Política

Oposição precisa vencer guerra da comunicação contra mentiras do governo e não "gastar energia" com Lula, analisa Aliel Machado

Imagem Oposição precisa vencer guerra da comunicação contra mentiras do governo e não "gastar energia" com Lula, analisa Aliel Machado
Deputado federal paranaense esteve em Salvador na Bienal da UNE  |   Bnews - Divulgação

Publicado em 08/02/2019, às 14h43   Eliezer Santos


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A esquerda do Brasil não deve "gastar energia" com Lula. "Nosso problema é muito maior do que isso". A síntese é do deputado federal Aliel Machado (PSB-PR), que participou em Salvador da 11° Bienal da União dos Estudantes do Brasil (UNE), na Universidade Federal da Bahia Ufba), onde dias antes o ex-presidenciável Ciro Gomes (PDT-CE) ironizou a situação carcerária do petista após ser hostilizado por apoiadores que pediam a soltura de Lula: "Eu estou solto, o Lula tá preso, babaca", disse Ciro ao repetir as palavras do seu irmão, o senador Cid Gomes em ato com petistas no Ceará no segundo turno presidencial.

Em conversa exclusiva com a reportagem do BNews, Aliel Machado também pregou que o campo progressista precisa ter serenidade para "conquistar o coração das pessoas" e enfrentar a guerra da comunicação contra um governo que, segundo ele, "vai continuar mentindo para as pessoas", enquanto toca uma pauta econômica contrária à necessidade das pessoas mais pobres.
O socialista paranaense foi incisivo ao afirmar que o bloco de esquerda no Brasil precisa de profunda reflexão sobre os pilares de sua atuação para deixar de lado a "disputa por jargões".

"Bolsonaro foi eleito pelo voto de trabalhadores, pessoas simples, humildes, que perderam a esperança. É doído falar isso, mas é necessário. Para que a gente consiga fazer um debate com as pessoas e mostre que o programa que está sendo implementado é um programa econômico que Bolsonaro não apresentou por lhe tiraria votos se fosse explicitado. Nós caímos infelizmente por fazer uma disputa por jargões e isso é um erro que o movimento progressista, o nosso campo resiste muitas vezes em falar. É preciso que chegue isso às pessoas".

Confira a entrevista na íntegra: 

Bnews: Como deve ser o comportamento da oposição no governo Bolsonaro?

A.M:  Muita responsabilidade. Precisamos nos unir. As diferenças menores, as disputas políticas precisam ficar de lado e preciso ter muita responsabilidade no papel da oposição. Reconhecer os erros, que Bolsonaro foi eleito pelo voto de trabalhadores, pessoas simples, humildes, que perderam a esperança. É doído falar isso, mas é necessário. Para que a gente consiga fazer um debate com as pessoas e mostre que o programa que está sendo implementado é um programa econômico que Bolsonaro não apresentou por lhe tiraria votos se fosse explicitado. Nós caímos infelizmente por fazer uma disputa por jargões e isso é um erro que o movimento progressista, o nosso campo resiste muitas vezes em falar. É preciso que chegue isso às pessoas.

Bnews: E quais serão as estratégias?

A.M:  A gente criticou tanto o governo anterior, que não tinha sido eleito, ele foi eleito. Nós precisamos recuperar e ganhar o coração das pessoas para que se tenha resistência. É preciso entender se nós queremos ganhar voto para eleger bancada ou se nós temos um projeto também para o país consistente. Do que adianta ele não ter apresentado projeto e nós apresentamos e o projeto foi derrotado? Por que isso não foi discutido antes da eleição? Por que os partidos não reconheceram seus erros, o modelo de aliança feito anteriormente? Os erros que aconteceram sobre os desvios que foram verdadeiros...é preciso ter coragem para falar isso, principalmente quem está desse lado. O que precisamos fazer é um grande debate com a sociedade e vencer a guerra da comunicação. O governo tem a máquina na mão, vai mentir muito para as pessoas, tem o poder da grande mídia e tem o poder de setores financeiros que querem que isso seja colocado goela abaixo. A reforma da Previdência é o principal tema a ser debatido porque as outras pautas às vezes servem como uma cortina de fumaça, sendo que a questão econômica – nós vivemos num dos países mais desiguais do mundo – e nenhuma outra área vai melhorar, nem segurança, nem educação, nem saúde, nem falar de escola sem partido nem de direitos de melhorias, se nós não discutirmos a economia, que é o eixo central do liberalismo que ganhou a eleição sem o povo ter o conhecimento total sobre isso. Essa é minha principal preocupação. E a nossa responsabilidade é ter serenidade para isso, é colocar pessoas que estejam aptas a falar sobre isso, que não estejam amarradas, que não estejam com processo, que respeitem as instituições do nosso país, que faça uma crítica àquilo que não está seguindo os ritos normais do nosso país, que não respeita os procedimentos, nas que reconheça os erros que foram feitos anteriormente.     

Bnews: Ciro voltou a fazer críticas à situação carcerária de Lula, isso enfraquece a harmonia na ala de esquerda?

A.M: Eu acho que o assunto Lula é um assunto da Justiça. O respeito ao campo progressista às conquistas que tiveram é uma coisa, mas nós não podemos gastar as nossas energias achando que isso vai resolver o problema do país. Isso não pode servir de bode expiatório. Nosso problema é muito maior do que isso, é muito mais grave e muito mais sério. Ciro disputou a eleição e houve uma divisão equivocada. O PT tentou protagonizar e, na minha opinião, errou porque colocou em primeiro lugar esses interesses. Isso, muitos não têm coragem de dizer no nosso campo. É um erro, um erro que foi cometido e estamos pagando um preço por isso. Talvez isso crie essas disputas dentro no nosso campo, que acaba muitas vezes saindo para fora e criando até constrangimentos em relação a isso. Acho legítima a manifestação da militância, de quem defende. Isso é uma coisa, agora o posicionamento político de quem está à frente de espaços importantes, que lidera pensamentos, que são uma objeção ao que está aí, precisa ter uma responsabilidade maior inclusive nas alianças, no comportamento, no parlamento.

Bnews: A expectativa de candidatura do ex-presidente prejudicou o entendimento na oposição a Bolsonaro?   

A.M: O Lula é uma figura muito querida principalmente pelas transformações que ele fez no Nordeste, que foi uma resistência. E ele acabou sendo uma figura importante para a eleição do PT. Na minha opinião, ficou em segundo plano o Brasil, infelizmente.

Bnews: Como vê o fatiamento dos processos de Lula na Lava Jato? Esta semana ele foi condenado pela segunda vez.

A.M: Infelizmente esse tema dá vida ao PT e ao Bolsonaro, é bom para os dois Faz com que o campo progressista tenha dificuldade para debater o que realmente é importante. Eu nem entro nessa discussão, porque eu acho que esse tema cabe à Justiça e dentro dos termos legais a Justiça tem que tomar as suas responsabilidades. Entendo que houve abusos dentro da Justiça, situações que nos preocupam ao comparativo com outros processos. Mas isso continua alimentando o debate que não é o debate que envolve o Brasil.

Bnews: A questão Lula dificulta a unidade da oposição na nova formação de oposição na Câmara?

A.M: Muito. Você desvia o foco para fazer uma discussão que não vai te levar para lugar nenhum, que não diz respeito ao processo que estamos passando pelo problema iminente da votação de questões importantes isso é muito grave.

Bnews: Se pudesse fazer prognóstico do governo Bolsonaro até dezembro de 2019, o que me diria?

A.M: Vai depender muito porque ele está num céu de brigadeiro ainda, ele tem amplo apoio popular ainda e nós precisamos conquistar o coração das pessoas, não adianta discursar para a militância, não adianta discursar para quem já tem esse convencimento. Se nós não ganharmos o coração das pessoas, mostrando para elas que é um ruim para o trabalhador isso que está sendo aprovado, que a reforma trabalhista tirou direitos das pessoas que mais precisam, que nós temos um país desigual e nós temos pessoas pobres, nós vamos perder esse debate. É uma escolha. Às vezes isso não ganha voto, não ganha eleição. Perde uma eleição, mas é necessário para a construção disso. É uma questão cíclica, não está acontecendo só no País. O campo progressista não pode ficar atrasado, ele tem que se modernizar com a situação atual que estamos vivendo, só assim ele consegue ganhar campo, se não vamos continuar sendo derrotados e com razão, por culpa de muitos. Você não vai ouvir isso de outros aqui não.        

Classificação Indicativa: Livre

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