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Ex-diretora da CBF denuncia à Justiça 'ambiente doentio e hostil' para mulheres na entidade

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Luísa Rosa foi demitida pela CBF em julho de 2023  |   Bnews - Divulgação Divulgação/CBF
Marcelo Ramos

por Marcelo Ramos

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Publicado em 07/02/2024, às 08h06


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Ex-diretoria da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Luísa Rosa abriu processo na Justiça acusando a entidade de criar um ambiente "doentio", "desconfortável e hostil" para mulheres. Os documentos também envolvem acusações de assédio moral e sexual. As informações foram reveladas pelo portal Uol.

Segundo a acusação, o cargo ocupado por Luísa era de fachada. Enquanto a diretora posava como a primeira mulher a ocupar um cargo de comando, dentro da CBF ela não tinha autonomia para contratar a própria equipe. Ela cita como exemplo as contratações de dois gerentes, que teriam sido aprovadas por Ednaldo Rodrigues em um momento e desautorizadas depois que ambos já tinham começado a trabalhar.

Ainda de acordo com Luísa, ela deixou de ser atendida por Ednaldo antes de ser demitida. Ela reclamou a colegas que passou "oito meses" sem que o presidente aceitasse se reunir com ela. No lugar, despachava com outros diretores ou com funcionários que estavam hierarquicamente abaixo de sua posição.

Luísa afirmou também que sofreu humilhações na entidade, principalmente por causa do ambiente criado pelos outros diretores. A arquiteta relata que o ambiente na CBF era cheio de "comentários misóginos e inconvenientes".

A reportagem do Uol ainda relata que ouviu dirigentes da CBF falando sobre "a contratação de prostitutas para servir os convidados da CBF em eventos". Ela aponta que os membros da diretoria abordavam o tema durante as refeições em que ela estava presente.

"Era obrigada a almoçar enquanto os diretores falavam sobre as prostitutas que seriam contratadas para acompanhar visitantes e convidados pós-eventos", escreveram os advogados da ex-diretora.

Luísa evitava viagens de trabalho no mesmo veículo que outros diretores. Segundo ela, era "constantemente 'convidada' a sair para almoços e jantares com diretores fora do local de trabalho". Pelo mesmo motivo, solicitou auxílio-alimentação para não ter de almoçar mais com os demais membros da diretoria no refeitório da entidade.

A ex-diretora também diz que conviveu com mentiras sobre sua vida pessoal. A pior delas, um boato de que ela teria um relacionamento com outro diretor. Luísa foi promovida ao cargo em abril de 2022 e demitida em julho de 2023.

Luísa apresentou denúncias ao departamento de compliance e ao Comitê de Ética da CBF. Nenhuma foi aceita. Elas falam sobre os desmandos em seu departamento e não citam assédio moral e sexual. O processo na Justiça do Trabalho do Rio de Janeiro traz a nova camada de acusações.

Ainda segundo os relatos, Luísa afirmou que Ednaldo respondeu que "estava acompanhando o jogo do Vitória", quando a ex-diretoria disse que precisava falar com o presidente.

Ao Uol, A CBF respondeu sobre as recusas de Ednaldo receber a diretora. De acordo com a nota, a estrutura da entidade é complexa e que "as agendas dos gestores com o presidente obedecem a critérios variados, como urgência, disponibilidade e presença do dirigente na sede".

Leia a nota da CBF na íntegra sobre as denúncias:

"A arquiteta Luísa Xavier Rosa foi promovida à diretora de Patrimônio e Infraestrutura da CBF em abril de 2022, por mérito, devido ao competente trabalho que vinha

executando na gerência do departamento e aos resultados apresentados, bem como ao interesse da colaboradora em ascender na carreira, formalizado pela própria em e-mail enviado à presidência àquela época.

Ela permaneceu no cargo até deixar a confederação, em julho passado, e foi bem sucedida nas missões a ela confiadas, essenciais à estrutura de apoio do futebol no país.

A Confederação Brasileira de Futebol possui uma estrutura complexa de administração, cuja gestão é compartilhada por 11 diretorias encarregadas desde a gerência de clubes e dos campeonatos até a estrutura física de suas várias instalações, função esta que era delegada a Luísa.

Assim, as agendas dos gestores com o presidente obedecem a critérios variados, como urgência, disponibilidade e presença do dirigente na sede. Reuniões dinâmicas e compartilhadas com outros diretores não são raras e nem se aplicam exclusivamente a determinado setor. São impositivas para agilizar decisões, otimizar agendas e compartilhar impactos com outros setores eventualmente afetados. No mais, comunicações por e-mail, telefone ou WhatsApp sempre foram prontamente atendidas pelo presidente.

Sobre as denúncias em tela, importante esclarecer que Luísa Xavier Rosa apresentou queixa à Comissão de Ética do Futebol Brasileiro e à Diretoria de Governança e Conformidade da CBF em maio de 2023, relatando que o então gerente de manutenção, Arnoldo Nazareth, estaria interferindo no processo de contratação de uma empreiteira, função que seria exclusiva ao seu cargo. A denúncia foi prontamente acolhida pela diretoria e, apenas dois dias depois, a diretora foi formalmente informada que deveria suspender o contrato questionado e escolher outra empresa para concluir os trabalhos, e que constituiria um procedimento interno para apurar suas alegações.

A investigação, conduzida pelo Conselho de Governança Corporativa da entidade, seguiu critérios rígidos de ética e diligência e concluiu, conforme registra o relatório final, que as denúncias não tinham respaldo em documentos ou nos relatos de testemunhas e colegas de trabalho. Note-se que não há, na denúncia em questão, qualquer menção à ocorrência de assédio sexual, sendo sua queixa exclusivamente relacionada à sobreposição de funções.

O processo de desligamento da arquiteta da CBF seguiu procedimento padrão, acompanhado pelo técnico de informática e por uma gestora de Recursos Humanos, que prestou apoio à ex-diretora, inclusive emocional. Luísa teve acesso ao seu computador antes de devolvê-lo e pôde copiar, selecionar e salvar todos os arquivos e documentos que achasse necessários.

Expostos os fatos, vale ressaltar que a CBF repudia veementemente qualquer tipo de assédio moral ou sexual dentro e fora de suas dependências. Desde que assumiu a presidência, em 2021, e diante de um histórico recente de acusações do tipo, Ednaldo Rodrigues tem envidado todos os esforços para colocar a entidade e o futebol brasileiro em linha com as melhores práticas de governança, incluindo equidade, isonomia, integridade e respeito.

Parte desse esforço foi a implementação, no início de 2023, do Programa de Combate e Prevenção à Qualquer Discriminação no Ambiente de Trabalho, com o objetivo de identificar fragilidades, combater comportamentos impróprios e educar para a prevenção de assédios. O programa é desenvolvido por uma empresa profissional terceirizada. Atualmente, a CBF tem 100% da sua equipe treinada a respeito do tema.

A fase atual é a de discussão e implantação de um Código de Ética e Conduta específico para o corpo funcional e de implantação de um canal de denúncia externo, com garantia do anonimato. Segundo o diagnóstico inicial, a CBF tem hoje no seu quadro 52,73% de homem cisgênero e 42,27% de mulher cisgênero, além de 6,82% que se identificam como pertencentes à comunidade LGBTQIAPN+. O esforço segue no sentido de aproximar ainda mais os indicadores de gênero e proporcionar segurança, conforto e tratamento digno e respeitoso a todos os colaboradores."

Classificação Indicativa: Livre

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