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Dia das Mães: Pandemia transforma relação com os filhos e saúde mental é posta à prova

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Enquanto em alguns lares, os conflitos cresceram e afastaram as mães de suas “crias”, em outros, a convivência intensa criou uma maior aproximação  |   Bnews - Divulgação Arquivo pessoal

Publicado em 09/05/2021, às 05h58   Márcia Guimarães


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O maior presente que as mães podem desejar neste domingo (9), além do amor dos filhos, é a saúde. A necessidade do isolamento social imposto pela pandemia de coronavírus acabou transformando muitas relações. Enquanto em alguns lares, os conflitos cresceram e afastaram as mães de suas “crias”, em outros, a convivência intensa criou uma maior aproximação, um laço ainda mais forte de amor.

A publicitária Mariana Benevides, 40 anos, e as filhas Gabriela, 16 anos, e Mariana, 8 anos, precisaram de muita dedicação e paciência para se adaptar às mudanças em casa. Acostumadas a uma rotina repleta de atividades externas, elas se viram obrigadas a conviver 24 horas por dia. Isso sem aulas na escola, passeios na rua, brincadeiras com os amigos no prédio, finais de semana em Barra do Jacuípe. 

O trio conta que, no começo, foi muito pior porque precisou cumprir rigorosamente o isolamento social e a adaptação foi bem difícil, principalmente por ter que se afastar dos amigos e familiares. Gabriela, por ser mais caseira, conseguiu levar mais tranquilamente. 

“Já Mariana, que tem oito anos e muita energia, teve choro, muito choro no começo. Dizia o tempo inteiro: ‘quero sair, não aguento mais’. Em casa, tentávamos suprir as necessidades dela de sair, mas, para a saúde mental delas, foi bem complicado. Pra minha saúde mental, foi ainda mais difícil porque, para lidar com elas duas 24 horas em casa, foi bem complicado. A mais nova quer acompanhar tudo o que a mais velha faz e a mais velha não quer e a gente tem que administrar isso. Você pensa que vai enlouquecer”, relata Mariana.

Ela conta que dava umas escapadas para espairecer na orla, conversava com as amigas pelo Whatsapp, ouvia música para relaxar e ficava um pouco sozinha no banheiro ou na varanda, a fim de se recompor. “Senão a mente vai se destruindo. Nossa vida era de um jeito e, do nada, corta tudo, corta o contato físico, é muito difícil o isolamento”, diz a publicitária.

Com o tempo, as três foram conseguindo encontrar formas de se adaptar à nova realidade e se conectaram de uma forma muito profunda. “Me orgulho muito de ver nossa relação, é muito saudável, confiamos muito uma na outra, temos um papo bem aberto sobre tudo. Minha mãe tem uma mente aberta, que aceita as diferenças de pensamentos. Nossa relação melhorou bastante durante a pandemia com esse contato mais próximo. No dia a dia, antes eu ia pra escola e ela para o trabalho, não tínhamos esse contato. Agora estamos juntas praticamente 24 horas. Nos momentos felizes e tristes, estamos nos apoiando, conversando melhor”, confessa Gabriela.   

A pequena Mariana faz questão de mencionar como a ajuda da mãe tem sido essencial para conseguir superar as dificuldades encontradas durante a pandemia. Tanto ela como a irmã, não se dão bem com as aulas online e ainda acabaram de perder o avô para a Covid-19. Então, o amor, o apoio e a intimidade intensificados nos últimos meses estão sendo forças motoras para garantir uma vida mais colorida.

“Nós brincamos, vemos filmes, cozinhamos, jogamos, sentamos com nossos bichinhos, procuramos sempre fazer algo juntas”, conta Mariana. Os conflitos ainda existem, como em qualquer relação, mas as três estão muito mais centradas, segundo a mãe.

Outro lar, inquietações que se repetem

Com a assistente educacional Dilvanir Rodrigues, 51 anos, e o filho Guilherme, 15 anos, a situação não é diferente. Nesse quase um ano e meio de pandemia, os dois ficaram bastante ansiosos. “Os conflitos em casa aumentaram um pouco. Essa pandemia me causou, muitas vezes, intolerância e ansiedade, mas meu auxílio foi a igreja”, descreve Dilvanir. 

Guilherme afirma que, por ficar o tempo inteiro em casa durante a pandemia, ficou com seu horário de sono desregulado, ansioso e deprimido. “Me afastar da minha rotina, que era ir à escola, igreja, jogar futebol, me deixou um pouco deprimido. Aconteciam algumas discussões entre mim e minha mãe, mas nada demais. Tive vontade de ir a algum psicólogo, mas não levei a frente tal ideia”, lembra o adolescente. 

Ele diz que não houve um afastamento drástico da mãe durante a pandemia, mas tem ficado mais em seu quarto. Sempre que surge a oportunidade, Guilherme gosta de brincar com Dilvanir e fazer alguma graça. “Minha mãe, por ser sozinha e ter que fazer tudo, anda bastante fora de casa pra resolver as coisas, mas quando sobra tempo, a gente fala sobre algo. Ela, por ser minha mãe, tem uma importância inexplicável para mim. Tento dar o máximo de valor e atenção possível!”, acrescenta o rapaz.

Dilvanir explica que os conflitos não costumam prejudicar o relacionamento com Guilherme, pois o diálogo sempre prevalece. Ela cita que buscam conversar, ler, brincar, fazer as tarefas domésticas e ir à igreja juntos. “Sem ele a minha vida não teria sentido”, completa a assistente educacional.  

Suporte

A assistente social e psicanalista Railda Carvalho esclarece que a pandemia trouxe várias questões para todos, mas, para as mulheres, acentuou as suas responsabilidades. Com o isolamento social, as mães têm que administrar trabalho remoto, as tarefas domésticas e o suporte aos filhos.

“O isolamento social fez com que as crianças ficassem mais hiperativas, exigindo mais atenção. Os adolescentes, mais isolados no seu mundo, em um momento que seria de interação com jovens da sua idade. Nesse contexto de mudança de hábitos e de modo vida tão rapidamente, sem um planejamento e, principalmente, sem um prazo para acabar, o ideal é que toda família tenha um suporte psicossocial”, alerta a especialista.

Classificação Indicativa: Livre

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