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Grupo Gay da Bahia comemora 38 anos e presidente ressalta história de luta

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Presidente do GGB elencou as principais conquistas do movimento   |   Bnews - Divulgação Divulgação /GGB

Publicado em 01/03/2018, às 20h39   Redação BNews


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O Grupo Gay da Bahia (GGB) comemora nesta quinta-feira 38 anos de história. Fundado pelo professor paulistano, recém-chegado à capital baiana, Luiz Mott, o GGB nasceu com forte tendência anarquista, avesso a organização burocrata. Conforme o fundador, um ato de homofobia (palavra que não existia a época), quando Mott recebeu um soco no rosto enquanto andava pelas ruas da Barra com seu companheiro Aroldo Assunção, inspirou a criação do grupo. Após o fato, Mott publicou um anúncio no jornal “O Lampião da Esquina” com o endereço de sua casa “Bichas, vamos rodar a baiana”. O anúncio funcionou e apareceram algumas pessoas assustadíssimas nas primeiras reuniões que eram realizadas na sede do jornal Inimigo do Rei, editados por Ricardo Liper, Tony Pacheco e Alex Ferraz.

“Nessa época ainda havia atuação do Sistema de Repressão, por ser o Figueiredo último General Presidente. O GGB nasceu com forte tendência anarquista, avesso a organização burocrata. De lá mudou-se para o Edifício Derby que funcionava na escadaria da igreja da Barroquinha, era uma kit net pequeníssima, e as pessoas se amontoavam para as reuniões que ocorriam as terças e sextas-feiras”, contou Marcelo Cerqueira, presidente do GGB. 

“Em 1982 Luiz Mott, depois de muito debate, decidiu registrar os Estatutos do Grupo em um Cartório de registro de Títulos e Documentos, recebendo a negativa fundamentada em que esse tipo de registro deveria ser autorizado pela Polícia Federal, e não registrou os documentos. Através de liminar o grupo fez o Registro de Pessoa Jurídica pelo Ministério da Fazenda. O GGB, foi a primeira Ong do gênero registrado em cartório  com CNPJ. Já o ex-vereador municipal de Salvador Raimundo Jorge conferiu pela primeira vez no país o status de Utilidade Pública Municipal ao Grupo Gay da Bahia

De acordo com Marcelo Cerqueira, nos anos de 1980 até 1989 foram os piores de todos em relação ao preconceito e discriminação. “Muita intolerância da sociedade, institucional, as pessoas eram presas por vadiagem apenas por circular na rua sem portar Carteira de Trabalho. Essas pessoas eram conduzidas, travestis, putas, para a Delegacia de Jogos e Costumes, e lá ficavam presas, fazendo faxina nos banheiros, ou mesmo sendo torturadas por delegados que retiravam o esmalte das unhas com tampinha de garrafa. As bichas de rua para não serem presas se mutilavam, cortavam os braços, haviam algumas delas que exibiam cicatrizes enormes em toda extensão dos braços. Se a bicha se cortasse, eles não levavam”, revela.

Luiz Mott, decano do Movimento LGBT Brasileiro, acompanhou e denunciou tudo isso, por meio do Boletim do GGB. Ainda conforme Cerqueira, na segunda metade dos anos de 1990, a luta foi para inserir na “Assembleia Constituinte de 1988 a expressão orientação sexual”. “Essa tarefa ficou com o ativista João Antônio Mascarenhas, que discursou, favorável, assim, como também fez a deputada baiana Lídice da Mata na defesa da inclusão, mas não passou é uma luta até hoje, diante desse Congresso corrompido”, disse. 

Em 17 de maio de 1990 o código 302.0 (Homossexualismo) foi retirado da Classificação Internacional de Doenças (CID). Organização Mundial da Saúde (OMS), ocorrida nessa data em Viena, na Áustria. Com esta providência a OMS reconheceu que “a homossexualidade não constitui doença, nem distúrbio e nem perversão”. O voto da Bahia, foi garantido pela médica forense Maria Tereza Pacheco, discípula de Estácio de Lima, por muitos anos Diretora do Instituto Médico Legal Nina Rodrigues(IML). “Sinto-me feliz por ter sido eu um jovem ativista a ter acesso a essa insigne médica baiana, homenagiadíssima em todas as áreas. Fiz isso em um agradável papo com ela no seu apartamento na Avenida Princesa Isabel, na Barra”, com Cerqueira. 

Segundo o presidente, o GGB se notabilizou na pesquisa através da coleta e sistematização dos crimes violentos praticados contra LGBT no Brasil. “A cada ano produzimos um relatório de vergonha, dor e sangue, o pior é que nada muda, as bichas não fazem um manejo dos seus estilos de vida, as autoridades olham de esgueira para as nossas estatísticas, alguns LGBTs tentam desqualificar o nosso trabalho, interpretação dessa realidade cruel, por algum tipo de insensibilidade deles, o que é deplorável”.

Para Cerqueira, o GGB “não é um movimento só de uma pessoa”  “é algo muito mais forte e poderoso”, “envolve Mulher, homens, crianças, negros, tudo os oprimidos, todos aqueles que um dia não pode se representar, mas que agora já estão fortalecidos para fazer isso”, finalizou. 



Classificação Indicativa: Livre

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