Entrevista
Publicado em 04/04/2021, às 08h00 Pedro Vilas Boas
O senador pela Bahia Jaques Wagner (PT) foi eleito para presidir a Comissão do Meio Ambiente no Senado. Em entrevista ao BNews, o ex-governador do estado falou em combater os retrocessos ambientais promovidos pelo governo Bolsonaro.
Ainda durante a conversa, que faz parte da série de entrevistas com os parlamentares baianos eleitos para presidir comissões no Congresso, Wagner disse não acreditar em uma ruptura da democracia pelas Forças Armadas e não "cravou" sua candidatura para o governo da Bahia em 2022.
Confira abaixo os principais trechos da entrevista com o senador Jaques Wagner (PT):
BNews: Quais as prioridades da Comissão do Meio Ambiente neste momento?
Jaques Wagner: O meio ambiente no mundo de hoje virou agenda central, prioritária e obrigatória, no mundo inteiro. E até por isso, o PT, a bancada do Senado, no nosso direito de escolha, escolheu a Comissão do Meio Ambiente. Vou repetir uma frase do Lula, que a própria covid, de uma certa forma, ela expressa uma briga da natureza pela humanidade, então, a minha prioridade é fazer da Comissão de Meio Ambiente um espaço para reverberar essa pauta. Inclusive, como já fiz ontem [1º], trocando experiência com outros países, outros continentes.
Ontem, tive reunião por web com o embaixador da União Europeia. E, agora, no dia 15, deveremos ter uma reunião, também virtual, com deputados americanos sobre o tema meio ambiente. O foco dessa pauta, é uma pauta propositiva que a gente batizou de "Grande Impulso de Sustentabilidade". Que significa sustentabilidade no tripé: economia, social e ambiental. Que é o conceito mais moderno do mundo inteiro, que é o roteiro pro desenvolvimento nesse século 21.
A segunda pauta, que é menos nobre, mas igualmente necessária, é trabalhar na Comissão de Meio Ambiente para evitar retrocessos na política ambiental, que é proposta desse governo federal.
BNews: Há alguns dias, o Senado aprovou PEC, em que o senhor foi o relator, para tornar o acesso à água potável uma garantia na Constituição. O que isso muda na prática?
Wagner: Na prática, primeiro, que os operadores do direito, ou seja, advogados que trabalham na questão ambiental em defesa das pessoas mais desassistidas, o fato de tá na Constituição, significa que você pode levar demandas ao Supremo Tribunal Federal. Ela passa a integrar o texto da Constituição, portanto eleva o grau, aumenta a força dela, jurídica.
Sei que, a princípio, ela é, realmente, uma emenda, consequência do Fórum Mundial das Águas, que aconteceu em 2018, em Brasília, onde gente do mundo inteiro veio discutir exatamente a água, porque é um bem insubstituível, finito e em processo de degradação. Seja pela contaminação dos mares, rios; seja pelo trabalho de destruição de matas ciliares, que acaba com rios, córregos, riachos, e aumenta a escassez.
Dessa forma, o senador Jorge Viana (PT-AC) foi autor dessa emenda. E já era uma recomendação, de certa forma, da ONU, desde 2010, quando a ONU decretou que era direito fundamental a água potável. E aí, me orgulho muito, porque no meu tempo [de governador da Bahia] a gente teve o programa "Água Para Todos", e foi o maior investimento da Embasa em água e saneamento.
BNews: Qual sua avaliação sobre o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles?
Wagner: Acho que é uma pessoa, na minha opinião, totalmente desconectada com o que se fala do Meio Ambiente, hoje, no mundo inteiro. E não é por outro motivo que nós estamos fora de todas as grandes mesas internacionais sobre o tema. A imagem do Brasil foi pra lata de lixo nesse aspecto, depois de uma liderança em Copenhagen, ter aplicado fortemente o Acordo de Paris.
Tínhamos um protagonismo pela biodiversidade, biblioteca de biodiversidade, nossa Mata Atlântica, Amazônia, seja pelo protagonismo dos governos. Não foi só o governo Lula, o governo do Fernando Henrique também tinha preocupação com as questões do meio ambiente.
É a primeira vez que temos um governo que se declara inimigo do meio ambiente. A opinião dele, na minha opinião, pesa muito pouco, quer dizer, pesa bastante negativamente, mas, mundialmente, não é uma voz que se destaca. Já existe uma rede muito forte da sociedade civil em torno desse tema, por isso não é uma questão hoje de esquerda ou direita, é de bom senso. O mundo inteiro tá movimentando no sentido de buscar o pacto verde.
BNews: Bolsonaro promoveu uma reforma ministerial, mas não mudou o ministro do Meio Ambiente. Dá pra esperar alguma mudança, mesmo que seja com o mesmo ministro?
Wagner: Acho difícil. Eu, pessoalmente, acho difícil. Quando digo que ele vai ter que recuar, não é por convicção, é muito mais pelas restrições que o Brasil já comeca a ter a nível mundial. São vários e importantes fundos de investimento que já mandaram recado.
Hoje, o Brasil, na questão ambiental, é um párea internacional. O país não, o governo. Porque é da natureza do presidente a truculência, truculência nas relações pessoais, destila com os políticos o tempo todo, aposta em conflito, e na área ambiental também. Com essa agenda dele, quem vai reclamar primeiro dele não é nem o pessoal do meio ambiente, é o mundo do agronegócio, porque vê ameaçado seu comércio com outros países.
BNews: Para o senhor, que inclusive já foi ministro da Defesa, o que essa mudança nas Forças Armadas representa?
Wagner: Pra mim, representa que o núcleo das Forças Armadas não se dispõe a se submeter às loucuras do presidente aloprado. Significa que...vou até repetir o que digo desde o começo: na minha opinião, não há hipótese dos militares entrarem em qualquer aventura capitaneada pelo presidente.
BNews: Mas, e os novos comandantes?
Wagner: Os militares são disciplinados. Tem hierarquia [nas Forças Armadas]. O gesto pra mim foi da equipe do Fernando [Azevedo e Silva] e seus três comandantes. Querendo ou não, eles trabalham diretamente pro ministro da Defesa. Eu não consigo enxergar, necessariamente, alinhamento, a não ser, talvez, do Braga Netto. Os outros tão cumprindo seu dever.
BNews: Falando do jogo político agora. Saiu a primeira pesquisa sobre eleição para o governo da Bahia, e o senhor aparece atrás de ACM Neto. Como recebeu o levantamento?
Wagner: Não é a primeira vez. Acho pesquisa a essa altura do campeonato totalmente desprezível. Não vejo sentido em pesquisa quantitativa a tanto tempo do evento, principalmente em um ano marcado pelo sofrimento de milhares de mortos. A cabeça das pessoas tá em auxílio emergencial - tô falando em R$ 600, que é o mínimo pra sobreviver - na vacina e a retomada da economia, pra ter emprego ou ocupação remunerada. Já vamos pelos 15 milhões de desempregados, fora os desalentados, que não voltam a procurar emprego. Isso [a pesquisa] pra mim é uma bobagem.
Se eu quisesse fazer piada, eu iria dizer que era só pegar história das pesquisas de 2006 comigo e as pesquisas de 2014 com Rui [Costa]. Tem muita água pra rolar. Quem preside o pleito de 2022 são os candidatos à Presidência da República. O povo vota de "cima pra baixo". Ele escolhe seu presidente, depois seu governador. Então, com certeza, nosso grupo político aqui terá um candidato a presidente forte, isso por si só...Rui é um cabo eleitoral fortíssimo com a avaliação que ele tem, então, o que posso dizer é que o grupo, acho que a gente se mantém unido até lá, chega forte lá.
BNews: O senhor fala muito em renovação, mas o fato é que seu partido te lançou candidato. Há alguma chance de mudar até 2022, ou está certo que será o senhor?
Wagner: Eu acho que tem....por isso que disse que tem muita água pra passar debaixo da ponte. Meu nome tá colocado por ser dentro do partido o nome mais forte, um nome que aglutina o grupo. Agora, isso não quer dizer que as coisas são imutáveis. Até porque, eu tenho pedido ao partido pra gente tratar nesse momento da agenda da sociedade. A sociedade não tá com cabeça...quem tá com cabeça em eleição sou eu, você, que cobre essa área. Por isso que tem tanta gente que diz que não sabe ou não responde [à pesquisa].
BNews: Levando em consideração esse discurso de renovação, Lula tem que ser candidato em 2022?
Wagner: Olha, o Lula, depois dos episódios das duas decisões do Supremo, ele mexeu fortemente no tabuleiro da política nacional com forte repercussão internacional. Aí a diferença, de fora pra dentro, é da água pro vinho. No governo dele, ele colocou o Brasil nos "10+", e no atual governo fomos pro "10-", então, eu diria que todo mundo pede, grita. Essa decisão é absolutamente pessoal. Estando tudo resolvido, a decisão é dele.
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