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Na Sombra do Poder: as costuras de uma derrota

Publicado em 02/02/2017, às 04h42   Editoria de Política


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Oferenda de Rui

Dois de fevereiro. Dia de Iemanjá. Pessoas ligadas ao núcleo oposicionista da Assembleia Legislativa, na zoação, afirmam que a oferenda que Rui Costa (PT) ofereceria à rainha das águas nem precisou ser colocada no mar para ser rejeitada. Oferenda leia-se: candidatura do deputado Marcelo Nilo (PSL) à presidência da Assembleia Legislativa da Bahia.

Quem cavou a cova?

 “Entre mortos e feridos, todos se salvaram”, afirmou o vice-governador João Leão (PP) quando questionado sobre a vitória, que seria consumada na tarde da última quarta-feira (1º), de Ângelo Coronel (PSD) sobre Marcelo Nilo (PSL). Não é bem assim. Nilo foi derrotado, saiu menor após dez anos de mandato presidencial. Os culpados? Nilo afirma que foram as traições dos mais próximos e a ação tardia do governo. O governo, através de seus prepostos, afirma que foi o próprio Nilo que cavou o buraco. Entre uma e outra análise, fica a certeza de que o jogo poderia ser outro.

Costuras de uma derrota

Um deputado próximo a Nilo afirma que o jogo começou degringolar quando o presidente do PSL, em dezembro, afirmou que Otto Alencar e João Leão se uniram contra ele. Bom, o agora ex-presidente brigou para cima e com gente que está muito forte no cenário político atual. “Esquece-se de que no meio do mandato de presidente ninguém quer brigar com quem tem a caneta, mas na proximidade de uma eleição dura o papo é outro. Outra coisa é que quando está em meio a uma campanha se busca distensionar e não romper a corda”.

Costuras de uma derrota II

Três atos foram apontados: quando entre junho e julho do ano passado, Luiz Augusto sinalizou que gostaria de disputar a presidência, Rui Costa perguntou a Nilo o que ele achava. À época, inspirado pelos que o cercavam, o então presidente teria afirmado para Rui não se mexer, pois ele “mataria no peito”. Não estancou. Pouco antes do final do ano, veio o segundo ato: Nilo disse que precisava da presidência para disputar uma vaga na majoritária. Não se recordou que já havia feito o mesmo discurso, sem sucesso, em outras duas eleições. O terceiro foi durante o almoço com a imprensa, no qual falou da “briga” com Leão e Otto. Até então, Otto estava articulando discretamente. Leão não tinha entrado de cabeça e quem operacionalizava a campanha pelo PP era o deputado federal Ronaldo Carletto. Pois bem, chamou o Leão para a jogo e deu no que deu.

Costuras de uma derrota III

"Uma derrota não é medida em um ato", confidenciou um deputado experiente. “Marcelo não ouvia quem levava a ele notícias negativas. Estava muito otimista e um tanto quanto cego. Evitava falar com estes aliados.” Deu no que deu.

Nomes de consenso

O governador se reuniu com Nilo na segunda-feira à tarde, conforme alguns deputados afirmaram, para buscar uma saída pela terceira via. Um novo nome foi proposto para aglutinar a base e evitar a derrota de Nilo sem criar constrangimento para Coronel ou Luiz Augusto. Nilo recusou. Acreditava ter os votos para vencer. Não tinha.

Olho aberto

Aos deputados do PCdoB, foi prometido espaços na Assembleia que eles até então desconheciam. Um dos parlamentares do partido disse a esta coluna: “nós somos bestas. Nem imaginávamos o que alguns aqui tinham”.

Negociação com vistas lá na frente...

Parece que a sina de deputado do PCdoB é não saber do todo. Pois outro deputado estadual do partido confirma que um acordo de cúpula foi feito sem consultá-los. De início, circulou a proposta para Daniel Almeida ter vaga na chapa majoritária de 2018. Ontem, o que circulou foi o apoio de Otto e Leão para que o deputado federal seja indicado na primeira vaga que surgir em um dos dois Tribunais de Contas.

Ares de mudanças. Será?

Ângelo Coronel promete tocar a Casa confiando nas amizades, unidade e independência. Diz que não vai presidir sozinho. E que tentará, com todas as forças, fazer com que os projetos do Executivo tramitem nas comissões. Essa foi uma das promessas de campanha que mais agradou a oposição. Outra promessa foi distribuir as diretorias, superintendências e outros espaços da casa com as bancadas e blocos partidários que se aliaram a ele no primeiro momento. Acredita que Nilo centralizou estas indicações e afirma que não cometerá os mesmos erros. Questionado sobre que espaços são estes, Coronel disse que ainda está estudando, pois a Casa estava fechada de tal modo que é impossível saber tudo que existe para preencher antes de sentar na cadeira.

Eita, Jânio... Deu tilt.

Jânio Natal resolveu apoiar Coronel no meio do segundo tempo da campanha eleitoral. Para tanto, a ele foi prometido a vaga na Mesa Diretora. Deu errado. O arranjo não foi combinado com Alex Lima, fiel apoiador de Nilo, que disputou com o correligionário a 3ª vice-presidência e venceu a peleja. Alex Lima recebeu apoio de 34 deputados. Os apoios vieram tanto de desafetos de Jânio quanto de deputados que se sensibilizaram com o apoio de Alex a Nilo. Foi uma vitória que minora um pouco os problemas que serão enfrentados pelo parlamentar.    

Santidade

Por falar em Lima, apesar de negar, ele realmente quebrou o pau com Fabrício Falcão (PCdoB) na segunda-feira ao ponto de quase chegar às vias de fato. Contudo, no plenário da AL-BA os dois estavam como se nada tivesse acontecido. Dois santos! Fizeram as pazes. 

Direto de Miami

E por falar em Coronel... Quem diria? O deputado que só vivia em Miami - como os adversários os tratavam - desbancou o super assíduo Marcelo Nilo. Aos mais próximos, Coronel brinca que foi fazer workshop com Barack Obama neste período. Mas o que importa é que aquilo que ele disse que ia fazer, fez: ruir a república da Embasa dentro da AL-BA.  A pressão dos aliados, agora, é fazer com Coronel seja presente e delibere de forma constante na Casa.

Os fiadores de Coronel

O vice-prefeito Bruno Reis (PMDB) e o deputado Pablo Barrozo (DEM) foram dois nomes que ajudaram a convencer ACM Neto (DEM) de que Ângelo Coronel (PSD) era viável. O fizeram quando o grupo que apoiava Nilo dentro da bancada estava conseguindo neutralizar as investidas pessedistas. Fizeram Neto ver que havia garantia de vitória. Foi daí que veio a decisão de fechar bancada. Tudo combinado e conversado à exaustão. Com a retirada da candidatura de Nilo, não foi necessário por à prova o voto de quem estava ou poderia contrariar a decisão.

Lava, lava, lava...

Quem está de alma lavada com todo o contexto é o deputado federal Félix Mendonça Júnior (PDT), desafeto de Nilo. Apesar de negar, só faltou montar a barraca de camping e dormir na Assembleia nos últimos dias para costurar a queda de Nilo.

Andrea, o retorno?

E por falar nos Mendonça, a ex-vereadora e ex-secretária de ACM Neto (DEM) e de Rui Costa (PT) pode ser candidata a deputada estadual em 2018. O próprio Félix, seu irmão, não descartou a possibilidade de costurar o retorno dela aos cargos eletivos.

Disse e depois “disdisse”

A esta coluna chegou à informação de que um deputado afirmou a outros que não deu uma declaração a este site da forma como foi publicada. Interessante! A expectativa é que haja uma negativa pública para que os fatos sejam esclarecidos à luz do dia. No mais, é bancar aquilo que se diz e não refugar quando o cenário muda.

Quanta diferença...

Chamou atenção de funcionários e freqüentadores do Palácio Thomé de Souza da mudança do ex-secretário de Governo do presidente Michel Temer (PMDB) e ex-ministro Geddel Vieira Lima (PMDB). O comentário é um só: o quanto o mandatário peemedebista tem emagrecido. A mudança é visível. Inclusive o trato com as pessoas por onde passa é outro, sendo até uma personalidade mais simpática. O efeito das últimas denúncias refletiu...

Classificação Indicativa: Livre

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