Manifestação

Manifestantes protestam contra a impunidade nos casos de homicídios de jovens em Salvador

Adenilson Nunes/BNews
Do Morro do Cristo ao Farol da Barra, pais e mães das vítimas gritavam: "Justiça lenta é injustiça!"  |   Bnews - Divulgação Adenilson Nunes/BNews

Publicado em 26/08/2018, às 12h30   Vinícius Ribeiro


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A manhã deste domingo, 26 de agosto, foi de luta para mães e pais que perderam os filhos para a violência em Salvador, capital da Bahia, um dos estados que mais registram casos de homicídios. Cansados da espera e da sensação de impunidade, eles escolheram um dos cartões postais da cidade, na orla da Barra, para protestar contra crimes que ocorrem em sua maioria em bairros periféricos. 

Concentrados no Morro do Cristo, grupos de apoio a crianças e adolescentes, além de parentes das vítimas, seguiram em caminhada exibindo faixas e cartazes até o Farol da Barra. Os olhares tristes e o clamor por justiça chamaram a atenção de baianos e turistas, atônitos à beira-mar com a denúncia em forma de romaria. 

"Isso aqui não é carnaval, é um protesto por nossos jovens mortos pela polícia e pelo tráfico de drogas", anunciava George Sopa, à frente do grupo percussivo do Cria. 

Ao longo do percurso, os manifestantes gritavam: "Justiça lenta é injustiça!". O desabafo era acompanhado pelo rufar dos tambores. "Não são tambores de festa, aqui estão crianças tocando como forma de resistência", esclareceu Sylvio Batista, do grupo de Pais Pela Vida.

Segundo Waldemar Oliveira, coordenador do Centro de Defesa da Criança e do Adolescente Yves de Roussan (Cedeca), o ato busca principalmente chamar a atenção para a impunidade dos casos. "Clamamos por justiça e dizemos não ao desrespeito nas periferias. Precisamos parar de criminalizar os jovens, quase sempre negros, e lhes oferecer uma vida digna", bradou ao microfone. Ele defende maior investimento do governo estadual para a polícia investigativa. "De cada 100 acusados, apenas três são punidos", apontou Waldemar. 

A manifestação terminou diante do Farol da Barra, onde jovens, familiares e representantes de grupos deram um abraço simbólico e fizeram uma instalação artística com dezenas de cruzes, representando as vítimas. 

A marcha foi acompanhada por equipes de motociclistas da 11ª Companhia Independente da Polícia Militar (CIPM/Barra-Graça).

"DOR QUE NUNCA ACABA"

Mirellas, Alexandres, Douglas, Geovannas, Lucianos (...). O ato contou com a presença de algumas mães e pais de jovens - como os citados acima - que convivem com a dor da perda. "É uma dor que nunca acaba", definiu, emocionada, Valdete Maria José de Jesus, 67 anos, avó da menina Geovanna Nogueira da Paixão. A garota foi morta em uma ação policial no bairro de Santo Inácio, em janeiro deste ano. 

A mãe de Geovanna, Maria Ângela Nogueira, que vem cobrando respostas da Corregedoria da PM, lamenta a interrupção dos sonhos da garota. "Ela fazia aulas de violino em Paripe e me pedia o instrumento de presente. Todas as amigas já tinham. Eu dizia que só poderia comprar quando saísse de férias, mas não deu tempo. Ao invés do violino tivemos que comprar o caixão", contou.

A mãe de Douglas Andrade Santos, 20, morto no bairro de São Gonçalo, também é uma das que aguardam respostas da Justiça. Luciene Santos Andrade, 38, afirmou que o filho não tinha passagens pela polícia. "Levou um tiro na nuca e disseram que foi troca de tiros", contou inconformada.

Também sem aceitar a perda da filha Mirella do Carmo Barreto, de apenas 6 anos, no bairro de São Caetano, Robenilton de Jesus Barreto condenou a conduta dos PMs envolvidos no caso. "Ela estava na laje, de repente eles atiraram em direção à minha casa, do nada. A perícia já confirmou de onde saiu o tiro, mas ainda aguardamos punição. Os culpados foram apenas afastados", contou, incrédulo. 

Para Nadijane Souza Macedo, que perdeu o filho, Alexandre Fraga, (também ) em uma incursão envolvendo policiais a sensação de impunidade foi amenizada com a condenação de 12 anos de prisão para um dos envolvidos. "O alívio é parcial, já que apenas um foi punido e não repara o crime, mas pelo menos consegui lavar a alma de meu filho, mostrando que ele não era criminoso, o próprio juiz falou isso pra mim", confortou-se.   

CHACINA NO LOBATO 

A data 26 de agosto foi escolhida como Dia Estadual de Enfrentamento aos Homicídios e a Impunidade devido uma chacina que vitimou três adolescentes e um jovem em 1993, no bairro do Lobato, tendo como autores um policial militar e um agente ferroviário, os quais cumpriram apenas sete anos de reclusão. Em novo julgamento realizado em abril de 2011, apenas o agente ferroviário foi condenado a cumprir pena de 36 anos.

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