Política

Auditoria da Petrobras atesta influência de lobista em negócio com a Odebrecht

Publicado em 04/04/2015, às 08h37   Redação Bocão News (Twitter: @bocaonews)


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Em 11 de fevereiro, a Polícia Federal encaminhou à Petrobras um pedido de informações. O ofício, de número 0677/2015, destinava-se à presidência da estatal, mas o alvo dos investigadores da Lava Jato era outro: a empreiteira Odebrecht. A PF se debruça sobre um contrato firmado entre a Petrobras e a construtora. O contrato em questão, inicialmente de US$ 826 milhões, depois cortado pela metade, é um grande guarda-chuva de serviços em projetos espalhados por dez países e centralizados pela Odebrecht, assinado às vésperas do segundo turno da eleição de 2010. Conforme revelado por ÉPOCA em 2013, o contrato se tornou possível graças ao trabalho do lobista João Augusto Henriques, operador do PMDB. “Odebrecht? Eu montei tudo”, disse João Augusto na ocasião. Na Odebrecht, os alvos da PF são os executivos Rogério Araújo e Márcio Faria, que, segundo delatores, eram os encarregados de encaminhar as propinas. Na Petrobras, a investigação se concentra na Diretoria Internacional, comandada na ocasião por Jorge Zelada. Já se descobriu que ele escondia  € 11 milhões em contas no exterior.
A Operação Lava Jato avançará, nas próximas semanas, sobre a Área Internacional da Petrobras, feudo do PMDB. Um passo importante foi dado em 3 de março, quando a PF em Curitiba recebeu a resposta da Petrobras ao ofício de fevereiro. Trata-se de uma investigação interna da estatal, de 2013, apelidada de Comissão Interna de Apuração ÉPOCA, ou CIA ÉPOCA, em referência à reportagem que revelou o lobista João Augusto. A investigação tem 52 páginas, 86 anexos e ouviu 28 pessoas. “A possibilidade de que o João Augusto tenha exercido influência e atuado como intermediador de negócios de responsabilidade da Área Internacional se sustenta pela confirmada proximidade com vários empregados que ocupavam posições-chave naquela área”, afirma o documento. A principal revelação veio de José Carlos Amigo, então gerente executivo da América Latina e colega de João Augusto. “(Amigo) escuta com frequência, e do próprio João, que este, João Augusto, tem contatos políticos, inclusive com o PMDB. Segundo a percepção do declarante, na Área Internacional, era de conhecimento de todos a ascendência que o PMDB exercia, em especial o PMDB mineiro.”
De acordo com a investigação interna, 22 ligações de telefones corporativos da Petrobras foram feitas para números de João Augusto entre 2009 e 2010. Uma delas partiu de Zelada, na véspera da criação da comissão de licitação que consagrou a Odebrecht como vencedora. A outra ligação foi feita por Sócrates José, chefe de gabinete de Zelada, no dia da assinatura do contrato, em 26 de outubro de 2010. Segundo a investigação, Sócrates era o contato de Zelada para o projeto da Odebrecht, mesmo sem qualquer atribuição formal para isso. Ele admitiu à comissão da Petrobras que passava, “informalmente”, informações ao lobista sobre negócios potenciais.
O documento sugere que a influência de João Augusto se tornou possível com a ajuda de Zelada. Segundo a comissão, Zelada foi decisivo para o contrato vencido pela Odebrecht. Segundo os funcionários que foram ouvidos, Zelada chamou para si a condução do projeto e criou uma equipe informal para tratar do tema. “Fica evidente que o fluxo formal de aprovação de projetos não foi observado”, afirma o relatório. Inicialmente, o projeto deveria ser espalhado por empresas em cada um dos dez países. Após a entrada de Zelada no circuito, o contrato acabou abocanhado pela Odebrecht em sua totalidade.
Na “equipe informal” de Zelada estava Aluísio Telles, ex-gerente-geral da Diretoria Internacional. Segundo a investigação, ele era o coordenador dos trabalhos da comissão de licitação, mas já tinha prontas a planilha de preços e a minuta contratual antes mesmo de o grupo ser criado. Segundo as investigações, no período que antecedeu a criação da comissão de licitação, ele recebeu seis visitas de Rogério Araújo. Trata-se do executivo da Odebrecht suspeito de, dentro da Petrobras, acertar as propinas para conseguir os contratos. Assinado o contrato, Araújo saiu de cena. Segundo a investigação, era um subordinado dele, Marco Duran, quem tocava o serviço. 
As conclusões da CIA ÉPOCA estão no radar da Lava Jato. É a segunda prova obtida pelos investigadores da influência de João Augusto e do PMDB na Diretoria Internacional. Nas palavras de Paulo Roberto Costa, ex-diretor da Petrobras e agora delator, João Augusto era “uma espécie de representante do PMDB junto a Jorge Zelada”. Por estar aposentado, Zelada escapou ileso de punições da Petrobras. A aposentadoria, contudo, não o ajudará a escapar da Lava Jato.
Em nota, a Odebrecht diz: “A Comissão Interna da Petrobras sobre o contrato para prestação de serviços em SMS em instalações internacionais da estatal não responsabilizou a Odebrecht (contratada após licitação) ou qualquer de seus executivos por supostas inconformidades no processo de seleção de empresas. (...) As visitas a gestores da estatal por parte de executivos da Odebrecht responsáveis por contratos diversos junto à Petrobras foram motivadas exclusivamente pela relação cliente/prestador de serviços”. Zelada e Petrobras não se manifestaram. 
Fonte: Revista Época

Classificação Indicativa: Livre

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