Justiça

Ilhéus: Dias antes de se entregar, homem tentou convencer ex a não dar prosseguimento a denúncias de agressão

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Carlos Samuel chegou a questionar vítima sobre gravidez e a ameaçar se matar caso fosse preso  |   Bnews - Divulgação Reprodução

Publicado em 05/11/2020, às 09h46   Yasmin Garrido


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Dias antes de se entregar à polícia, após pedido de prisão feito pelo Ministério Público do Estado da Bahia (MP-BA), Carlos Samuel Freitas Costa Filho, 33 anos, teve algumas conversas com a ex-namorada, de 26 anos, a quem ele agrediu em 20 de junho com onze socos no rosto.

Todos os prints de conversas utilizados para a elaboração da presente matéria constam na denúncia apresentada contra ele, disponível em processo público perante o Tribunal de Justiça da Bahia (TJ-BA), ao qual o BNews teve acesso na íntegra.

O casal, que já estava separado desde setembro, manteve diálogos por meio do Whatsapp, entre 14 e 20 de outubro, e, mesmo após saber que era considerado foragido da Justiça, o homem tentou fazer a vítima desistir de dar prosseguimento às denúncias de agressão, que viralizaram com um vídeo do flagrante compartilhado nas redes sociais.

Em uma das mensagens é possível ver Carlos Samuel pedindo que a ex-namorada atendesse à ligação dele. “Atende. Fala qualquer coisa para eu ouvir sua voz. Poxa, não quer falar comigo”, diz uma delas.

Em seguida, ele diz que “queria sugerir uma coisa” e pede que a vítima procure ele caso mude de ideia e desista de dar continuidade à denúncia. Quando ela pergunta qual seria a sugestão, ele dá a entender que, caso se livre das acusações, os dois poderiam voltar o relacionamento, “bem longe daqui”.

Gravidez
Já no dia 19 de outubro, dois dias antes da prisão, Carlos Samuel perguntou se a ex-namorada estaria grávida. “Não sei porque você me mandou mensagem com essa ladainha de gravidez agora?”, disse ela. “Sua menstruação desceu nesses dois meses? Porque no mês passado não veio, não é?”, ele questionou.

Após ela pedir que ele pare com o assunto e de responder que não havia feito teste de gravidez, Carlos Samuel dispara: “Você me ama ainda?”. E continuou: “Porque filho não é brincadeira. Eu não sou um crápula para abandonar um filho”.

A vítima chegou a dizer que, estando ou não grávida, nada mudaria o que tinha acontecido. E Carlos insiste: “Não muda? Muda, sim. Você não quer ter a nossa vidinha de volta?”. Diante disso, ele chegou a afirmar que o que a ex-namorada sentia não era amor, mas, sim, obsessão.

Inversão e tentativa de sensibilização
Ainda no dia 19 o rumo que a conversa tomou foi outro diante da segurança da jovem de 26 anos em manter as acusações. “Era você que me batia e me agredia”, disse Carlos Samuel em uma das mensagens.

“Mesmo com tudo isso, eu não tenho raiva de você. Só queria saber por que você quer me destruir desse jeito”, indagou ele. Ele chegou a acusar a ex de tê-lo agredido inúmeras vezes e ela pediu que ele provasse as alegações na Justiça.

“Obrigado por estragar minha vida. Sinceramente, não acreditei que você fosse realmente capaz disso. Parabéns”, escreveu ele, que ainda perguntou se o amor entre os dois havia acabado.

Diante do questionamento, a vítima respondeu: “Você queria o quê? Que ficasse a minha vida toda apanhando e voltando para você? (...) Você viu quanto tempo meu olho, dessa última vez, ficou roxo, e você só pedindo para passar maquiagem. Nem maquiagem cobria”.

Suicídio e depoimento
“Você quer me ver preso. Você quer mesmo que eu morra. Vou morrer e você vão conseguir aquilo que querem. Ou, então, eu mesmo vou tirar a minha vida. Fique tranquila”, escreveu Carlos Samuel à ex-namorada.

Ao receber as mensagens, a vítima disse: “Nunca falei que queria a sua morte. Não coloque palavras em minha boca”. E o acusado prosseguiu: “Você quer e seu depoimento só vai piorar a minha situação”.

Ele ainda confessou que pediu para a ex-namorada gravar um áudio “ou fazer alguma coisa para” retirar as denúncias. “E você não fez nada. Pelo contrário, você só aumentou as coisas para me ferrar e ainda foi depor dizendo que vai apresentar fotos de seu olho. Grande prova de amor essa sua. Isso é, para você, amar?”, disse.

Em 22 de outubro, F.A.de.O se apresentou à 7ª Coorpin de Ilhéus para realizar exames de corpo de delitos e apresentar as imagens referentes às agressões sofridas em 20 de junho de 2020 e em setembro. No mesmo dia, a autoridade policial solicitou acompanhamento psicológico para a vítima.

Já em 27 de outubro, a vítima prestou novo depoimento, alegando que, “após as agressões do vídeo e até hoje, encontra dificuldades para leitura, pois não consegue fazer leitura simples como fazia antes sendo necessário ampliar ou aproximar para conseguir ler”. Além disso, ela afirmou que “passou a ter dores de cabeça constantes o que a impossibilita para suas atividades habituais normais”.

O inquérito policial foi concluído em 29 de outubro e encaminhado ao Ministério Público do Estado da Bahia (MP-BA) no dia seguinte, tendo como anexos uma mídia de DVD e um envelope lacrado contendo o depoimento de uma testemunha protegida pela Justiça. O material serviu como embasamento para a apresentação da denúncia, que se deu nesta quarta-feira (4), segundo peça inicial acessada com exclusividade pelo BNews.

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