Eleições

Restos a notar

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Bastidores, olhares e ponderações sobre a política baiana  |   Bnews - Divulgação

Publicado em 30/10/2012, às 12h00   Luiz Fernando Lima (twitter: @limaluizf)



Praticamente em toda entrevista feita por um jornalista que resulta em uma nota, matéria, reportagem ou em uma publicação de ping pong “sobram” declarações, comentários, análises e o rescaldo que não são utilizados ali. Muitas destas são interessantes, mas ficam de fora por uma razão ou outra. Este é o conceito desta coluna. A ideia é que em conversa de repórter seja com fonte ou entre colegas, tudo que não é off pode ser usado e tudo que é usado potencialmente interessa a alguém.

Nunca na história de Salvador


Em cima do trio elétrico puxado pelo vocalista Márcio Victor na Praça da República, em Periperi, o clima era de carnaval antecipado. Gente bonita e arrumada no “camarote” do Psirico, esperando o candidato eleito ACM Neto, que vai governar, como ele próprio se comprometeu, para “toda Salvador”. Embaixo do trio, como nos dias de folia, a pipoca explodia. A “festa da vitória” do DEM teve todos os ingredientes de eventos abertos na capital. Confusão, agressões, pedido de calma e paquera. Nada que atentasse contra o script. O discurso de Neto, breve, contundente, para surpresa dos mais atentos não foi apenas inspirado nos do que o senador Antônio Carlos Magalhães (ACM), fazia com frequência. O Neto optou, não se sabe se por sarcasmo ou se por pura empolgação, por outra referência. Com o microfone em mãos, declarou ao público: "Nunca na história de Salvador, um prefeito eleito comemorou a vitória no Subúrbio. Eu prometi e cumpri". Se sinal dos tempos ou apenas estratégia, veremos a partir de 2013.

Puxador de bloco

O trio elétrico não saiu do lugar. Márcio Victor cantou de jingles da campanha de Neto aos clássicos do Axé e pagode baianos. O prefeito eleito, convocado a cantar, não desanimou. Do outro lado do trio, Luis Gaban, filho do ex-deputado Gaban (DEM), era um dos mais entusiasmados. Ele, que acompanha Neto desde os tempos de colégio Módulo, pulava abraçado com a candidata derrotada à Câmara Municipal, Leo Kret, que já ensaia o retorno aos palcos, após perder o palanque.

Antes da apuração

Não. Não ouvi as explicações do presidente da Assembleia Legislativa, Marcelo Nilo, e tampouco do líder da bancada de oposição Paulo Azi, para que fizessem uma aposta no “modesto” valor de R$ 50 mil. Lógico que, independente do resultado das urnas, o exemplo é reprovável. Eleição, por mais que se insista, não é jogo. R$ 50 mil não é pouco dinheiro numa realidade como a de Salvador. Demonstra, portanto, pelos resultados apresentados nesta legislatura pelo parlamento baiano, que está sobrando dinheiro na conta, para pouco serviço prestado. Quem discorda, fique à vontade para comentar.

Depois dela

Presente no comitê central de campanha de ACM Neto no início da comemoração pela vitória na capital baiana, Paulo Azi afirmou que foi surpreendido pelo valor da aposta proposta pelo presidente da Assembleia Legislativa, Marcelo Nilo. Disse que não poderia retroceder e só aceitou após consultar os colegas de bancada, que toparam dividir a conta caso fossem derrotados. Não precisaram. Azi também reafirmou que vai dividir o prêmio meio a meio entre duas instituições: Hospitais Irmã Dulce e Santa Casa de Misericórdia. R$ 25 mil para cada. Fez questão de ressaltar que não está acostumado a apostar estes montantes. De acordo com ele, normalmente as apostas são para jantar, caixa de cerveja, vinho e whisky.

O time de Neto

Por falar em bancada de oposição, o DEM deve ganhar em breve pelo menos três deputados. Todos aguardam decisão judicial para migrar. Elmar Nascimento (PR) e Bruno Reis (PRP) são dois dos três, outro é Sandro Régis, também PR. Na festa de Neto, deu para ver que a luz desta minoria reacendeu: além de Elmar e Bruno, Pedro Tavares (PMDB), Leur Lomanto Júnior (PMDB) e Adolfo Viana (PSDB) estavam na festa. O ex-prefeito e conselheiro recém aposentado do Tribunal de Contas do Estado (TCE), Manoel Castro, esteve no evento. Diversos vereadores compareceram.

Festejar

Quando Neto agradeceu ao adversário derrotado Nelson Pelegrino (PT) em seu discurso no comitê, foi interrompido com sonoras vaias dirigidas ao petista. Em seguida, os presentes cantaram a música “Vou Festejar”, citada por Neto em um dos debates. Pouco antes disto acontecer, chegou ao comitê o vereador eleitor Prisco (PSDB). Foi recebido como se fosse ele o prefeito. Dizem que em 2014, o soldado que comandou a greve da polícia contra o governo Jaques Wagner vai em busca de assento na Assembleia Legislativa. Afinal, é no âmbito estadual que pode efetivamente fazer algo a mais pelos policiais.

Campanha travada na Justiça

Assunto recorrente em rodas de discussões sobre política foi a importância dada aos processos nesta eleição. Aos números: o escritório de advocacia comandado pelo especialista em direito eleitoral, Ademir Ismerin, que defendeu a coligação “É hora de defender Salvador”, de ACM Neto (DEM), apresentou no primeiro turno 458 representações contra os adversários. 200 pedidos de Direito de Respostas que resultaram em 1h46min. No entanto, o TRE suspendeu aproximadamente 1h. Neto ocupou durante os dois primeiros meses de campanha 46 minutos do espaço de seus adversários. Já no segundo turno, em duas semanas, foram 22 representações e 53 pedidos de Direito de Respostas distribuídos entre ACM Neto, Antônio Imbassahy (PSDB) e o prefeito João Henrique (PP). O representante do DEM conseguiu usar 11min dos 15min20seg iniciais. O tucano só ficou com 5min dos 17min04seg. O prefeito respondeu a questão do corte do metrô em pouco mais de 4min, chegou a ter direito a 15min, mas os advogados do PT conseguiram a suspensão do restante. A reportagem tentou contato com a assessoria do candidato Nelson Pelegrino, mas não conseguiu.

Esperança

Não poderia ser diferente. O clima no comitê central de Nelson Pelegrino (PT) após a derrota eleitoral para ACM Neto (DEM) era de tristeza, mas com dois anos de governo estadual pela frente, e as vitórias em diversos municípios, de fato, a esperança na sala petista promete resistir. Abaixo a foto de Roberto Viana.




*Luiz Fernando Lima é editor do site Bocão News

Classificação Indicativa: Livre

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