Economia & Mercado

Sites asiáticos disparam e já vendem para 2/3 dos internautas brasileiros

Agência Brasil
O faturamento dos sites internacionais disparou 60% no ano passado e atingiu R$ 36,2 bilhões, diz pesquisa  |   Bnews - Divulgação Agência Brasil

Publicado em 04/04/2022, às 07h03   Folhapress


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O internauta pode estranhar o visual poluído, cheio de pop-ups prometendo preços entre 50% e 80% mais baixos e pedindo insistentemente um e-mail para cadastro. Também parecem esquisitas frases como "depressa em breve", sobre a promoção que tem hora para acabar. Mas os brasileiros têm feito cada vez mais compras nesses sites de origem asiática, como Shopee, Shein e Aliexpress. Pesquisa da consultoria NielsenIQ|ebit, em parceria com a Bexs Pay, apontou que o faturamento dos sites internacionais (conhecidos como "cross-border") disparou 60% no ano passado e atingiu R$ 36,2 bilhões. O montante representa cerca de 17% do comércio online no país, que faturou R$ 218,9 bilhões em 2021.

A Shopee é a mais popular entre os internautas brasileiros: 58% adquiriram alguma coisa da varejista em 2021, contra 8% em 2020. A Shein, especializada em moda, passou de 0 a 21% dos consumidores online no ano passado. Preço baixo é o atributo mais valorizado nesses sites, diz o diretor de ecommerce da NielsenIQ|Ebit, Marcelo Osanai, e o bom desempenho no Brasil levou a investimentos em vendedores nacionais e entregas mais rápidas.

Hoje a média de espera é de 28 dias ""há três anos, eram 42. Em março, o Aliexpress, do Alibaba, contratou um voo semanal da Qatar Airways de Hong Kong a São Paulo, para agilizar a entrega.
Dos 87,7 milhões de compradores online no Brasil, 68% adquiriram produtos importados em 2021, aponta a pesquisa. Este ano, 71% pretendem continuar comprando, com destaque para eletrônicos (48%), moda e acessórios (45%) e informática (35%).

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Enquanto Shopee e Shein cresceram, Aliexpress desacelerou no ano passado, de 52% para 44% dos consumidores online. Segundo Osanai, a empresa perdeu espaço por não investir tanto em marketing, mas parece ter aprendido a lição: no mês passado, lançou uma campanha com a influencer Gkay, sob o mote "farofa do Ali". Também a Shopee investiu em uma campanha com a banda Barões da Pisadinha.
"Os grandes sites estrangeiros vêm investindo pesado em mídias sociais, com destaque para o TikTok, nos links patrocinados e nos anúncios do Google", diz Osanai.

Variedade é outra palavra de ordem nos sites asiáticos. No marketplace Shopee é possível comprar de shorts a vibradores, passando por estojos para lentes de contato. No Aliexpress, encontram-se de adesivos de unha e perucas a relógios e furadeiras sem fio. Na Shein é possível encontrar 80 mil opções de vestidos a partir de R$ 15 e 9,7 mil calças começando por R$ 19.

Considerada a "Zara da China" –pela rapidez de produção de coleções e logística para chegar a mais de 150 países–, a Shein (lê-se xi-in) abriu uma loja temporária no Rio em março, no Village Mall. "Os apps da Shopee e da Shein foram os aplicativos de varejo mais baixados do Brasil no ano passado", diz o consultor Alberto Serrentino, sócio da Varese Retail. De acordo com a empresa de desenvolvimento de software e análise de mercado EmizenTech, cada um deles teve mais de 100 milhões de downloads em 2021.

A preferência dos brasileiros pelos varejistas asiáticos já incomoda os competidores locais e, em março, a Receita Federal disse estudar uma medida provisória para impedir que sites estrangeiros vendam no Brasil sem pagar tributos. Os asiáticos estariam aproveitando uma brecha que autoriza a pessoa física a enviar bens estrangeiros a outra pessoa física no Brasil sem pagar impostos, se a mercadoria custar menos de US$ 50. Para a Abvtex (associação do varejo têxtil), a preocupação também é com os tributos.

Edmundo Lima, diretor-executivo da associação, diz que sem o pagamento de ICMS, PIS e Cofins, esses sites chegam a preços muito mais competitivos na comparação com os produtos nacionais.
No Brasil, os maiores competidores do varejo online são Mercado Livre, Americanas, Magazine Luiza e Via (Casas Bahia e Ponto Frio). "Embora trabalhem com produtos de maior valor agregado, como eletroeletrônicos e eletrodomésticos, estes sites aumentam cada vez mais o mix da chamada 'cauda longa', produtos de menor tíquete médio e maior giro, na disputa direta com os sites asiáticos", diz Danniela Eiger, analista de varejo da XP.

Por enquanto, os marketplaces brasileiros se sentem incomodados, mas não ameaçados, diz Iago Souza, analista da Genial Investimentos. "Os asiáticos teriam que trabalhar com produtos mais caros para se tornarem, realmente, uma ameaça", afirma. "De qualquer forma, o grupo Sea, dono da Shopee, já deixou claro que Brasil e México são as prioridades da companhia".

O consultor Eugênio Foganholo, da Mixxer, chama a atenção para a rapidez do fenômeno asiático. "Segundo a NielsenIQ|Ebit, 26% dos consumidores conheceram os sites em 2021 por indicação de amigos. "Isso dá uma vantagem competitiva muito grande, é o marketing boca a boca, que reduz o custo de aquisição de cliente", diz Foganholo. Outra crítica frequente é a falta de transparência nas relações trabalhistas –sabe-se muito pouco das condições em que são produzidas as roupas nesses sites.

Procurada pela Folha, a Shein não atendeu ao pedido de entrevista. O Alibaba, controlador da Aliexpress, está em período de silêncio, antes da divulgação de resultados trimestrais. Já a Shopee informou, por meio de nota, que oferece no Brasil uma "experiência de compra fácil, segura e divertida" e que "mais de 85% das vendas são de vendedores brasileiros". Segundo a empresa, a conquista de consumidores é resultado da sua "estratégia de gamificação" (jogos e recompensas em Moedas Shopee, que funcionam como cashback) e das campanhas de marketing com cupons de desconto e de frete grátis.

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