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Oitenta anos de João Gilberto

Publicado em 12/01/2011, às 09h48   Bira Santana



* Bira Santana

No dia 10 de junho deste ano, João Gilberto completa 80 anos e haverá um megaevento em sua cidade natal (Juazeiro da Bahia), com a participação de Aderbal Duarte, Caetano Veloso, Chico Buarque de Hollanda, Djavan, Gal Costa, Gilberto Gil, David Byrne, Diana Krall, Jack Johnson, Norah Jones e muitos outros artistas nacionais e internacionais que viram por conta própria para testemunharem esse evento histórico da cultura brasileira.

A bossa nova é um movimento musical popular brasileiro surgido no final dos anos 50, lançado principalmente por João Gilberto (1931-), Tom Jobim (1927-1994), Vinicius de Moraes (1913-1980) e jovens cantores e compositores de classe media da zona sul carioca. Caracteriza-se por uma maior integração entre melodia, harmonia e rítimo, letras bem elaboradas e ligadas ao cotidiano de alto conteúdo poético, valorização da pausa e do silêncio e uma maneira de cantar mais despojada e intimista do que o estilo que vigorava até então.

João foi a antítese do seu tempo. O velho seresteiro Silvio Caldas (1908-), certa vez declarou numa rádio carioca que João Gilberto não cantava, falava... De acordo com a definição de Tom Jobim, a bossa nova é “o encontro do samba brasileiro com o jazz moderno”. O marco inicial se dá com o lançamento em 1958, do LP canção do amor demais, gravado por Elizeth Cardoso (1920-1990), com músicas de Tom Jobim e letras de Vinicius de Moraes.

O acompanhamento de duas faixas – Chega de Saudade e Outra Vez – é feito pelo violonista João Gilberto, que introduz uma nova batida, identificada mais tarde como bossa nova. Todavia, para melhor entender aquele período é importante que se faça uma narrativa sobre os fatos ocorridos durante aquele ano do pós-guerra onde iremos entender as circunstâncias que levaram ao surgimento da Bossa Nova naqueles 1958: um ano depois de proclamada a República Popular da China, Mao-Tse-Tung (1893-1976) lança um plano de desenvolvimento denominado de “o grande salto para frente”, Fidel Castro (1926-) conhece Che Guevara (1928-1967) no México onde fora exilado, no ano seguinte assume o poder em Cuba, a Europa forma a Comunidade Econômica Europeia (CEE), na Espanha é criado o movimento separatista ETA (Pátria Basca e Liberdade), no ano seguinte começa a guerra no Vietnã, Nelson Mandela (1918) encontrava-se preso por causa da “apartheid”.

Enquanto isso, no Brasil, Juscelino Kubitschek (1902-1976) o “presidente bossa nova” como carinhosamente era citado pela imprensa brasileira está construindo Brasília juntamente com Lúcio Costa (1902-1998) e Oscar Niemeyer (1907), o Brasil ganha a primeira Copa do Mundo na Suécia onde o rei Pelé (1940) é relevado ao mundo, é criado no Rio de Janeiro pelo governo federal o Grupo de Estudos da Indústria Cinematográfica possibilitando o aparecimento de Glauber Rocha (1939-1981) com o cinema novo e Roberto Farias como documentarista, entre outros; Guimarães Rosa (1908-1967) e João Cabal de Mello Neto (1920-1999) são destaques com Grande Sertão Veredas e Morte Vida Severina, respectivamente.

Surge também a poesia concreta criada pelos irmãos Humberto e Haroldo de Campos (1929-2001), o cartunista Péricles cria o Amigo da Onça e Ziraldo o Pererê, José Celso Martinez Corrêa (1937) funda o grupo de Teatro Oficina com o qual encena peças antológicas, Candido Portinari (1903-1962) decora a sede da ONU em Nova Iorque com seus painéis Guerra e Paz, mantidos até hoje, é criada a NASA- National Aeronautics and Space Administration, enquanto isso na Europa o Inglês Sir De Beers (1899-1972) desenvolve em laboratório o diamante. Sintético

Surgiram simultaneamente várias antíteses de sucesso naquele ano, vivíamos um Brasil de baixa estima, em busca de uma identidade cultural, científica, econômica, política e, sobretudo, uma afirmação internacional enquanto nação nas mais diversas áreas da produção humana: cultura, ciência, tecnologia, na arquitetura, na economia, no esporte, etc. Cinquenta e três anos se passaram, a bossa nova conquista o mundo definitivamente, Tom Jobim e Vinícius de Moraes não estão mais entre nós, mas João continua conosco, e quiçá por muitos e muitos anos. Feliz daquele que sabe o que quer ainda cedo.

* Bira Santana é compositor e microempresário em Salvador/Bahia.

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