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Mães da pandemia: Mulheres falam sobre desafios da maternidade em meio à Covid-19

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Em homenagem ao Dia das Mães, celebrado neste domingo (8), o BNews ouviu as chamadas “mães da pandemia”  |   Bnews - Divulgação Reprodução/Magali Moraes e Arquivo pessoal

Publicado em 08/05/2022, às 06h05 - Atualizado às 06h08   Beatriz Araújo


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Que ser mãe não é uma tarefa fácil, todo mundo sabe. Mas ser mãe em meio à pandemia da Covid-19, com certeza, é ainda mais difícil. A doença que já atingiu mais de 30,5 milhões de pessoas em todo o Brasil, de acordo com o boletim epidemiológico divulgado pelo Ministério da Saúde neste sábado (7), é ainda mais assustadora para aquelas mulheres que encararam o desafio da maternidade diante do coronavírus. Em homenagem ao Dia das Mães, celebrado neste domingo (8), o BNews ouviu as chamadas “mães da pandemia”, que se mostraram verdadeiras guerreiras ao enfrentar esse momento.

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Para a dançarina, coreógrafa e empresária, Juliana Paiva, mãe do pequeno Fael, de 1 ano e 10 meses, a pior parte de se tornar mãe na pandemia foi não poder compartilhar o momento mais especial da sua vida com pessoas importantes para ela. “Quando a pandemia começou, eu tinha 21 semanas de gravidez, então eu tive que me isolar. Eu não tive contato com quase ninguém, e o meu sonho de ser mãe, que era um sonho de uma vida inteira, eu não pude dividir com minha mãe mãe, com a minha avó, que são as minhas mães referência”, conta.

“No meu primeiro dia das mães, por exemplo, eu recebi flores de minha mãe sem poder vê-la, sem poder abraçá-la, e isso foi uma coisa que eu não vou conseguir esquecer, me marcou muito”, relatou a dançarina.

Ju também falou sobre as dificuldades que viveu durante o seu parto, as quais acredita terem sido provocadas pelo medo que sentiu da pandemia. “Eu tive pré-eclâmpsia no meu parto. A pandemia ainda estava bem no início, a gente não tinha certeza se eu pegasse, passava pro bebê, se não passava, o que poderia acontecer, o que essa doença traria pro futuro, que até hoje a gente não sabe. Então, no início, eram muitas dúvidas, e esses medos também contribuíram para que eu tivesse um parto realmente complicado, eu fiquei dois dias na UTI, então eu só vi meu filho no terceiro dia de vida”, relembra.

A coreógrafa chegou a contar com o apoio de duas pessoas durante o primeiro mês do seu pós-parto, o que acredita ter sido fundamental para o seu bem-estar. “A gente fez o exame da Covid para tanto a mãe de Dam [ex-companheiro e pai do filho de Juliana], quanto a minha mãe, irem lá para a casa, para nos ajudarem, já que elas não poderiam ir pro hospital, ninguém podia ir pro hospital, e a gente precisava de uma ajuda em casa, a gente sozinho não conseguiria dar conta”, disse.

“Elas fizeram o teste, foram para lá, ficaram um mês com a gente, sem sair de casa, me ajudaram muito, e se não fosse essa rede de apoio minha, a gente também não teria conseguido da forma que conseguiu, porque também a parte psicológica da gente fica muito abalada nesse pós-parto, então a ajuda delas foi fundamental”, emendou Ju.

“Senti todos os medos possíveis, porque até hoje é uma doença que até hoje ainda não se descobriu tudo sobre ela, então imagine dois anos atrás quando ela surgiu”, pontua.

Emocionada, a empresária relatou um episódio do qual diz que nunca irá se esquecer. “Dói até hoje. Um momento que até hoje eu lembro, e nunca vou esquecer, foi quando minha avó viu Fael na porta. Ela passou de carro na minha porta, e eu mostrei ele. São coisas que eu nunca vou esquecer”, garante.

Apesar do afrouxamento da pandemia da Covid-19, Ju Paiva diz ainda não se sentir segura com relação à saúde do filho, sobretudo em razão de ele ter entrado na escola. “Estou muito apreensiva ainda, principalmente porque Fael começou as aulas, então é também um ambiente em que ele está em contato com outras crianças, e não só a Covid, mas também as outras viroses que já são comuns para a idade”, disse.

“Se não fosse toda a minha rede de apoio comigo, me incentivando, me ajudando em tudo o que eu preciso, realmente seria muito mais complicado”, finalizou a dançarina.

Quem também falou sobre as dificuldades da maternidade em meio à pandemia da Covid-19 foi a bacharel em direito Paula Araújo, mãe de Bento, de 2 anos. “Foi um desafio e tanto e foi muito complicado porque eu morava na casa dos meus pais ainda, e Bento não tinha nem 1 mês ainda quando a pandemia estourou. Ele tinha ainda semanas de vidas, não tinha tomado nenhuma vacina ainda para imunidade de nada, e meu pai foi uma pessoa que realmente me tirou um pouco do eixo porque ele não usava máscara, não passava álcool gel, ele não acreditava no vírus, então eu ficava trancada no quarto a maioria das vezes, com medo de ele pegar, e passar pra Bento, pra mim”, lamentou.

Paula conta que outro grande desafio deste período foi ter que lidar falta de compreensão por parte dos seus familiares, que não entendiam a necessidade de estabelecer restrições contra doença. “Teve também aquela coisa toda de todo mundo ficar querendo visitar, conhecer, e a casa de meus pais, querendo ou não, era um local aberto, não é como agora que eu estou na minha casa e que eu convido as pessoas que eu quero. Então, às vezes, quando eu acordava, já tinha visita lá em casa, e eu não sabia se aquela pessoa estava seguindo os protocolos”, relatou.

“O meu medo, na verdade, não era nem eu pegar, era meu filho pegar, porque eu sabia que se eu pegasse, ou acontecesse algo comigo, ia ter minha mãe, e o pai dele pra cuidar”, emendou a bacharel em direito.

Outra grande dificuldade vivenciada por Paula foi o período de pós-parto. “Eu tive crise de ansiedade direto, foi muito difícil, e principalmente na fase da amamentação, que é uma fase de adaptação, das primeiras semanas em casa”, relata. “Pra mim, a pandemia, no início, foi a pior fase da minha vida. O que era pra ser uma fase linda, feliz, com o meu filho, foi a pior fase, foi mesmo traumatizante”, afirmou a mãe de Bento.

Em entrevista ao BNews, a psicóloga Tamires da Paixão, do Instituto Nacional de Tecnologia e Saúde (INTS), explicou porque a pandemia tornou os primeiros momentos da maternidade ainda mais difícil para muitas mulheres. “Na pandemia, muitas mães não tiveram a rede de apoio que toda mãe precisa pós-parto, o que deixou elas enfraquecidas mentalmente falando, porque a maternidade, em seu primeiro estágio, que é o pós-parto, ela traz uma fragilidade. Essas mães sofreram muito com a falta dessa rede de apoio”, avaliou.

De acordo com a psicóloga, é fundamental que essas mães sejam compreendidas neste momento. “Todas essas mães, tanto as mães da pandemia, quanto as mães de um modo geral, precisam de uma compreensão, precisam de pessoas que as entendam. Às vezes tudo que elas querem é isso, de alguém que as diga: ‘Eu te entendo’”, enfatizou.

Além disso, a profissional da saúde mental faz um alerta sobre o que acredita ser uma necessidade de toda mãe: o autocuidado. “Uma coisa importante que essas mães precisam fazer, desde que tenham alguém por perto para ajudar, é tirar um momento para si. Um banho demorado, porque banho de mãe é sempre rápido, então um banho relaxante, e se olhar com mais amor, com mais carinho”, aconselha.

“É enlouquecedor. Se essas mães não tiverem cuidado, elas adoecem mentalmente. A pandemia adoeceu pessoas que não estavam iniciando na maternidade, que não estavam fragilizadas. A pandemia mexeu com as estruturas de todo mundo, imagine com as estruturas de uma mãe”, finalizou a psicóloga.

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