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Futebol: Prisão de São Paulo tem Copa do Mundo

Wilson Dias/Agência Brasil
“O futebol ajuda a esquecer da realidade e a lembrar da vida nas ruas”, diz preso  |   Bnews - Divulgação Wilson Dias/Agência Brasil

Publicado em 04/12/2022, às 13h37   Cadastrado por Lorena Abreu



Os detentos do Centro de Ressocialização de Limeira, cidade a 156 quilômetros de São Paulo, se esquecem do cárcere por ali, principalmente durante a Copa do Mundo.

Um dos árbitros é Jonatas Philipe de Souza Sotopietra, de 32 anos, que cumpre pena de dois anos por assalto (artigo 157 do Código Penal). “Os papéis estão invertidos, né? Estou pagando pelo meu erro e, na hora do jogo, eu decido o certo e o errado”. Minutos antes dessa conversa, um agente de segurança tinha feito uma piada que estava pingando na área. “Aqui dentro, todo juiz é ladrão”.

Segundo o Estadão, o torneio não chega a ter um tribunal de justiça, mas a parte disciplinar é levada a sério. Os cartões são os mesmos do futebol de salão. O mais usado é o amarelo, dado por reclamação. Palavrões também são advertidos. “Discussão sempre tem, mas nunca vi briga”, diz o juiz.

A quadra fica aberta apenas duas horas pela manhã e duas horas à tarde. “O futebol ajuda a esquecer da realidade e a lembrar da vida nas ruas”, diz Leonardo Lopes Cordeiro, de 25 anos, preso por se relacionar com uma menor de idade. Essa sensação de Leonardo é cronometrada por um relógio digital, que fica junto com o mesário Fábio Aguiar, de 39 anos, preso por um ano por venda de conteúdo pornográfico de menores (infração aos artigos 240 e 241 do Estatuto da Criança e do Adolescente). É a liberdade que dura apenas 20 minutos mais os acréscimos.

Desde 2020, a unidade prisional organiza dois torneios anuais. Por causa da Copa, os times homenagearam as seleções. A final foi disputada entre Brasil e França. Deu Brasil nos pênaltis. O professor Fabio Pereira (nome fictício) usa a experiência de desenhista e chargista para ensinar os reeducandos a produzir imagens sobre a Copa. Os presos fizeram painéis coloridos, bandeiras e desenhos para decorar o centro de convivência.

Todos podem assistir aos jogos em um dos 19 alojamentos nas tevês de 14 polegadas presas no alto das paredes. Emerson Vieira, preso por tráfico de drogas pela segunda vez, acompanha seu primeiro Mundial na prisão. “Claro que eu preferia estar na rua, mas muitos são desportistas e gostam de assistir aos jogos. Dá para sentir um pouco do clima”, diz o jovem de 25 anos.

De acordo com a Secretaria da Administração Penitenciária, os Centros de Ressocialização (CRs) são unidades destinadas a custodiados com menor nível de periculosidade. Portanto, ele é diferente de uma penitenciária tradicional. Lá estão réus primários, com pena inferior a 10 anos, sem envolvimento com facções criminosas. Em geral, são presos que estão no último passo para o retorno à sociedade. O ambiente é mais humanizado e menos violento que as cadeias que povoam nosso imaginário, como a de Carandiru, filme de Hector Babenco, ou a de Shawshank, do filme Um sonho de liberdade.

As ações sociais são conduzidas pela Prefeitura, Poder Judiciário, Instituto Ação pela Paz e Senai. Para ser admitido ali, os reeducandos passam por uma entrevista pessoal. Os pedidos de admissão são vários e chegam até por carta, como conta o diretor Fernando Gonçalves Pedro.

Há estudo e trabalho nesta prisão. As aulas são oferecidas de segunda a sexta-feira à noite por professores da rede estadual para 155 presos. O trabalho é um dos pilares da ressocialização. Hoje, 16 empresas possuem parcerias com a Fundação de Amparo ao Preso (Funap e contratam 243 reeducandos, oferecendo remuneração de um salário mínimo de acordo com a Lei de Execuções Penais.

O local funciona acima da sua capacidade. Hoje, são 280 reeducandos (esse termo é preferível a preso ou detento de acordo com os especialistas) onde caberiam 229, números que, na visão do diretor, não comprometem as atividades.

Classificação Indicativa: Livre

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