Polícia

Ex-pacientes de cirurgião suspeito de cárcere relatam deformação e sequelas

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Ele é suspeito de ter mantido uma paciente em cárcere privado por mais de um mês, desde que um procedimento estético na barriga da mulher teve complicações a ponto de necrosa  |   Bnews - Divulgação Reprodução TV Globo

Publicado em 19/07/2022, às 18h01   Ana Luíza Albuquerque/ FolhaPress


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Ao menos quatro ex-pacientes do cirurgião equatoriano Bolívar Guerrero Silva procuraram nesta terça-feira (19) a Delegacia de Atendimento à Mulher de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, para denunciá-lo. Elas afirmam que ficaram deformadas e com sequelas após terem sido operadas pelo médico.

O cirurgião foi preso nesta segunda (18) no hospital particular Santa Branca. Ele é suspeito de ter mantido uma paciente em cárcere privado por mais de um mês, desde que um procedimento estético na barriga da mulher teve complicações a ponto de necrosar. A mulher foi resgatada pela polícia.

A reportagem não conseguiu entrar em contato com a defesa do médico. Nas redes sociais, mensagem publicada no perfil do cirurgião plástico afirma que a alta da paciente seria uma imprudência naquele estágio do tratamento.

Uma das ex-pacientes do cirurgião, Vanessa Miranda, 41, diz que as sequelas da operação a impedem de trabalhar. Em 2013, ela procurou o médico para fazer uma mastectomia (retirada da mama) total, com implantação de próteses. Vanessa afirma, porém, que Silva fez uma mastectomia parcial e que, até hoje, ela ainda tem pontos abertos.

A ex-paciente diz que não consegue trabalhar porque suas mamas incham, doem e ficam vermelhas quando ela faz esforço físico. Até dormir é difícil -ela conta que apenas consegue se deitar sobre o lado direito e toma remédios controlados para conseguir pegar no sono.

Miranda relata que procurou o cirurgião diversas vezes após a abertura dos pontos e que foi maltratada por ele. "Ele me chamou de louca. 'Você está maluca, não precisa de ressonância'. Eu falei 'doutor, isso não está normal, meu peito abriu de novo'."

À época, a ex-paciente foi atraída pelos preços mais em conta cobrados pelo médico. Ela pagou cerca de R$ 7.500 pela mastectomia, valor menor do que o aplicado no mercado.

"Eu sabia que era um valor abaixo do mercado, mas como várias artistas tinham feito o procedimento com ele, isso me deu coragem, segurança", diz.

A ex-paciente Ana Claudia Rodrigues, 49, mostrou à reportagem fotos de seu abdômen aberto, com aspecto necrosado. Ela conta que teve uma infecção generalizada após fazer uma abdominoplastia com Silva, em 2019. Ficou três meses no hospital -o mesmo onde ele foi preso nesta segunda.

Rodrigues diz que, além das sequelas estéticas, guarda traumas emocionais do episódio, que afetou toda a família. Seu marido afirma que não saiu do lado da mulher no hospital, para observar de perto o tratamento e tentar garantir sua sobrevivência.

A mulher resgatada do hospital nesta segunda também fez uma abdominoplastia com o médico. O procedimento estético é realizado para retirar gordura e pele em excesso do abdômen.

O caso chegou à delegacia por meio da família da paciente. Semanas após a cirurgia, realizada em março, a mulher passou mal e precisou voltar a ser atendida, segundo a família. Desde então, ficou internada no hospital.

Em nota, a direção do Hospital Santa Branca afirmou que repudia "quaisquer práticas criminosas que nos foram indevidamente atribuídas". "Tal acusação é absurda", diz a mensagem da instituição.

A administração argumenta que a paciente deu entrada em 1º de junho em um apartamento privativo com direito a acompanhante, mas "recusa-se a sair da unidade". Ainda segundo a nota, todo o custo da internação é pago pelo próprio médico.

Silva aparece como sócio-administrador do hospital no comprovante de inscrição e situação cadastral da empresa emitido pelo site da Receita Federal.

A delegada Fernanda Fernandes, titular da Delegacia de Atendimento à Mulher de Duque de Caxias, afirma, porém, que há indícios de que a paciente foi mantida em cárcere no hospital.

"Nós pedimos a documentação, eles negaram. Tentamos entrar e eles impediriam. Quando entramos, ela não tinha condições de sair", disse ao jornal O Globo.

Ainda segundo a publicação, a mulher falou à delegada: "Doutora, pelo amor de Deus, me tira daqui".
Bolívar tem registro no Cremerj (Conselho Regional de Medicina do Rio) desde 1996. Nas redes sociais, ele costuma divulgar o seu trabalho como cirurgião plástico -no Instagram, tem mais de 36 mil seguidores.

Segundo secretária particular do cirurgião, uma consulta inicial custa R$ 250. Uma tabela de preços dos procedimentos estéticos realizados por ele indica que uma abdominoplastia custa aproximadamente R$ 9.000.

Em mensagem direcionada aos pacientes, divulgada no perfil do cirurgião nas redes sociais, a equipe do médico argumenta que Silva foi "prestar um esclarecimento na delegacia". Na verdade, ele foi preso.

A mensagem afirma ainda que o cirurgião não manteve a paciente em cárcere privado, que estava apenas fazendo curativos e que em breve ele "irá se explicar". "Ela [a paciente] queria ser liberada sem ter terminado o tratamento, e ele como médico seria imprudente de liberá-la", afirma a nota.

"Ele disse que poderia liberá-la se ela assinasse a alta à revelia e ela não quis assinar, ele disse que liberaria somente se ela assinasse. Como ela não assinou, ele não a liberava. Além disso ela estava com um curativo especial para acelerar a cicatrização. E esse curativo só pode ser manipulado por pessoas capacitadas com técnicas em enfermagem ou enfermeiros."

Silva já havia sido preso em 2010, após uma operação da Polícia Civil do Rio de Janeiro contra um grupo acusado de comercializar e aplicar medicamentos sem registro na Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).

O esquema funcionava desde 2005. O dono de um laboratório farmacêutico que produzia a toxina botulínica, o botox, enviava os produtos de Goiás para o Rio, onde havia uma redistribuição para clínicas particulares. O produto não registrado era comercializado pela metade do preço comercial normal à época. Uma dessas clínicas compradoras era a de Bolívar Guerrero Silva.

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