Política

Aliados de Bolsonaro minimizam pesquisas Datafolha e apostam em economia e vacina para reação em 2022

Marcos Corrêa/PR
Presidente e ministros não comentam levantamentos, e Planalto vê distorção de dados para pavimentar eleição de Lula  |   Bnews - Divulgação Marcos Corrêa/PR

Publicado em 10/07/2021, às 08h00   Folhapress


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Aliados do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) minimizaram nesta sexta-feira (9) a última rodada de pesquisas Datafolha. Segundo eles, o governo deve reagir em 2022, ano eleitoral, com avanço da vacinação e da economia.

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ampliou a vantagem pelo atual ocupante do Palácio do Planalto. O petista marca 58% das intenções de voto no segundo turno, contra 31% de Bolsonaro.

Líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR) disse que a pesquisa Datafolha "reflete o momento". Para ele, Bolsonaro assumirá a liderança nas intenções de voto ainda antes das convenções para escolha definitiva dos candidatos.

"Todos os brasileiros vacinados até dezembro, economia bombando no primeiro semestre de 2022. Bolsonaro assume a liderança nas pesquisas antes das convenções", disse o deputado à Folha.

Bolsonaro e ministros não comentaram o Datafolha. No Planalto, mesmo sem provas, a leitura é de que as sondagens mais recentes sobre as eleições usam dados distorcidos.

Acuado, Bolsonaro tem feito repetidas ameaças contra a eleição e elevado o tom das críticas ao petista e à CPI da Covid no Senado. A postura do mandatário foi acompanhada por militares da cúpula do governo.

O ministro Braga Netto (Defesa) e os comandantes das Forças Armadas divulgaram uma nota na quarta-feira (7) repudiando declarações do presidente da CPI, senador Omar Aziz (PSD-AM), e afirmando que "não aceitarão qualquer ataque leviano".

As ameaças golpistas de Bolsonaro foram rebatidas pelos presidentes do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), e do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), ministro Luís Roberto Barroso.

Bolsonaro disse a apoiadores nesta sexta, antes da divulgação da pesquisa Datafolha, que institutos distorcem dados para pavimentar uma vitória fraudulenta de Lula. Sem provas, ele ainda sugeriu um complô com o TSE.

"Daí vem os instituto de pesquisa, fraudados também, botando ali o 'nove dedos' lá em cima. Para quê? Para ser confirmado o voto fraudado no TSE", afirmou Bolsonaro.

O vice-líder do governo na Câmara, Evair de Melo (PP-ES), disse que as pesquisas eleitorais mais recentes não servem para nada, são distorcidas, atrapalham o Brasil, e que a base do presidente no Congresso não irá encolher.

"Vamos disputar a reeleição com todo mundo vacinado e com a economia em crescimento. Essa é a nossa plataforma", afirmou. Para Evair, o presidente não ameaça a democracia ao questionar o processo eleitoral.

A principal estratégia do presidente é questionar a segurança das urnas eletrônicas, sistema usado desde 1996 e considerado eficiente e confiável por autoridades e especialistas no país.

O próprio Bolsonaro foi eleito para o Legislativo usando o sistema em diferentes ocasiões, assim como venceu o pleito para o Palácio do Planalto em 2018 da mesma forma.

Bolsonaro defende a adoção do voto impresso —segundo ele, auditável. Tramita no Congresso uma proposta nesse sentido, mas a ideia conta com oposição de uma coalizão de partidos, alguns deles da própria base de Bolsonaro.

Para congressistas da oposição, Bolsonaro dificilmente irá recuperar o apoio eleitoral. Eles avaliam que suspeitas de irregularidades em compras de vacinas e a alta rejeição do presidente devem ampliar a dependência do centrão no governo.

"Bolsonaro será cada vez mais refém do centrão, perdeu o protagonismo e não consegue mais esconder o rabo do rato. A corrupção pegou nele e o bolsonarismo perdeu seu último discurso", disse a vice-líder da oposição na Câmara, deputada Perpétua Almeida (PC do B-AC).

"O presidente tende a ficar cada vez mais autoritário e isolado. Reeleição já era", afirmou.

O deputado Ivan Valente (PSOL-SP) considera que Bolsonaro estará mais isolado e perderá apoio popular até as eleições.

"Esse desespero do Bolsonaro, dando todo dia uma declaração golpista, é porque ele sabe que perdeu sustentação no Congresso. Acho muito difícil ele ter uma reação à altura. Temos pela frente uma crise energética, aumento dos combustíveis e da inflação. O quadro que se aponta é de derrota", disse Valente.

Os dados da pesquisa Datafolha confirmam as avaliações no meio político sobre o duopólio atual entre o petista e o presidente, com espaço exíguo neste momento para um nome da chamada terceira via.

No levantamento anterior do Datafolha, feito em 11 e 12 de maio, Lula tinha 21% das intenções de voto na espontânea, Bolsonaro marcava 17% e Ciro Gomes (PDT), 1%. Agora, o petista pula para 26%, o presidente oscila para 19% e o pedetista, para 2%.

O presidente do Senado subiu o tom nesta sexta contra as ameaças do governo e afirmou que não aceitará retrocessos à democracia do país.

"Nós não podemos admitir qualquer tipo de fala, de ato, de menção que seja atentatória à democracia ou que estabeleça um retrocesso naquilo que, repito, a geração antes da minha conquistou e que é nossa obrigação manter, que é a democracia no nosso país", afirmou Pacheco.

Já Barroso, presidente do TSE, disse em nota que qualquer tentativa de impedir a realização de eleições em 2022 "configura crime de responsabilidade". "Qualquer atuação no sentido de impedir a sua ocorrência viola princípios constitucionais e configura crime de responsabilidade."

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