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Pai de atirador de Aracruz diz esperar punição, pede desculpas as vítimas e revela reação do filho

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Em entrevista, o pai ainda falou das polêmicas sobre o livro de Hitler em sua rede social  |   Bnews - Divulgação Reprodução/Vídeo

Publicado em 28/11/2022, às 19h06   Cadastrado por Mariana De Siervi


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O pai do atirador de Aracruz e dono das armas que foram utilizadas no ataque que deixou quatro mortos e 12 feridos na última sexta-feira (25), no Espírito Santo, contou em entrevista ao Estadão que quer ser punido por ter deixado seu filho conseguir pegar as suas armas.

"Eu já tenho noção que vou responder por omissão de cautela, que é o crime quando você se omite dos cuidados da arma sob sua cautela e alguém utiliza de forma indevida. Foi o que aconteceu com a arma da corporação que estava comigo. Eu sei que vou responder, mas é como te falei: não quero nenhum tipo de impunidade. Foi um erro meu, que eu responda. Não quero livrar nem minha cara não. Vou ser punido, sim. Não vou ficar inventando defesa mirabolante com advogado não. Assim como quero que meu filho seja punido dentro dos rigores da lei" disse em entrevista.

O homem, que não teve sua identidade revelada, ainda pediu desculpas as vítimas e que seu filho não demonstrou sequer emoção ao confessar o crime.

"Meu mais profundo sentimento de pesar. Sei que a tragédia que ceifou várias vidas foi cometida por meu filho, um filho criado com todo amor e carinho. Mas não consigo entender o que o levou a cometer esse atentado. Se eu pudesse, pediria para cada família o perdão para meu filho, apesar de saber que diante de tamanha dor isso é algo impossível. Gostaria de poder pedir o perdão e dar minha explicação para cada parente das vítimas, mesmo que fosse em vão", disse o homem.

Ainda na entrevista para o Estadão, o pai do atirador contou que vem sendo ameaçado e que muitas fakes news sobre ele estão sendo compartilhadas na internet. Por isso, ele e sua esposa, mãe do adolescente, estão escondidos desde que tudo aconteceu.

O homem ainda relatou como ficou sabendo do ataque na cidade. "Eu e minha esposa estávamos na rua resolvendo algumas coisas. Nós tomamos conhecimento através de um grupo do WhatsApp da comunidade aqui. Sou o presidente da associação de moradores, pra você ver que não sou nazista como estão pintando aí nas redes sociais. Minha esposa estava por acaso verificando as mensagens no grupo. Ela viu uma postagem referente a um atentado, a uma violência que aconteceu. A gente ligou para o X. porque ficamos preocupados. Tínhamos deixado ele em casa e a gente estava no centro da cidade. Aí a gente ligou para ele avisando e perguntando se estavam trancados os portões. Falamos para deixar o cachorro solto no quintal porque a princípio tinha ocorrido um tiroteio. E era para ele ficar trancado dentro de casa e soltar o cachorro, não abrir as portas para ninguém", contou ao jornal.

O Estadão perguntou ao entrevistado sobre o estado emocional do filho quando atendeu a ligação e ele disse que o adolescente não demostrou nenhuma emoção.

"Chegamos em casa uns 30 minutos depois disso e nos deparamos com ele. Ele estava bem tranquilo, parecia que nada tinha acontecido. Eu perguntei se tinha aparecido alguém ali, se tinha visto alguma coisa de violência. Ele falou que não. A gente tinha que sair para ir a um lugar próximo, chamado Mar Azul, a uns 5 km de Coqueiral. Era mais ou menos 11 horas e falei: ‘Vamos almoçar logo para a gente ir lá, resolver o que temos que resolver e voltar para casa’. Nós almoçamos, eu, minha esposa e ele. Ele almoçou tranquilamente. Quando a gente chegou em Mar Azul, depois de uns cinco ou dez minutos, uma viatura da Polícia Militar chegou e conversou comigo. Falou que já tinha todas as suspeitas que seria o X. devido ao carro que ele utilizou. Era um outro carro meu, que eu tinha deixado na garagem. E quando eu cheguei em casa o carro estava na garagem, tudo certinho", relatou

Sobre a questão que o atirador foi apreendido, o pai falou que o filho chegou a negar o crime, mas logo confessou e a mãe desmaiou depois disso. "Ele estava super tranquilo, não demonstrou suspeitas, não demonstrou nada. [...] Era uma tranquilidade gelada”, afirmou.

Sobre a motivação do crime, o adolescente contou que sofria bullying há dois anos, quando sequer estudava nas duas escolas que foram palcos de uma tragédia. O pai não acredita na versão do filho.

"Ele falou que foi por causa do bullying que ele sofreu dois anos atrás mais ou menos. Mas a gente que tem um pouco de experiência nessa área de segurança sabe muito bem que ele está mentindo. Ele tá querendo cobrir alguma outra coisa maior. Eu acredito que ele esteja querendo encobrir as pessoas que o manipularam. Eu ainda não consegui entender a motivação para ir na escola e fazer aquela brutalidade. O bullying não justificaria. O delegado ainda perguntou se ele tinha alguns amigos nisso. Ele falou que foi ele sozinho. Mas a gente não acredita" falou.

Ainda sobre o relato de bullying, o PM não acredita que isso teria sido uma justificativa para cometer os crimes e acredita que outra coisa teria motivado as mudanças de comportamentos de seu filho.

"Não foi nada provado (a situação de bullying), mas ele relatou isso. Foi antes da pandemia mais ou menos. Depois disso a gente percebeu sim uma transformação comportamental nele. A gente viu que ele ficou uma pessoa mais introvertida e ele era bastante extrovertido. Era muito risonho, conversador, e ele se fechou, a partir do final de 2019. Ele se isolou socialmente dos colegas. Devido a esse isolamento, começou a procurar interação nos jogos. A rede social que ele mais usava era o YouTube, com os vídeos. Ele gostava muito do tema da Segunda Guerra Mundial. Não sei como aflorou esse gosto nele. Era muito fissurado em História, em Sociologia, alguma coisa de Filosofia. Apesar da idade precoce, aflorou esse gosto nele", contou na entrevista.

Uma das maiores polêmicas, foi o fato de o atirador ter usado na roupa do crime uma suástica, símbolo nazista e do pai ter publicado em sua rede social uma foto do livro Mein Kampf, escrito pelo líder nazista Adolf Hitler. O homem contou que chegou a emprestar o livro pro filho, mas afirmou que não é adepto das ideias nazistas.

"Eu sou um estudante, um pesquisador da mente humana. Tenho a minha formação em psicanálise. Conduzo esses projetos sociais e gosto muito de estar entendendo um pouco da mente de alguns grandes personagens da História do mundo. Eu tinha interesse em entender a mente do Hitler. Até comecei o livro, mas nem concluí. Parei para ler um outro que eu achei mais importante. Inclusive, não gostei do livro. Achei que ele ia falar mais das ideias dele, mas estava fazendo uma narrativa histórica de quando ele começou o movimento de revolta na Alemanha. Então eu achei até um livro bobo, idiota", disse.

Classificação Indicativa: Livre

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