Política

Dia “desastroso” para o governo atrapalha votação de ajuste fiscal

Publicado em 06/05/2015, às 10h42   De Brasília, Lucas Esteves (Twitter: @lucasesteves)



Não seria exagero dizer que, nesta terça-feira (5), tudo deu errado para o Governo Federal. O excesso de problemas anotado ao longo do dia ajudou – e muito – a que Dilma Rousseff não lograsse a aprovação de medidas de ajuste fiscal, a exemplo da Medida Provisória 665, ações consideradas fundamentais pelo Planalto para equilíbrio de contas e retomada das funções da gestão.
No início do dia, aparentemente as coisas corriam bem e as negociações estavam engatilhadas. Houve duas reuniões entre petistas – uma no café da manhã e outra no almoço – apenas para discutir a votação da MP. Entretanto, ao longo dos encontros ficou claro que o partido ainda não estava convencido a apoiar as medidas por considerar que chancelaria ataque a direitos trabalhistas.
As reuniões, então, foram suspensa para serem retomadas à tarde. O impasse continuou e, na tentativa de fechar questão os ministros Ricardo Berzoini (Comunicação), Pepe Vargas (Direito Humanos), Carlos Gabas (Previdência) e Miguel Rossetto (Secretaria-Geral da Presidência) foram enviados pela presidente ao Congresso. Não havia, porém, um consenso estabelecido.
Quem estava engatilhado a aprovar a votação do ajuste, mas recuou, foi o PMDB. Insatisfeito com a indecisão petista, o partido ainda foi surpreendido com o programa eleitoral gratuito do partido que foi ao ar à noite. Na peça publicitária, o ex-presidente Lula atacava o PL 4330, que regula a terceirização no país.
Irritados, os peemedebistas disseram que o programa empurrava rejeição ao partido, em especial em um momento em que o governo precisa do PMDB. Há severa ameaça dos parlamentares da legenda não votarem com o governo. A votação foi remarcada para esta quarta-feira (6) e o resultado ainda é imprevisível.
Não contavam com minha astúcia - Enquanto as negociações entre os petistas seguiam, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, entrou em ação e pautou, de surpresa, um projeto que imporia uma grande derrota ao governo: a PEC da Bengala. A medida aumenta a idade para aposentadoria compulsória no Supremo Tribunal Federal (STF) de 70 para 75 anos. Assim, evitará que Dilma Rousseff indique mais cinco ministros até o final de seu mandato. 
A movimentação para pautar a PEC começou em um almoço em que Cunha reuniu líderes PMDB, PR, PP, SD, PSC, PTB, PSC e DEM. Sua intenção era pautar o projeto quando o quórum na sessão ordinária alcançasse no mínimo 490 deputados. O fato ocorreu por volta das 20h, quando o presidente encerrou a sessão ordinária e deu início a uma extraordinária em que anunciou a votação. Pegos de calças curtas, os petistas não puderam fazer nada. 
CPI ajudou – Enquanto isto, Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Abastecimento da Petrobras e peça-chave na Operação Lava jato, prestava depoimento na CPI que investiga a estatal. Lá, apesar da tentativa do governo de minimizar danos, não houve muito o que fazer. Entretanto, a situação em muitos momentos ficou ainda pior.
Na oitiva, Costa reafirmou que recebeu pedido de Alberto Youssef para repassar R$ 2 milhões à campanha de Dilma Rousseff em 2010. Em outro momento, afirmou que o prejuízo aos cofres públicos da Lava Jato é fichinha se comparado à “quebradeira” patrocinada pelo governo em ingerência política. Como exemplo, citou o represamento de reajustes nos preços da gasolina. O rombo, segundo ele, poderia ser entre R$ 60 bilhões e R$ 80 bilhões.
Para encerrar o dia, durante o programa eleitoral gratuito petista, panelaços e buzinaços puderam ser ouvidos em diversos estados. Os protestos foram avaliados internamente como uma manutenção do nível de insatisfação popular com o governo e o partido, diferente da impressão apreendida nos protestos populares do último dia 12.

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