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Caso do pix: Veja o que já se sabe sobre a suposta fraude na RecordTV Itapoan

Marcello Casal Jr/Agência Brasil//Divulgação
O indicativo da suposta fraude do pix na emissora tem como possíveis autores dois jornalistas  |   Bnews - Divulgação Marcello Casal Jr/Agência Brasil//Divulgação
Pedro Moraes

por Pedro Moraes

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Publicado em 18/03/2023, às 11h18 - Atualizado às 11h18


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Uma expressiva quantia de dinheiro que era para ser arrecadada para ajudar famílias carentes se transformou em pix supostamente desviado. Recentemente, a denúncia que tem tomado conta dos holofotes envolve dois jornalistas da RecordTV Itapoan. Eles são suspeitos de fraudar um sistema popular da emissora.

Apesar do caráter comum da empresa auxiliar espectadores e pessoas que, geralmente, enfrentam problemas de saúde, profissionais internos teriam tirado proveito. Exemplo disso foi uma reportagem, exibida em setembro de 2022, no programa “Balanço Geral”, sobre uma criança que precisava de doações para tratamento de um câncer. 

Na ocasião, o meia-atacante Anderson Talisca, ex-Bahia, que atualmente defende o Al-Nassr, da Arábia Saudita, doou à família da criança cerca de R$ 70 mil, através da chave disponibilizada pela RecordTV Itapoan. Aproximadamente cinco meses depois, a mãe do garoto, conforme noticiado por portais de notícias locais, afirmou não ter recebido nenhum dinheiro. 

Dessa forma, após tomar conhecimento do suposto desvio, a emissora começou o processo de apuração interna, que provocou várias reuniões entre a alta cúpula. Por consequência, dois colaboradores do departamento de comunicação entraram no radar do caso, sendo eles: um editor do programa e um repórter.

Segundo informações divulgadas pelo site Notícias da TV, do UOL, o caso teve como autor da descoberta, o apresentador do “Balanço Geral”, José Eduardo. Ele teria repassado as informações à direção da emissora. Sendo assim, a Polícia Civil começou uma investigação, apesar dos nomes não terem sido divulgados pela empresa de TV.

Vítimas revoltadas

Uma das vítimas seria o ambulante Adriano Lima, de 38 anos. Atuante na Praça do Sol, situada no bairro de Periperi, ele teve a situação exibida pela RecordTV Itapoan, durante uma edição do programa “Balanço Geral”. Em setembro do ano passado, após comprar alguns imóveis, eletrodomésticos e itens de trabalho, ele teve itens de sua casa furtados.

"Mostraram ao vivo que minha casa tinha sido arrombada. José Eduardo disse que muita gente ajudou e eu não vi um centavo das doações", diz.

Outras duas pessoas também - que estão com os nomes guardados a ‘sete chaves’ por causa de sigilo -, já foram ouvidas pela Polícia Civil da Bahia (PC-BA). Elas estão no grupo de vítimas do valor de R$ 800 mil desviado, que seria para ajudar pessoas em situação de vulnerabilidade social e grave doença. 

Apesar de não ser confirmado como vítima, o vendedor de milho, Adriano Dias Limas, de 38 anos, afirmou que pediu ajuda ao vivo, no programa transmitido no dia 26 de setembro de 2022, porém nenhum valor chegou a sua conta bancária, em entrevista ao jornal Correio. 

Porém, um vídeo que circula nas redes sociais desmente a versão do comerciante. Na matéria, somente um número para contato por meio do WhatsApp foi disponibilizado, não sendo publicada qualquer outra chave pix. 

José Eduardo decepcionado 

Principal âncora do programa “Balanço Geral”, o apresentador José Eduardo lamentou novamente o caso e fez um forte desabafo. 

“O mundo desabou na minha cabeça, exatamente o que eu senti. Porque fui eu quem descobri a situação, através do empresário do Talisca. E na mesma hora ele me explicou, eu dizia: 'não é possível, não são essas pessoas'. Fiquei três dias sem dormir, tentando acreditar que aquilo era um pesadelo, que era uma mentira”, relatou, em entrevista ao podcast BahiaCast.

Chamado popularmente por Zé, o apresentador admitiu que seu primeiro gesto foi acionar a direção da empresa para relatar o caso. 

Questionado sobre a permanência do silêncio sobre os nomes dos investigados, José Eduardo mencionou que não tem ‘carta branca’ para divulgar.

“Muitas pessoas me cobram, mas eu não posso falar por ordem judicial, a pedido do delegado, da direção da empresa porque os trâmites têm que ser fechados. Então, ninguém pode falar. O que posso dizer é que o mundo está desabando e eu estou segurando. Que acabe o mais rápido possível e que o mundo volte a ser o que a gente idealizou, dos sonhos, da ajuda, de tantas mil pessoas que nossa equipe ajudou e vai continuar ajudando, independentemente da ilegalidade, da irregularidade e ganância de outras pessoas”, detalhou.

Situação de Talisca é esclarecida

No meio do valor desviado, cerca de R$ 800 mil, destinados a doações, aproximadamente R$ 70 mil seriam provenientes da ajuda de Talisca. Em contato com o BNews, o representante do atleta, Valderson Mendes, enfatizou que o jogador sequer sofreu golpe

"A finalidade da doação foi atingida, até porque fizemos a transferência diretamente na conta da mãe da criança, não passou por outra pessoa", garantiu o assessor pessoal do atleta revelado pelo Esquadrão de Aço.

Caso no radar da Civil

Com a ampla proporção do caso, a Polícia Civil confirmou, na última segunda-feira (13), que uma investigação está em curso. A apuração tem sido feita pela Delegacia de Repressão aos Crimes de Estelionato por Meio Eletrônico (DreofCiber), com o apoio do Departamento de Crimes Contra o Patrimônio (DCCP).

Por meio de nota, a PC-BA admitiu ter começado "investigações acerca de uma fraude, cujos funcionários de uma emissora de televisão são suspeitos de cometer contra telespectadores".

"Conforme as primeiras informações, o crime consiste em arrecadar doações para pessoas em estado de vulnerabilidade social, porém o valor não era repassado para as vítimas. Os responsáveis serão intimados na unidade policial", cita trecho do comunicado.

Ainda conforme a Polícia, a situação dos membros da suposta fraude pode sofrer um agravamento ainda mais sério. Essa questão somente se for constatado, durante as investigações, que a criança morreu devido a falta de recursos financeiros que seriam enviados a ela.

Marcelo Castro na mira da investigação

Até então, dois jornalistas da emissora estão sendo rastreados pela corporação. Um deles é Marcelo Castro, que seria envolvido no ‘esquema do pix’. A especulação ganhou maior proporção após o ex-deputado estadual Marcell Moraes lançar publicamente diversas acusações contra o profissional

Inicialmente, o repórter estava de férias, em Dubai, junto a sua namorada e também repórter da emissora, Daniela Mazzei. Ao ficar ciente da denúncia, o casal retornou para o Brasil e, ao mesmo tempo, o advogado do profissional da editoria de polícia, cedeu uma entrevista exclusiva ao BNews. Ele negou o envolvimento do cliente no suposto desvio da quantia destinada ao povo

"Ele nega veementemente essas acusações no tocante ao evento principal, que seria o caso daquela família que tinha uma criança com enfermidade com câncer. Isso já ficou claro que o valor foi enviado para a família. Então, não tem nenhum mérito de causalidade para estar acusando as pessoas de forma leviana", apontou o advogado, que acrescentou a abertura de processos contra Marcell Moraes, outras pessoas e sites que acusam o jornalista.

Daniela Mazzei nega envolvimento

Outra pessoa atingida pelas acusações dos internautas foi a também repórter Daniela Mazzei. Após ficar noiva durante a viagem para Dubai, ela mencionou que virou alvo de “forma injusta”, assim como mencionou confiar na inocência do noivo. 

"Não sei se Marcelo tem envolvimento, estou falando por mim, eu não tenho nada a ver com isso, se ele fez alguma coisa, eu não sabia de nada. Eu acredito nele, lá no meu íntimo, mas vou esperar as investigações, as apurações. Estamos juntos há 4 meses, apesar de intenso, é um relacionamento novo, não fui conivente [..] ", explicou Mazzei, em entrevista ao programa Se7e da Matina, exibido pela BNews TV, na última quarta-feira (15). 

O casal que, atualmente, está afastado, vive um relacionamento de quatro meses. Apesar de ambos apagarem as fotos que tinham juntos na rede social Instagram, o noivado, aparentemente, segue vivo. 

Intimação

Os envolvidos na suposta fraude vão ser intimados pelo delegado Charles Leão, da Delegacia de Repressão aos Crimes de Estelionato por Meio Eletrônico (DreofCiber). Tanto o editor quanto o repórter, que são suspeitos, vão precisar depor, além das supostas vítimas.

Classificação Indicativa: Livre

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