Política

Delegada responsável por investigar atos antidemocráticos foi retirada investigação após pedir busca no Planalto

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Diretor-geral da PF da época, Rolando Alexandre Souza,disse que a saída de Denisse do caso não teve a ver com o pedido de buscas   |   Bnews - Divulgação Divulgação/Isac Nóbrega/PR

Publicado em 16/06/2021, às 07h44   Redação BNews


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A delegada Denisse Ribeiro, responsável pela Operação Lume, foi retirada da investigação 14 dias depois de pedir ao Supremo Tribunal Federal (STF) uma busca e apreensão no Palácio do Planalto, sede do governo federal. 

A remoção de Ribeiro aconteceu "seguindo orientação da direção-geral" da Polícia Federal  após pedido realizado em 25 de junho de 2020 para realização da segunda fase da ação contra alvos acusados de incentivar e financiar manifestações antidemocráticas no país.

De acordo com o portal UOL, os alvos da nova fase seriam a Secretaria de Comunicação da Presidência da República - que funciona dentro do Planalto e tem repartições na Esplanada -, o Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos, os endereços do ex-secretário de Comunicação Fábio Wajngarten e um canal bolsonarista no YouTube.

Cinco dias depois, outro delegado, Fábio Shor, pediu ao Supremo buscas em três agências de publicidade com contratos com a Presidência - Artplan, Calia e NBS-PPR. As buscas tinham como  objetivo procurar provas de que agentes públicos distribuíram verbas do governo para canais que incitavam movimentos por uma ruptura institucional.

Também segundo a publicação, oito dias após o pedido ser enviado ao STF, a agenda oficial de 2 de julho registra uma reunião entre o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e André Mendonça, atual advogado-geral da união e então ministro da Justiça - pasta na qual a PF está alocada.

Quatro dias depois, Mendonça se encontrou com o diretor-geral da PF. Após esses encontros, no dia 9 de julho, o diretor de Combate ao Crime Organizado da PF, Igor Romário, transferiu, por ordem de Souza, a investigação do setor de Denisse para o Serviço de Inquéritos (Sinq), órgão que também funciona na sede da PF. 

A justificativa oficial da direção era que só o Sinq poderia conduzir investigações, uma vez que o setor no qual Denisse estava lotada teria um perfil ligado a administração e planejamento. A pedido da corporação, a policial fez um relatório parcial das investigações que incluía, também, a informação sobre sua saída. 

O documento foi remetido ao relator do caso no STF, ministro Alexandre de Moraes. Àquela altura, porém, já existia uma ordem do próprio ministro para que ela e outros delegados fossem mantidos no inquérito sobre os atos antidemocráticos. Ela retomou as investigações na noite do dia seguinte, 10 de julho, após objeção da Corregedoria da PF.

As buscas solicitadas por ela, porém, nunca foram realizadas. Procurada pela reportagem, a assessoria da Polícia Federal não prestou esclarecimentos e não forneceu cópia do processo de mudança dos delegados do caso ao portal. Já o Palácio do Planalto, preferiu não comentar.

O diretor-geral da PF da época, Rolando Alexandre Souza, por telefone e mensagens, disse que a saída de Denisse do caso não teve a ver com o pedido de buscas feito por ela. Ele argumentou que se Moraes, que é presidente do inquérito, não admitiria qualquer interferência.

"Se ele não se importou com base em tudo que foi dito e explicado, o que dirá os outros", acrescentou. Ele também disse que, apesar de o primeiro despacho ordenar a troca de setor e de delegados do caso, Denisse iria conduzir as investigações da Operação Lume, mas em outro setor.

"Ela iria junto: o inquérito iria para o Sinq, com ela junto", afirmou ele à reportagem, por telefone. "Só que ela não quis ir pro Sinq". O ex-diretor da PF contou ter discutido o tema por telefone com Moraes, do STF, explicando a situação. 

"O único local na sede em que se toca inquérito é dentro do Sinq." Segundo ele, definiram que a delegada continuaria no caso, mas na unidade regional de Brasília. A reportagem perguntou se Souza tratou do tema com o então ministro da Justiça, André Mendonça. 

"Todo mundo sabia", respondeu. Ele afirmou que o conhecimento dele se deveu a notícias na imprensa à época. Souza afirma não ter tratado da possível busca no Planalto na conversa com Moraes: "Nunca ninguém falou de mandado de busca".

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