Política

Roubar um bocado de dinheiro é muita coisa, sim, senhor jurista

Publicado em 15/04/2016, às 20h33   Cíntia Kelly (Twitter: @Cintiakelly_)


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Diante de uma sessão comandado pelo deputado federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ), réu no Supremo Tribunal Federal (STF) pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro, chamou-me atenção trecho do discurso do jurista Miguel Reale Jr, um dos autores do pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff. Disse ele, na manhã desta sexta-feira (15): “furtar um bocado de dinheiro é muito menos que furtar a esperança de futuro".
Para quem foi denunciado por corrupção passiva, lavagem de dinheiro, acusado de receber propina de US$ 5 milhões, de ter se refestelado em luxuosos restaurantes mundo a fora com o nosso dinheiro, chegado às mãos deste voraz e contumaz comezinho, ouvir tais palavras deve ter sido um alento. Eduardo Cunha recebeu diante de uma plateia gigante que assistiu pela tevê a sessão - a primeira de uma série de três -, uma espécie de salvo-conduto. 
A questão aqui não é ser coxinha, nem mortadela, nem tampouco croquete, mas enxergar que a vontade de setores da política e da Justiça de condenar uma presidente sem que contra ela haja uma só denúncia de corrupção, é maior do que o desejo ou obrigação de ser justo num momento tão difícil da nossa jovem democracia.
Querer apear do poder Dilma Rousseff sem que tenha havido claro e explicito crime de responsabilidade, e passar a mão na cabeça de Eduardo Cunha está longe de ser um grito contra a corrupção. 
É um grito, uma vontade contra um partido que traiu toda uma nação, quando se colocou guardião da ética, mas dando as costas a sua principal bandeira, se lambuzou. Quem se locupletou deve, sim, ser julgado e condenado. Mas não se engane. É, acima de tudo, um grito contra um partido que ajudou o Brasil a fazer o mínimo de justiça social. Que incluiu os excluídos de cinco séculos, que oportunizou, que deu visibilidade a quem jamais foi enxergado por uma classe que por mais de cinco séculos não precisou brigar pra ter o mínimo de oportunidade.
Enquanto estamos todos voltados ao impeachment e salivando pelo apedrejamento de Dilma Vana Rousseff, está em curso o salvamento de Eduardo Cunha no Conselho de Ética.  Acorda, Brasil, seu desejo pelo combate à corrupção não pode ser seletivo.  Acorda, Miguel Reale Jr. Sonho e esperança podem ser refeitos. E o serão. Agora, o possível roubo cometido por um chefe de Poder não pode ser minimizado como o senhor fez nesta manhã de outono.
*Repórter do Bocão News e comentarista de política da rádio Itapoan FM

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