Eventos / Lavagem do Bonfim

Lado profano da festa do Senhor do Bonfim reúne fiéis e foliões em um mesmo espaço

Divulgação / Reginaldo Ipê
Baianos e turistas não abrem mão das bençãos e folias profanas que a festa proporciona  |   Bnews - Divulgação Divulgação / Reginaldo Ipê
Verônica Macedo

por Verônica Macedo

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Publicado em 10/01/2024, às 06h30


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A Igreja do Bonfim, em Salvador, é cartão postal de Salvador, isso é fato. Um dos maiores destaques dessa arquitetura secular é o feito espetacular de congregar vertentes diferentes da sociedade em torno da maior festa que antecede o carnaval de Salvador e que leva o mesmo nome do santuário.

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Os historiadores revelam que a lavagem da igreja durante a festa do Senhor do Bonfim teve início em 1773, na época em que os integrantes da “Irmandade dos Devotos Leigos” obrigaram os escravos a lavarem o templo como parte dos preparativos para os festejos sagrados.

Com o tempo, adeptos do candomblé passaram a identificar o Senhor do Bonfim com Oxalá. A partir daí, o sagrado e o profano passaram a coexistir e se misturar nas festas populares da Bahia.

De acordo com a tradição, durante a lavagem, as portas da catedral ficam fechadas por uma questão e segurança, já que é impraticável por ser impossível acomodar a multidão que se reúne na Colina Sagrada. Por isso, é no adro da basílica que as famosas baianas despejam a água de cheiro nos degraus, abençoando e benzendo os devotos baianos e turistas de todo o mundo, idade, raças, credos e culturas.

“As festas populares são um recorte importante do que as pessoas de fora da Bahia entendem por 'baianidade', diversidade cultural. O sincretismo é a maior expressão do que se chama de Bahia”, asseveram os historiadores e professores de História.

O baiano José Carlos de Azevedo, natural de Salvador, tem 32 anos. Desde adolescente, o arquiteto participa da festa, aproveitando tanto o lado sagrado quanto o profano. “Só parei de vir por causa da pandemia e, agora, estou muito feliz após dois anos de interrupção sem poder participar do ritual religioso caminhando 6 km da procissão e, em seguida me divertir com os eventos paralelos do lado profano”, diz.

Após o percurso, que começa de manhã cedo na igreja da Conceição da Praia e segue até Colina Sagrada, ele confraterniza com os amigos em bloquinhos carnavalescos, bebe cervejas, dança, namora e só volta para casa à noite.

Esta é a mesma programação feita nesse dia, que marca a segunda quinta feira do ano, por milhares de pessoas. Festas na Avenida Contorno, comandadas renomados por artistas locais lotam após a procissão e anunciam a chegada da temporada de lavagens e ensaios carnavalescos.

Quem mora na Cidade Baixa, onde o profano e o sagrado se encontram e se misturam, anseia por essa data. O bibliotecário Antônio Marcondes, de 59 anos, natural de Minas Gerais, é um católico fiel e folião convicto. “Não perco nada da festa desde que cheguei a Salvador  quando tinha 22 anos. Garanto minha benção nas escadarias da igreja do senhor do Bonfim e depois de alimentar a alma vou cuidar do corpo dançando e bebendo muito com meus amigos e familiares, que, inclusive, veem de outros estados e países somente para a ocasião. A comemoração dura o dia todo, começa às 8h, na concentração em frente à catedral da Conceição da Praia e só chegamos em casa após às 11h, participando de todas as festas e blocos de carnaval possíveis”, relata orgulhoso.

E arremata: Não pretendo parar nunca de participar dessa festa – que, com certeza, durará séculos - que une o melhor dos dois lados. Sem esse lado profano, com certeza, muita gente como eu, não viria e o turismo, a economia local perderia em vendas de alimentos, bebidas, fitinas e lembranças do senhor do Bonfim”.

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