Eleições

“O candidato do PMDB não tem condição moral de falar em ética”, diz Zé Raimundo

Publicado em 25/10/2016, às 20h13   Luiz Fernando Lima, de Vitória da Conquista


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A última semana antes do segundo turno que decidirá o novo prefeito de Vitória da Conquista está aquecendo as estruturas políticas do terceiro maior colégio eleitoral da Bahia. Defendendo um legado de cinco gestões consecutivas do PT – é o município brasileiro com o maior número de mandatos Executivos seguidos – o deputado estadual segue remando em mar revolto. No sudoeste baiano o sentimento é que Herzem Gusmão (PMDB) ganhará a eleição no próximo domingo (30), contudo, Zé Raimundo prefere acreditar que é possível mudar o jogo. Nesta entrevista exclusiva ao Bocão News, o candidato que foi prefeito da cidade entre os naos de 2002 e 2008, enumera as qualidades das gestões petistas e afirma categoricamente que não pode ser penalizado por “onda antipetista”. Diz que o seu adversário não tem “moral” para pregar a ética e aponta as razões pelas quais pede um voto de confiança para o eleitor de Conquista.

Confira:

Bnews: candidato, o PT sofre com o desgaste de estar há 20 anos no poder. Tem ainda o desgaste nacional. Mas antes de falar sobre isso, quero saber como o senhor pretende “tirar” os votos que Herzem Gusmão teve de frente no primeiro turno e o que está fazendo nesta reta final?

José Raimundo: O segundo turno é uma outra eleição. No primeiro turno aliados históricos do nosso grupo tiveram candidaturas independentes, que nós consideramos legítimas, mas agora estão conosco. O deputado Fabrício com o PCdoB e sua militância, o vice-prefeito Jorge Meira do PSB também com sua militância. Vereadores e lideranças que votaram em outras coligações também estão conosco. Lideranças avulsas que votaram no nosso bloco, mas que ainda estavam em dúvida estão declarando votos à nossa candidatura. Depois de um planejamento de campanha estamos trabalhando na zona rural e urbana na seguinte linha: mostrando de forma mais detalhada o nosso legado que transformou Vitória da Conquista em uma cidade referência nacional e até internacionalmente. Com indicadores da área social, educação e infraestrutura, a cidade que nos 10 anos mais se desenvolveu, está também entre as 10 melhores cidades em saneamento básico. Mostramos este legado, mas reconhecemos os desafios e os problemas que precisam ser enfrentados. Estamos mostrando para a população pontos que sobre os quais existiam algumas dúvidas.

Bnews: Como quais?

José Raimundo: O Aeroporto de Vitória da Conquista, por exemplo. É um projeto nosso. O governador do estado está executando e já anuncia etapas para a conclusão e início da obra do terminal. Da mesma forma, o início da barragem do Catulé. A licitação está sendo preparada. Na saúde, avançamos com a UPA e ampliação dos serviços de saúde. Algumas demandas da zona rural foram encaminhadas. Transporte coletivo e urbano. O governo tem mais de 40 milhões de reais em caixa para construir a avenida perimetral, as três grandes avenidas, o terminal de transporte. Não se trata de promessas ou projetos apenas, e sim trabalho em execução. Além de uma série de obras de qualificação e melhoria de serviços para a população. É obvio que esta campanha foi muito curta. Nosso partido criou a coligação só no mês de julho. Não deu tempo de alcançar toda a nossa base, mas neste segundo turno a campanha se intensificou, os movimentos sociais e a nossa sensação é de que os números estão praticamente embolados. Onde eu tenho ido tenho sido recebido muito bem. Nossas lideranças, o prefeito Guilherme Menezes, o deputado federal Waldenor Pereira, candidatos à Câmara Municipal, os vereadores eleitos, e principalmente a população. A população está podendo comparar os dois projetos claramente. Enquanto pessoas da cidade, enquanto educador, professor, militante, ex-prefeito, ex-vice-prefeito, hoje deputado é o candidato do PMDB que tem a sua história vinculada à imprensa o tempo todo criticando a cidade, falando mal da cidade, sem nenhuma contribuição efetiva. O candidato do PMDB é o porta-voz de um projeto nacional que quer destruir todos os avanços conquistados nos últimos anos. Como por exemplo, os direitos dos trabalhadores nas áreas da aposentadoria, direitos sociais. Na área de políticas públicas, destruindo e congelando o salário-mínimo, os investimentos na saúde e educação que vão paralisar o Brasil com certeza, num período enorme. Um segundo elemento do candidato do PMDB é que ele não tem condição moral para tocar na questão ética. São 20 anos de governo em Conquista e não contra mim, contra Guilherme ou contra os nossos deputados. O mesmo não pode ser dito da turma do PMDB, que a imprensa está dando que este grupo do qual ele faz parte está nesta embrulhada que o Brasil todo está vendo. No primeiro turno eu estava com PSD, PR, PSL e PP. No segundo, tenho ainda PSB e PCdoB e ainda lideranças que votaram em outros partidos. A juventude vendo as consequências deletérias do processo que está ai da PEC 241 e da medida provisória que o Temer mandou para o Congresso, que destrói a LDB, que tira a obrigação das creches, do ensino infantil. Conquista não está fora deste contexto e todas essas medidas têm um representante aqui. Estou otimista e temos esta semana para igualar e ganhar as eleições

Bnews: Uma questão levantada é que há um desgaste natural de 20 anos de gestão petista aqui somado ao desgaste nacional do próprio PT nacionalmente, neste sentido, o parâmetro dentro de Conquista se perde. Isso de fato atrapalha? Outro ponto que o senhor levanta é que o PMDB é o partido de Herzem e é o de Michel Temer e que isso traz desgastes à candidatura adversária, contudo, há um desgaste claro do PT. Um não anula o outro?

José Raimundo: Não podemos negar (desgaste do PT). O massacre da mídia ao PT nos últimos quatro anos, e ainda auxiliada por um segmento do aparelho do Estado, que de forma seletiva, sistematicamente elegeu o PT como uma espécie de inimigo número 1 da política brasileira, acabou efetivamente tocando no imaginário da população. Eu tenho recebido da população de Vitória da Conquista muitas observações do tipo que não tem nada contra minha conduta ou a de Guilherme ou ainda das nossas lideranças, mas que de fato tem restrições ao Partido dos Trabalhadores. Nós estamos mostrando que esta questão nacional só vai ser resolvida com uma profunda reforma política que mude o sistema partidário, eleitoral, e também da relação do Estado com a sociedade. Mas no dia a dia, cara a cara com o eleitor, eu digo que o PMDB não condição moral para discutir a questão ética. É claro que se há esta desconfiança em relação ao nosso partido, há também de se reconhecer que foi o partido que trouxe muitas transformações positivas para todo o povo brasileiro. Nós temos hoje, quatro cursos de medicina em Vitória da Conquista, três funcionando e um autorizado, mais de 30 mil alunos universitários, temos o IFBA, quase um bilhão de reais em investimento em Minha Casa Minha Vida, investimento em infraestrutura, saneamento básico, Luz para Todos no campo, cisternas, programas sociais que chegam ao pequeno agricultor, patrulhas agrícolas. Tudo isso foram políticas consignadas, a Saúde Pública. Foi política do nosso partido. No debate sobre a ética da política muita coisa de boa também foi feita. Neste debate o PMDB não tem moral e eu não posso ser culpado por isso. Se o problema é nacional do dois partidos que seja resolvido nacionalmente. Aqui em Conquista o que eu peço ao eleitor é que eu não posso ser penalizado, se a população reconhece que nós fizemos um excelente trabalho, construímos um caminho para a cidade, mesmo com os problemas que a gente vivencia hoje, que a população avalie as qualidades dos candidatos e quem pode manter Conquista como uma cidade menos injusta, mais igual, e que permite oportunidade para milhares de jovens e pessoas. É uma cidade progressista na área de Cultura e Esporte. Eu tenho sentido que a população tem reconhecido isso.

Bnews: Prefeito Guilherme Menezes demorou de entrar na campanha do senhor?

José Raimundo: Não. O problema é que o conjunto das articulações políticas se atrasou. O ideal era que tivéssemos a resolução no final do ano passado, mas não deu. As movimentações partidárias, inclusive, nacional. A própria lei eleitoral. Houve muitas dúvidas. Até abril poderia haver mudança partidária. Havia um clima de muitas incertezas. Mas no momento em que o partido, claro que a meu ver houve um atraso na definição, mas quando decidiu que no dia 26 de março não haveria prévia, abril e maio construímos o consenso e a partir de junho construímos o arco de alianças.

Bnews: Alguns vereadores com mandato atualmente e não eleitos declararam apoio a Herzem

José Raimundo: Esta é uma reflexão que o PCdoB deve fazer. Mas quero dizer que os candidatos eleitos do PCdoB estão na nossa campanha, outros vários candidatos não eleitos também. A militância histórica do PCdoB está na nossa campanha, sindical, estudantil, movimentos sociais. Da mesma forma que o PSB. Todos os candidatos do PSB e outros candidatos de outras frentes que vieram nos apoiar, mesmo com alguns indo para o adversário. Com relação ao PCdoB, é mais interna do partido. Publicamente, dois candidatos que eram do PCdoB foram expulsos.

Bnews: Faltou água na última gestão. O problema é grave. Qual é a solução para este problema?

José Raimundo: Esta questão dos recursos hídricos de Vitória da Conquista é um velho problema. Desde os anos 1980. A última obra de infraestrutura hídrica do governo do estado ocorreu exatamente no final dos anos 1980 e início de 1990. Luta dos movimentos sociais. De lá para cá, a cidade cresceu. A rede de Embasa foi estendida para vários distritos. Já havia problemas antes do governador Wagner e nenhuma decisão havia sido tomada. A intensidade do crescimento urbano a partir de 2010. O governo tomou a decisão imediata de fazer o projeto da barragem do Rio Catolé. O nosso abastecimento de água tem como manancial o sistema Água Fria 1 e 2. Foi elaborado o projeto do Rio Catolé. Foi licitada pelo Regime Diferenciado de Contratação. Segundo esta norma, feita a licitação, a vencedora entrega no prazo e nas condições. Como a localização fica numa garganta íngreme que exige muito esforço de obra, as empresas não participaram em três licitações. A Embasa recomendou novos estudos e ampliou as exigências técnicas para que feitura da barragem acontecesse. O valor da barragem agora é 156 milhões de reais. A planilha já foi feita e a qualquer momento deve ser feita a barragem. Identificada a incapacidade do sistema Água Fria de abastecimento de água durante o ano inteiro na mesma vazão foi feita uma adultora do Rio Catolé para reforçar o fornecimento e isso é o que mantém a cidade, relativamente, não plenamente, mas sem colapso. O governo fez um adicional do Rio Gaviãozinho para o Catolé com o objetivo de segurar a água para Conquista. É claro que em algumas localidades da cidade por problemas técnicos, os reservatórios da Embasa não estão o dia inteiro cheios, a força da gravidade não está atingindo algumas áreas. A Embasa já está fazendo as obras na região da Patagônia, numa obra de quatro milhões de reais, e melhorando o sistema. Para concluir, pode consultar qualquer engenheiro sanitário ou civil, o problema do abastecimento de água de Conquista nos próximos anos, não está a beira do colapso. Pode haver alguns momentos de manejo, de relativo racionamento, mas sem colapso. Este tempo é o necessário para construirmos a barragem do Catolé. Esta atenderá pelos próximos 30 anos para que a cidade tenha condições de fornecer água potável para toda a população. Além do esgoto, que nós estamos ali entre as 20 melhores cidades do Brasil e agora com projetos. Já temos 87% da cidade saneada e após completarmos as obras chegaremos a 95%. Ai nós teremos um padrão da Suécia, Europeu.

Bnews: Quais são os principais desafios para Conquista?

José Raimundo: Questão da Mobilidade Urbana e Transporte Urbano. O governo tem contrato com a Caixa em torno de 60 milhões de reais. Sendo 40 milhões para mobilidade, onde está inserida a construção da Avenida Perimetral. Cerca de 15 milhões de reais para recapeamento do asfalto, passeio, ciclofaixa, sinalização e 5 milhões para terminal de transporte urbano de Lauro de Freitas. Dos 2,5 milhões de passageiros, 70% vai para o centro da cidade. Esta é a solução a curtíssimo prazo. Que exige outro desafio para o replanejamento das novas localidades, novos polos de atração de trafego. Hoje temos 86 linhas de ônibus. A cidade cresceu e inclusive, nós não descartamos estudos para que haja o transporte complementar. Mas de forma técnica e integrado ao sistema de transporte. Eu não posso dizer que vou legalizar as vans e botar mototáxi porque o sistema é o mesmo. Os 156 ônibus, hoje, numa passagem de R$2,8, é o ônibus que dá direito a gratuidade ao idoso, meia passagem ao estudante, é o que permite que os cadeirantes tenham acessibilidade em 90% dos ônibus de Conquista, ou seja, é esse sistema que tem que funcionar bem. Existe um litígio com uma das empresas, a prefeitura já tem uma ação contra essa empresa, mas é a Justiça que vai definir e não o prefeito, e depois de definida pode remanejar. O próprio sistema permite que se uma empresa quiser pode colocar micro-ônibus. É ela, junto com a autoridade do trânsito representado pelo órgão que o prefeito determinar, que garante o transporte de qualidade e com um preço a altura da população. O que acontece é que se você furar este sistema, duas coisas podem acontecer: diminuir o número de ônibus ou aumentar o preço da passagem. Isso está acontecendo em Feira. Ela perdeu mais de um milhão de passageiros e os próprios “vanzeiros” cobram o mesmo preço. A legalização deste sistema aumenta o preço. Consta que os próprios proprietários de vãs legalizadas contratam vãs que estão fazendo uma linha ilegal. Não está descartado, mas teremos que fazer um estudo pois não há uma solução imediata. Vou fazer o que fizemos desde o primeiro momento. Contratar um instituto técnico para fazer os estudos que possam trazer o upgrade no sistema de transporte. As empresas que não se deram bem em Vitória da Conquista, não foi a prefeitura que fez com que isso acontecesse como, de forma irresponsável nosso adversário tenta atribuir, uma empresa na minha gestão que saiu, a Passaredo, se deu tão bem que se tornou uma empresa aérea. O que ela queria é ao final do contrato tirar vantagem e eu não permiti que ela fizesse o que ela quisesse. Exige que toda tramitação fosse feita dentro do conselho de transporte. Isso permitiu a credibilidade que Conquista tem. Qualquer empresário do transporte sabe que em Conquista não tem propina para ninguém que seja vinculado a gestão pública no sistema de transporte. A gente sabe que é um setor complicadíssimo no Brasil. Temos ações na Saúde, as Upas, enfim.

Bnews: Conquista é a terceira maior cidade da Bahia e é estratégica para o PT. O que fazer para se segurar?

José Raimundo: Os resultados das eleições municipais revelaram realmente um recuo do nosso partido, mas importantes vitórias foram conquistadas na base aliada. Carlinhos Brasileiro em Senhor do Bonfim. Moema Gramacho em Lauro de Freitas. Outros aliados importantes como Irecê, Jequié uma grande vitória do PSB e agora estamos nesta batalha em Vitória da Conquista que nós iremos para a sexta administração. Temos trabalhado e mostrado para o cidadão. Para mim, a soberania é do eleitor.

Bnews: Há uma diferença? Vocês tem serviços prestados, mas a marca PT está muito fragilizada.

José Raimundo: São dois sentimentos para a população. No plano nacional há de fato esta cortina de fumaça. Essa sensação que o massacre da mídia faz. Evidentemente, que há aqueles que se envolveram, mas a questão não é só do PT. O problema é que a mídia fez parecer que era só o PT, mas nos últimos 20 dias a população brasileira passou a perceber que não é só o partido e que o buraco é mais profundo. A natureza da própria aliança política, do sistema partidário que levou a essa situação. E você veja que mesmo assim os resultados como expectativa para as eleições 2018. Em muitos lugares a população está já com a cabeça sendo aberta para a reflexão e neste contexto que eu quero chamar a atenção de Vitória da Conquista. Este quadro nacional não pode ser uma justificativa para tirar o PT de Vitória da Conquista. Claro que é natural que durante 20 anos haja um certo cansaço da população. Nos nossos governos foram feitas mudanças, novos serviços, novos climas e ambientes, para criar a sinergia da administração e esse é o meu compromisso: um governo de continuidade sem continuísmo.

Classificação Indicativa: Livre

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