessível nos permite alcançar empreendedores que não se veem representados nos espaços tradicionais de negócios. Nosso objetivo é que esses novos empreendedores e novas empreendedoras não apenas se inspirem, mas também se sintam preparados para agir e criar”, acrescentou.

Pós-controle

Outra startup “genuinamente baiana” - como é mencionada -  e também dedicada a colaborar com o avanço financeiro, tanto das pessoas, quanto da cidade, é a Pós-Controle, fundada em 2014 pelo CEO Emerson Barretto. O propósito é oferecer soluções acessíveis de gestão a pontos de vendas, com facilidade nos meios de pagamento no varejo. 

“Nosso objetivo é sempre qualificar o varejo, levando informações, tecnologia e inovação para que tenhamos um ganho em escala”, descreveu o CEO. Barreto destacou a importância das startups para colaborar para o crescimento financeiro das pessoas e do varejo, para impulsionar a economia.

As startups têm uma capacidade grande de resolver problemas de forma simples e com baixo custo onde todos ganham com a escala, ganha o comerciante, ganha o cliente final e ganha a startup. O ganho pode ser em qualidade no atendimento, em novos serviços ofertados, em controle de processos e também ganho financeiro", informou. 

A Pós Controle atua com serviços de notas fiscais emitidas diretamente pelas maquininhas de vendas. Com a experiência acumulada no setor de pagamentos e canais de venda, o CEO disse que procurou uma solução para facilitar o contato entre vendedor e comprador. 

“As empresas precisavam de mobilidade no ponto de venda, para que o cliente de uma loja física fosse atendido em qualquer local, e, assim, pagasse e recebesse o produto e a nota fiscal, sem precisar pegar filas, e tudo isto com baixo custo”, explicou Barretto, sobre o método que é utilizado. 

Segundo ele, inovação e tecnologia são fundamentais, assim como a procura por ajuda com profissionais que entendam do assunto também é. “Inovar e empreender tem método. Não podemos achar que se inova apenas com insight em momentos de criatividade única, não é assim. Tem que ter a consciência de ouvir e observar o ambiente, seu público, conhecer o mercado, perguntar, perguntar, aprender, mas tudo isto, com método e objetivo de melhorar os processos e os produtos”, concluiu.

Alfabetização financeira

O professor e economista, Edísio Freire, ressaltou em entrevista ao BNews, sobre a importância da Fintech para a educação financeira. O termo combina duas palavras em inglês, sendo elas ‘financial’ (financeiro) e ‘technology’ (tecnologia), e é utilizado para se referir a startups ou empresas que desenvolvem produtos financeiros totalmente digitais, assim, sendo mais barato, e que conta com a tecnologia como uma de suas principais ferramentas. Segundo ele, esse método revolucionou o contato entre pessoas físicas e jurídicas. 

“Eu diria que foi uma ação disruptiva dentro do mercado financeiro, porque os bancos tradicionais precisaram se reinventar. A gente não ouvia falar muito em educação financeira vinda dos bancos, vindo das instituições financeiras. E isso começou a mudar, até mesmo por conta do forte cenário de endividamento das famílias. Eu diria que menos de um terço das famílias, das pessoas no mundo, de modo geral, têm uma boa educação financeira, que saibam lidar bem com dinheiro, e isso é muito desafiador”, disse o economista, chamando esse processo de ‘desbancarização’.

Freire recorda que, antes, os assuntos financeiros estimulados pelas instituições bancárias eram sempre de incentivos ao consumo, levando os consumidores a realizar o uso excessivo e desordenado do cartão de crédito e do cheque especial, gerando uma onda crescente de endividamento. Para ele, esse sistema de startup vem justamente para suprir a falta de informações.

Você cria processo de reeducação financeira para as pessoas, o que a gente pode chamar de alfabetização financeira, é muito importante, porque elas começam a ter acesso na palma da mão, de maneira prática, fácil e, em muitos casos, barata ou até sem custos. É um letramento financeiro”, destaca ele. 

Freire, no entanto, recorda que houve uma certa resistência pela adoção das startups no início de suas instalações, pois o uso mais constante, sobretudo dos consumidores, em relação às tecnologias, geraram desconfianças. No entanto, hoje em dia, ele vê avanço no cenário e avalia como positivo. 

“Nós temos hoje um cenário muito mais favorável, do ponto de vista da educação financeira, e boa parte disso a gente pode acreditar que é através das fintechs, que trazem soluções que complementam o uso do recurso financeiro com a forma mais educada de usar o seu dinheiro”, concluiu.

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