Economia & Mercado

PIB do Brasil cresce 0,9% no segundo trimestre de 2023, puxado por serviços e indústria

Rubens Cavallari/Folhapress
Analistas projetavam avanço de 0,4% na comparação com o trimestre anterior  |   Bnews - Divulgação Rubens Cavallari/Folhapress

Publicado em 01/09/2023, às 17h23   Eduardo Cucolo e Stéfanie Rigamonti / Folhapress


FacebookTwitterWhatsApp

O PIB (Produto Interno Bruto) do Brasil cresceu 0,9% no segundo trimestre deste ano, de acordo com os dados divulgados nesta sexta-feira (1º) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), em relação aos três meses anteriores.

Esse foi o segundo trimestre consecutivo em que a economia cresceu acima do esperado, apesar de o número representar uma desaceleração em relação ao crescimento registrado nos três primeiros meses do ano (dado revisado de 1,9% para 1,8%), quando o resultado foi puxado por um desempenho do agronegócio.

Segundo a agência Bloomberg, analistas de instituições financeiras e consultorias estimavam avanço de 0,4% na comparação com o primeiro trimestre e de 2,7% em relação ao mesmo período do ano passado. Após a divulgação dos dados, vários economistas revisaram para cima suas projeções.

Do ponto de vista da produção, o resultado foi puxado pelo setor de serviços e pela indústria extrativa (petróleo, gás e minério de ferro).

Pela ótica da demanda, destaca-se o consumo das famílias, influenciado por uma melhora no mercado de trabalho, medidas do governo que elevaram a renda das famílias, desonerações, queda na inflação e crescimento do crédito, apesar dos juros altos e do endividamento dos brasileiros.

O resultado do semestre já garante um crescimento de 3,1% no acumulado deste ano (o chamado "carry over" ou carregamento estatístico, que considera a hipótese de um PIB estável no segundo semestre).

Com isso, aumentaram as chances de um número maior que a expansão de 2,9% verificada em 2022, algo que não estava no radar dos economistas no começo deste ano.

Esse foi o oitavo resultado positivo consecutivo do indicador nessa comparação. Segundo o IBGE, a atividade econômica está 7,4% acima do patamar pré-pandemia e continua no ponto mais alto da série histórica.

A alta do segundo trimestre é explicada pelo bom desempenho da indústria (0,9%) e dos serviços (0,6%), segundo o instituto.

"O que puxou esse resultado dentro do setor de serviços foram os serviços financeiros, especialmente os seguros, como os de vida, de automóveis, de patrimônio e de risco financeiro. Também se destacaram dentro dos outros serviços aqueles voltados às empresas", diz a coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, Rebeca Palis.

A agropecuária foi o único dos três grandes setores da economia a recuar no trimestre (-0,9%). A retração vem após o avanço de 21,0% no primeiro trimestre e se deve, principalmente, à base de comparação elevada.

"Se olhamos o indicador interanual, vemos que a agropecuária é a atividade que mais cresce. Isso aconteceu porque 60% da produção da soja é concentrada no primeiro trimestre", afirma Palis.

Em relação ao segundo trimestre do ano passado, o PIB cresceu 3,4%. A agropecuária avançou 17%, o melhor resultado entre os setores. Essa alta é relacionada ao bom desempenho de alguns produtos como a soja, o milho, o algodão e o café. As estimativas da pecuária também contribuíram com o resultado, segundo o IBGE.

Consumo das famílias

Pela ótica da demanda, o consumo das famílias avançou 0,9% no segundo trimestre. O consumo do governo cresceu 0,7%. Os investimentos (Formação Bruta de Capital Fixo), avançaram 0,1%. A taxa de investimento foi de 17,2% do PIB, inferior à do mesmo período de 2022 (18,3%).

"Do lado positivo, o mercado de trabalho vem melhorando constantemente, há o crescimento do crédito e várias medidas governamentais como incentivos fiscais, vide redução de preços de automóveis, e os reajustes nos programas de transferência de renda, notadamente o Bolsa Família", diz a coordenadora do IBGE.

"Por outro lado, os juros seguem altos, o que dificulta o consumo de bens duráveis, e as famílias seguem endividadas porque, apesar do programa de renegociação de dívidas, elas levam um tempo para se recuperar."

O PIB acumulado nos quatro trimestres terminados em junho de 2023 cresceu 3,2% em relação aos quatro trimestres imediatamente anteriores. No primeiro semestre, apresentou crescimento de 3,7% em relação ao mesmo período de 2022. Nos dois casos, a agropecuária foi o destaque.

As expectativas agora são de um PIB mais fraco neste segundo semestre, em um ambiente de juros ainda elevados, apesar do corte recente da taxa básica pelo Banco Central.

Analistas enxergam melhora na economia

Natália Cotarelli, economista do Itaú BBA, diz que a instituição deve rever a projeção para o ano de 2,5% para algo próximo de 2,8%. Ela destaca dois fatores importantes que justificam esse crescimento mais forte.

Em primeiro lugar, uma queda menor que a esperada na agropecuária e efeitos positivos desse setor sobre alguns serviços. O consumo também se manteve forte, com dados positivos do mercado de trabalho e ações do governo de aumento de renda (aumento do salário mínimo e do Bolsa Família, e antecipação do 13º, por exemplo).

"A gente teve uma surpresa positiva na maioria dos indicadores. O único destaque negativo foi o investimento, que veio um pouco abaixo do que a gente estava esperando".

Andrea Damico, economista-chefe da Armor Capital, também destaca o desempenho acima das expectativas do setor agropecuário. A queda na atividade já era esperada neste trimestre, devido à forte base de comparação com o trimestre anterior, mas ainda assim veio bem melhor do que o esperado.

"Nossa surpresa do PIB ficou concentrada na ótica da oferta, principalmente na parte de agricultura. A gente esperava uma queda forte neste trimestre, de cerca de 7%. Veio uma queda muito menor, de 0,9%", diz.

Damico também chama atenção para a aceleração significativa do consumo das famílias e o desempenho da indústria. A Armor revisou sua expectativa para o PIB de 2023 de 2,4% para 3,1%.

O Bank of America também revisou sua perspectiva para o PIB anual, após os dados do segundo trimestre, de 2,4% para 3,1%.

"A inflação mais benigna, os ajustes nos programas de distribuição de renda, a resiliência do mercado de trabalho e melhores condições no mercado de crédito levaram a uma aceleração da demanda interna", citam analistas do banco em relatório.

No lado do setor produtivo, especialistas também ressaltam o crescimento da indústria extrativa, principalmente a de óleo e gás.

"Vale ressaltar que o Brasil agora é um dos maiores produtores de petróleo do mundo, com mais de três milhões de barris por dia, um aumento significativo em relação ao passado", diz o economista-chefe do Banco Master, Paulo Gala. Ele enxerga que a economia brasileira tem possibilidade de um crescimento anual acima de 3%.

Rodolfo Margato, economista da XP, lembra que tanto o agronegócio quanto a indústria extrativa, que têm apresentado forte desempenho, são dois setores menos sensíveis à política monetária, e que têm mostrado resultados acima do esperado.

De maneira geral, Margato aponta que o PIB vem mostrando um quadro de economia resiliente e de solidez. "As projeções do mercado e da XP vão caminhar para um crescimento de algo próximo a 3% em 2023".

Rafaela Vitoria, economista-chefe do Banco Inter, afirma que os dados até agora mostram uma surpresa positiva tanto da demanda doméstica quanto externa, o que pode levar a um crescimento próximo de 2,8% neste ano. Para o segundo semestre, a expectativa é de desaceleração do PIB, com possibilidade de algum resultado negativo nos próximos trimestres.

Ela diz que parte do crescimento um pouco mais forte está ligada a estímulos pontuais, como o aumento de transferência de renda do governo e desonerações. Como o efeito desses estímulos não deve se repetir no segundo semestre, ela espera uma desaceleração do consumo, mas não uma recessão. Os investimentos, por outro lado, foram o ponto fraco dentro de uma leitura boa do PIB.

"Temos motivos para comemorar um PIB de 3% no acumulado de 12 meses. Mas para que a gente possa sustentar essa taxa daqui para a frente, o investimento precisa voltar, e voltar de maneira mais forte. Crescimento de consumo sem investimento é ruim para o futuro", afirma.

Carlos Lopes, economista do Banco BV, afirma que o resultado foi bom tanto em termos quantitativos como qualitativos e aponta para um resultado por volta de 3% neste ano. Ele destaca um crescimento disseminado entre todos os setores da indústria e dos serviços, além de uma agropecuária com uma leve correção já esperada.

"Diferentemente dos últimos dois trimestres, o perfil de crescimento desse foi melhor, mais focado na demanda doméstica. O setor externo, que tinha contribuído positivamente nas últimas duas divulgações, nessa aqui teve uma contribuição negativa."

Os investimentos ainda vão mal, segundo o economista, com um crescimento muito tímido, mas um resultado melhor que as duas últimas quedas trimestrais.

Cálculo do PIB

Produtos, serviços, aluguéis, serviços públicos, impostos e até contrabando. Esses são alguns dos componentes do PIB, calculado pelo IBGE, de acordo com padrões internacionais. O objetivo é medir a produção de bens e serviços no país em determinado período.

O levantamento é apresentado pela ótica da oferta (o que é produzido) e da demanda (como esses produtos e serviços são consumidos).

O PIB trimestral é divulgado cerca de 60 dias após o fim do período em questão e traz um dado preliminar.

O número final é apresentado quase 24 meses após o fim do ano e traz também a ótica da renda (soma das remunerações do trabalho e capital, que mostram como cada parte se apropriou da riqueza gerada).

Os dados definitivos de todos os trimestres de 2023, por exemplo, serão conhecidos em novembro de 2025.

Classificação Indicativa: Livre

FacebookTwitterWhatsApp