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Praticantes de sexo em local público têm desvio psicológico, dizem especialistas

Publicado em 02/11/2015, às 19h46   Tony Silva (Twitter: @Tony_SilvaBNews)


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Foi-se o tempo em que sexo se fazia em locais reservados, apenas para intimidade dos envolvidos. Cada vez mais, a prática vem sendo realizada em locais públicos, e sob o olhar de muita gente. Vídeos de sessões de masturbação, sexo oral e até relações sexuais em banheiros públicos e praias chegam à redação do Bocão News diariamente. Muitas mensagens apelam para que as autoridades e a sociedade tomem providências contra o comportamento de pessoas que não se intimidam com o ato. A reportagem do Bocão News conversou com especialistas para analisarem o perfil psicológico dos praticantes.

A prática é enquadrada como Ato Obsceno, no artigo 233 do Código Penal Brasileiro. Estações de transbordo, banheiros de shoppings e praias de Salvador são os preferidos das pessoas, que, segundo especialistas, têm “desvio psicológico”. Estes também foram os locais visitados pela reportagem.

Apesar do incômodo, populares e até trabalhadores desabafaram e disseram não suportar o constrangimento de se depararem com situações obscenas. Um vendedor de uma loja do Shopping da Bahia, que não quis se identificar, contou. “Eu parei de frequentar alguns banheiros aqui do shopping porque cansei de ver homens tendo encontros sexuais. Parece que o banheiro é a casa deles”, disse.

Segundo a vendedora ambulante, Mônica Elen Gomes, 34 anos, que trabalha na região da Estação da Lapa há 10 anos, a prática acontece em dois banheiros da estação. “Muitas pessoas falam aqui que presenciam homens praticando sexo no banheiro do subsolo e aquele próximo a Seteps no andar de cima. Meu marido tem até filmagem no celular. Se meu filho entra no lugar desse e vê isso eu iria ficar muito indignada”, disse.

O enfermeiro Luiz Alberto Dourado, 45 anos, ao perceber a presença da equipe do Bocão News chamou a reportagem para desabafar. “Eu tenho um filho de seis anos e não confio entrar nos banheiros dessas estações de ônibus. Infelizmente já presenciei essas cenas várias vezes também em shoppings. Eu não sou homofóbico, mas essa prática é reprovável”, afirma.

Além dos encontros sexuais em banheiros públicos, os atos também acontecem em praias no Litoral Norte baiano e em praças públicas, conforme matérias publicadas pelo Bocão News.

A reportagem do site procurou o promotor de Justiça, Davi Gallo, que atua na Promotoria de Júri do Ministério Público da Bahia (MP-BA) e ele comentou o caso, criticou e classificou a situação como “degradação e retrocesso”. Davi Gallo ponderou que os atos obscenos são praticados por pessoas com desvio de personalidade. “Esses atos atentam contra a moral das pessoas, da família e do grupo social. A partir da hora que se mostra a genitália em local público está sim ofendendo a moral”, afirma Gallo.

Sobre a punição de três meses a um ano de detenção ou multa, prevista no artigo 233, do Código Penal, o promotor de Justiça disse que “atualmente tal penalidade é quase nula, diante do que está ocorrendo na sociedade”.

“As normas morais estão perdendo a força. Quando temos um deputado, que diz que uma criança de 12 anos pode escolher o sexo, não há o que se esperar. Esse tipo de comportamento obsceno não existia há 15 anos. A tendência hoje é que as pessoas vejam isso como normal, o que é absurdo. Uma aceitação tácita da sociedade”, comenta o promotor,

Ele ainda criticou o Estado. “Nos casos em que o cidadão procura o Estado, ele se depara com o mesmo estado que permite. Tramita no Congresso Nacional um projeto em que uma criança pode se assumir como homossexual. Os conceitos morais estão morrendo. O apelo de uma parte da população por questões amorais como esta, conseguem amparo político, na medida em que existem projetos de lei que são verdadeiros absurdos atentatórios contra a moral pública”, afirma Davi Gallo.

Sobre definição se ato é passível enquadramento criminal ou não, Davi Gallo foi enfático. “Que é crime? É crime! Continua no Código Penal? Continua! Mas, depende da forma que o judiciário encara, pois fica restrito ao juizado especial. É considerado como crime de menor potencial ofensivo. Se um policial se deparar com uma cena dessas, o máximo que ele faz é mandar parar, porque diante do juiz o caso é tido como direito de expressão. Os envolvidos alegam casuísmo”, avalia.

O promotor de Justiça finalizou classificando a situação como uma degradação e retrocesso. "Desprezo a toda uma educação moral e religiosa que tivemos. Uma degradação e retrocesso. Uma agressão moral. Sexo é um ato que se pratica em quatro paredes. Só os animais praticam sexo em público. Pessoas que fazem isso são pessoas amorais. O estado releva e ainda fortalece na medida em que incentiva", complementa.

Caso político

O antropólogo, pesquisador e professor da Universidade Federal da Bahia, Ordep Serra, ao comentar “ato obsceno”, disparou contra os políticos brasileiros, principalmente o deputado federal Eduardo Cunha (PMDB), acusado de corrupção e lavagem de dinheiro na Operação Lava Jato. “Se falando de obsceno, não existe nada mais obsceno do que o que acontece no Congresso Nacional. Ali, com certeza é muito mais que obsceno, a exemplo do que faz o deputado Eduardo Cunha”, dispara.

Sobre o comportamento das pessoas que praticam sexo em locais públicos, o antropólogo afirmou que o ato é tão antigo quanto a humanidade, mas não deixa de ser um desvio sexual e uma patologia. “Desde quando o mundo é mundo que existem voyeur e exibicionistas”, disse Ordep que criticou o apelo sexual na mídia. “A qualquer hora na televisão utiliza-se apelo sexual para vender, porque o sexo vende. Seja pra vender sandálias, cervejas ou qualquer outra coisa. O sexo vende”, pondera.

Ordep fez questão de destacar que não é moralista. “O sexo em si é uma coisa boa. Não sou moralista, mas há uma banalização e mercantilização do sexo. Tem que ser olhado como uma coisa natural e positiva. Porém uma das coisas que fazem e levam as pessoas a tal situação é a própria repressão”, afirma o especialista, que fez questão de criticar a falha na educação. “O moralismo é perverso e a falta de educação também. Deixamos de oferecer educação sexual nas escolas e consequente uma boa educação nas escolas, clara, sem moralismos idiotas, sem ocultação da sexualidade evitariam tantos problemas a exemplo da gravidez na adolescência”, avalia.

“É patológico”

Entrando nas questões psicológicas que levam um indivíduo a cometer tal ato, a psicóloga Renata Gonçalves, confirma a patologia. Ela explica que há diferença entre os atos e as pessoas. “Depende do tipo de pessoa que está praticando o ato, existem os psicóticos e tem desvio de comportamento, que tem necessidade de estar em público. Tem aqueles que gostam de correr risco. Se sentem muito à vontade. Muitas vezes são transtornos psicóticos ou distúrbios”, explica.

Há diferença entre a pessoa com desvio de comportamento e as pessoas que praticam sexo e às que são observadas. “Os que observam sentem prazer em somente em ver o ato, e não necessariamente em tocar a pessoa, isso é patologia e merece acompanhamento psicológico, e algumas pessoas que praticam e gostam de ser observados muitas vezes tem também o mesmo desvio”, aponta.

Renata chamou à atenção para os valores familiares. “Essa prática pode trazer consequências terríveis para a sociedade, pois o desvio de comportamento trazem consequências para a vida toda. Para se criar uma base psicológica contra o desvio de comportamento, é fundamental os valores que se constroem na família, por tanto a família tem um papel fundamental. O que não quer dizer que pessoas que trazem traços de psicopatoligias não dependem tanto da formação familiar, mas não é dispensável. Definitivamente não é saudável para vida sexual de nenhum ser humano, ainda que seja um fetiche”, alerta.

Colaborou a repórter Juliana Nobre

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