Polícia

Travestis são agredidas com barra de ferro por suposto militar da Aeronáutica na orla de Itapuã

Arquivo Pessoal
Pelo menos oito travestis foram atacadas entre novembro do ano passado e janeiro deste ano no mesmo local  |   Bnews - Divulgação Arquivo Pessoal

Publicado em 04/02/2022, às 08h45   Redação BNews


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O que seria mais um dia de trabalho para Arielly Michely Santos da Silva, de 29 anos, se tornou um pesadelo. Na última terça-feira (1º), a travesti, que atua como profissional do sexo, foi agredida por um homem enquanto aguardava por clientes na orla de Itapuã, em Salvador. As marcas da agressão estão na coxa direita dela. Segundo ela, um militar da Aeronáutica seria o autor da violência.

Arielly relata que estava na Avenida Otávio Mangabeira, na altura do Bairro de Itapuã, quando foi surpreendida pelo oficial que, com uma barra de ferro na mão, começou a lhe agredir, causando ferimentos na sua coxa, intimidando-a para que ela deixasse o lugar, denominado como "ponto".

Em um vídeo enviado à reportagem é possível ver dois homens, um deles com um objeto na mão que parece ser uma barra de ferro, intimidando Arielly enquanto ela trabalhava.

Assista:

No mesmo local, pelo menos outras sete travestis foram atacadas entre novembro do ano passado e janeiro deste ano. Outras seis vítimas denunciaram agressões pela mesma pessoa.

De acordo com a travesti e agente comunitária de saúde, Ranela Márcia, no último dia 28 de janeiro ela foi impedida de realizar ações de saúde no local para estimular a adesão da população trans ao tratamento da Profilaxia Pré-Exposição ao HIV (PrEP).

"Nós fomos realizar uma ação e ficamos praticamente cercadas pelo pessoal da Vila Militar. Eles estão agredindo as meninas que trabalham na rua", conta Ranela.

A maioria das vítimas registraram o caso na 12ª Delegacia (Itapuã). O BNews teve acesso a pelo menos seis boletins de ocorrências registrados na unidade policial.

Em nota, a Polícia Civil informou que as vítimas e o suspeito foram ouvidos na unidade policial, que concluiu o procedimento e remeteu ao Ministério Público.

Sobre o suposto envolvimento de um oficial da Aeronáutica, a Força Aérea Brasileira (FAB) informou à reportagem que "desconhece qualquer envolvimento de militar do seu efetivo no caso". A Instituição ressaltou, no entanto, que "está à disposição para colaborar com as autoridades policiais".

O Grupo Gay da Bahia (GGB) emitiu uma nota de posicionamento sobre o caso. "O GGB considera que as travestis estão sendo vítimas de transfobia por parte dos agressores, especialmente porque a atividade não é realizada na presença das famílias, e sim em via pública de acesso rápido".

A entidade disse ainda que ofereceu denúncias à Aeronáutica e ao Ministério Público da Bahia (MP-BA) para apurar a situação, "porque tem o entendimento de que agressão a um grupo de mulheres travestis que estão se prostituindo tem relação com a condição social delas".

O MP-BA, por sua vez, afirmou que está acompanhando a situação. “O MP acompanha o inquérito policial instaurado para apurar o primeiro episódio relatado e está analisando informações coletadas sobre os fatos mais recentes, para adoção das medidas cabíveis".

A Secretaria de Justiça, Direitos Humanos e Desenvolvimento Social da Bahia (SJDHDS) divulgou nota nesta quinta-feira (3) repudiando os casos de transfobia.

"Os crimes registrados na capital baiana devem ser investigados e punidos conforme a lei", diz o texto.

"A SJDHDS ressalta ainda que, por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), homofobia e transfobia são crimes previstos em lei. Os ministros do Supremo determinaram que a conduta seja punida pela Lei de Racismo (7716/89), que hoje prevê crimes de discriminação ou preconceito", conclui a nota.

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