Política

Os tiros contra a caravana de Lula não devem ser tolerados

Imagem Os tiros contra a caravana de Lula não devem ser tolerados
Não há como contemporizar as motivações dos disparos  |   Bnews - Divulgação

Publicado em 28/03/2018, às 01h47   Luiz Fernando Lima*


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A pauta política na Bahia na última terça-feira (27) seria sobre a confirmação do esvaziamento do MDB do estado de onde saíram os cinco deputados estaduais, além da primeira sessão adiada, por falta de quórum, no conselho de ética da Câmara dos Deputados na qual seria lido o relatório do processo contra Lúcio Vieira Lima. 

Outro assunto que poderia ser abordado seria os 32 segundos a que o PR tem direito no tempo de rádio e TV na eleição. A viagem de representantes do governo Rui Costa a Brasília para tentar demover os republicanos da já articulada aliança com o prefeito de Salvador ACM Neto (DEM). Estes são os temas da nossa política do dia a dia que perdem o sentido quando tiros são disparados em um ato político.

Pior, a declaração do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e do ainda prefeito da capital paulista e pupilo – quase desafeto – João Dória, ambos do PSDB, a respeito dos disparos. Dizer que o PT colhe o que planta é no mínimo canalhice por parte dos dois tucanos. Isso não existe e não deve ser tolerado.

Promover violência não é defensável ou pode ser contemporizado e ponto. Num país em que a impunidade ainda vige não há como tecer comentários irresponsáveis como estes enquanto se prepara para assistir ao filme sobre a história de Edir Macedo. É canalhice mesmo ou coisa pior.

Não, não interessa quanto tempo um ou outro candidato pode agregar à sua coligação se não houver eleição. Não importa se vai ter cinco, seis, dez ou vinte partidos no agrupamento se o candidato for assassinado. 

Diante de uma intervenção federal em um Rio de Janeiro caótico, de um cenário de incontrolável violência em todos os mais de cinco mil municípios do país não é aceitável nenhuma palavra para justificar os disparos. 

Há duas semanas da cruel execução de Marielle Franco e de Anderson Pedro Gomes não se pode, sob pena de mais tragédias acontecerem, minimizar o ocorrido em Quedas do Iguaçu, no Paraná. Não é certo respaldar quem fez isso.

Um acirramento ainda maior vai provocar o que? Outra intervenção? Outro período de trevas com a tutela militar? É ai que se quer chegar? Para que? A quem interessa esse cenário belicoso? A quem interessa “lavar as mãos” às vésperas da Semana Santa?

O que se viu no Paraná nesta terça-feira pode ser o meio de um processo tenebroso e sem volta. Não há palavras de ponderação. Se não for iniciado um processo de reflexão e ação propositivo os tempos por vir serão de restrições ainda maiores.

Não se pode ignorar o fato de que o ministro Edson Fachin declarou que tem recebido ameaças. Ameaças estendidas à sua família. Nesta mesma terça-feira. Seria inacreditável se não fosse verdade.

O país galopa para uma situação em que a sociedade terá ainda mais medo de ir às ruas e na insegurança a tendência é se pegar em quem promete e instrumentaliza a segurança. Neste sentido, o ciclo democrático de apenas 30 anos volta a ser colocado em cheque e uma ditadura pode ser ‘apresentada’ como solução.

Não é devaneio e não é mais inimaginável. E ai, é isso que se quer? 

*Luiz Fernando Lima é editor do Bocão News

Foto: Marlene Bergamo/Folhapress

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