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Daniela Mercury critica falta de opinião de artistas sobre política e lamenta rumos do governo: "tristeza e indignação"

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Crítica declarada do presidente Jair Bolsonaro, a cantora baiana desaprova as atitudes sobre a pandemia de coronavírus   |   Bnews - Divulgação Reprodução / Instagram

Publicado em 20/05/2020, às 09h49   Tiago Di Araujo


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Uma das artistas com maior posicionamento contrário ao presidente Jair Bolsonaro, a cantora Daniela Mercury declarou que é "inaceitável a forma como o presidente se comporta" em meio ao combate da pandemia de coronavírus no país. Em entrevista à colunista Fábia Oliveira, do jornal O Dia, a baiana lamentou os rumos do atual governo.

"Eu tenho acompanhado o dia a dia e vejo com tristeza e indignação o que está acontecendo. É inaceitável a forma como o presidente se comporta, agredindo a imprensa cotidianamente e apoiando manifestações contra os outros poderes. É chocante a falta de solidariedade e indiferença pelas vidas dos brasileiros mortos pelo Covid-19. Ele nega a ciência, as orientações científicas da OMS e não acredita no isolamento social como tem sido feito por governadores e prefeitos. O governo federal não tem protegido o que é mais valioso para os brasileiros: a vida, a saúde pública, a democracia e nem a economia".

E continuou. "As crises constantes no governo são tão nocivas quanto a pandemia. O governo não entende a importância social e econômica da preservação da natureza, das florestas, das populações indígenas, ribeirinhas e quilombolas, não respeita a liberdade de imprensa, a diversidade, a ciência, a laicidade do Estado, os direitos dos trabalhadores, não respeita os artistas e a cultura, nem os pesquisadores, as universidades, os professores e alunos. Vejo que querem entregar nossas riquezas e vender empresas estatais estratégicas e produtivas. Na minha opinião, sem direitos humanos, sem justiça social, sem harmonia entre os poderes, sem apoio internacional, sem distribuição de renda, sem um Estado de bem-estar social, sem preservação ambiental, sem diálogo e sem a contribuição dos que pensam diferente dentro e fora do país, não há como o Brasil sair da crise sanitária, social, econômica, política e institucional que já estamos enfrentando".

A cantora aproveitou também para criticar a falta de posicionamento dos artistas sobre a política. "O ideal é que todos os artistas se interessem por política e atuem em causas de interesse público e entendam o que está acontecendo no Brasil e no mundo para se manifestar sempre que for necessário. Mas como qualquer cidadão, o artista precisa se informar sobre cada assunto e ler várias fontes para ser consistente. E isso não é simples e demanda interesse, tempo e dedicação. [...] "Muitos artistas se manifestam diariamente, mas sem dúvida é uma situação delicada. Depende da autonomia, da independência, dos seus princípios e de sua capacidade de indignação. Em geral, nas democracias as pessoas que atuam pelas causas importantes são apenas uma parte da população".

Daniela ainda estendeu a sua desaprovação à Secretaria de Cultura, que atualmente é liderada pela atriz Regina Duarte. "O governo acabou de vetar a ampliação do auxílio emergencial para abranger artistas desempregados, numa clara hostilidade à categoria, numa demonstração de omissão ou desprestígio da Secretaria. Deveria haver apoio claro ao projeto de Lei de Emergência Cultural que deve ser votado nos próximos dias no Congresso, por exemplo. Mas não vemos nenhuma ação efetiva da Secretaria em favor dos artistas e dos trabalhadores da área cultural".

Sem subir aos palcos por causa da pandemia, a artista afirmou que o maior objetivo no momento é vencer a pandemia, para depois recuperar os prejuízos. Para ela, ainda é preciso o governo fazer mais por quem mais precisa. "Estou tão preocupada com a saúde das pessoas que amo, da população do Brasil e do mundo que não consigo pensar em mais nada. Com saúde, depois de vencer a pandemia, a gente corre atrás do prejuízo econômico. Eu não acho que a atitude de qualquer governo pudesse evitar o prejuízo econômico diante dessa pandemia! Poderia até atenuar como tem atenuado em alguns países, mas não temos certeza de nada atualmente. Aliás, eu tenho convicção de uma coisa: a ajuda aprovada pelo Congresso Nacional e sancionada pelo governo ainda é tímida diante da real necessidade da população mais fragilizada. É preciso fazer mais".

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