Polícia

Estudante indígena é presa em Amargosa por desacato e injúria racial; coletivo repudia ação da PM

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Segundo o Coletivo de Estudantes Indígenas da UFRB, houve interpretação equivocada por parte da guarnição  |   Bnews - Divulgação Reprodução

Publicado em 06/08/2018, às 08h55   Redação BNews


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Uma estudante indígena da Tribo Pataxó foi presa em Amargosa, no Recôncavo baiano, acusada de injúria racial e desacato contra um policial militar negro. O fato ocorreu no sábado (4), na Avenida Dr. Luiz Sande, nas imediações da feira livre da cidade, no Centro, por volta das 17h.

De acordo com o registro policial, Fernanda Dantas Carneiro teria dito a frase “Bala e fogo nas putas!”, no momento em que uma guarnição da 99ª Companhia Independente da Polícia Militar fazia rondas pelo local. 

Ainda segundo foi relatado pelos militares, ao ser abordada, a jovem, que estuda na Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), teria dito que não iria conversar com um PM, identificado como soldado Robson Brandão Lima, por ele ser negro.

Na Delegacia Territorial de Amargosa, conforme o boletim registrado pelos PMs, a estudante ainda teria dito: “Meu Deus, vou ser presa por um negro!”. Fernanda foi presa em flagrante e segue custodiada na delegacia local.  

Abordagem Truculenta
A versão de que a estudante indígena teria desacatado os policiais militares é contestada pelo Coletivo de Estudantes Indígenas na Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB). Em nota pública divulgada neste domingo (5), o grupo apontou interpretação equivocada por parte dos PMs na ocorrência. Ainda conforme o coletivo, Fernanda é militante em prol das causas indígena e racial. Confira o texto na íntegra:  

"O Coletivo de Estudantes Indígenas na Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), vem a público manifestar seu mais veemente repúdio à prisão da estudante indígena Fernanda Dantas Carneiro, do povo Pataxó (Porto Seguro-BA), no final da tarde deste sábado (04 de agosto de 2018), no Centro da cidade de Amargosa, acusada de injúria racial e desacato por Policiais Militares (PM’s).

Segundo a versão apresentada pelos policiais do PETO/99ªCIPM, Fernanda havia proferido a seguinte frase: “Bala e fogo nas putas!”. Esta frase é trecho de uma música do rapper baiano Vandal. Ao ouvirem tal expressão, os policiais realizaram uma truculenta abordagem na estudante. Relatos de outros estudantes apontam que tais abordagens (que são conhecidos pelos estudantes como “enquadramentos”), são frequentes no público universitário que reside na cidade.Fernanda Pataxó é estudante da UFRB e militante das causas negra e indígena, como é de notório saber na cidade e universidade. Portanto, tal acusação resulta de interpretação equivocada por parte dos PM´s, pois dadas as condições étnico-raciais e de militância, ela seria incapaz de apresentar tal postura racista, já que se trata de uma pessoa INDÍGENA, PRETA E MILITANTE. Mesmo assim, sob tal acusação Fernanda foi presa e encaminhada até a Delegacia de Amargosa. Ressaltamos no que diz respeito à lei número 6001 de 19 de setembro de 1973, artigo 56, parágrafo único que garante aos povos tradicionais tratamento diferenciado em casos como este que tal legislação não tem sido cumprida e a mesma permanece presa.
Segue a campanha de mobilização do Coletivo de Estudantes Indígena: “Eu sou Fernanda, indígena do povo Pataxó da Bahia, preta e militante dos direitos dos povos indígenas e negros. Fui presa no dia 4 de agosto de 2018, na cidade de Amargosa, estado da Bahia, injustamente, devido à má interpretação de minhas declarações perante a um PM. Eu, filha nativa desse território, vítima de 518 anos de colonização, sei sim, o que é injúria racial. Minha honra, minha pele, minha crença e etnia é constantemente negada por esse sistema opressor. Eu sei o que é ser vítima de racismo!
Não sou racista, estou sendo mais uma vítima do racismo!”

FERNANDA PATAXÓ, LIVRE AGORA!!!

5 DE AGOSTO DE 2018.

Coletivo de Estudantes Indígenas na Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB)."

Polícia Militar
Em nota enviada ao BNews, o Departamento de Comunicação Sicial da PM-BA confirmou a ocorrência. "A guarnição parou e solicitou os documentos da mulher, natural de Eunápolis, que faltou o respeito com um dos soldados e disse para ele que não ia falar e nem respeitar policial preto. Quando ela começou a se exaltar, a PM deu voz de prisão por desacato e a encaminhou para a delegacia para as medidas cabíveis", informa o texto.

Atualizada às 10h50

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