Política

"A Bahia inteira é muito LGBTfóbica", afirma suplente de Jean Wyllys na Câmara

Henrique Brinco/BNews
David Miranda afirmou que também sofre ameaças  |   Bnews - Divulgação Henrique Brinco/BNews

Publicado em 01/02/2019, às 16h42   Henrique Brinco* e Shizue Miyazono


FacebookTwitterWhatsApp

Suplente de Jean Wyllys na Câmara Federal, David Miranda (PSOL) afirmou que Salvador e Rio de Janeiro são cidades que mais matam LGBTs no Brasil. Em entrevista ao BNews, nesta sexta-feira (1º), quando tomou posse, ele afirmou que algumas áreas nessas cidades, que recebem turistas, são amigáveis aos LGBTs, mas discordou do rótulo de gay-friendly.

" Você sabe que Salvador, a Bahia inteira é muito LGBTfóbica, o número de assassinatos de LGBTs lá é enorme, assim como no Rio de Janeiro. A gente pode falar que Copacabana e Ipanema se estende a essa proporção de gay-friendly, mas se você chega na Baixada, lá são os corpos das travestis que são assassinadas e dos gays afeminados. Então, assim, não dá para falar que essas cidades são gay-friendely quando você tem uma estrutura de poder que não está ali para ajudar essa população", afirmou Miranda.

Ele ainda afirmou que as ameaças contra Jean Wyllys demonstram a fragilidade da democracia: "A OEA veio aqui em novembro do ano passado e falou que o Brasil é um dos países que mais mata defensores de Direitos Humanos. Nós do PSOL somos alvos, Marielle foi assassinada por causa disso, o Jean ia ser assassinado por causa disso e nós estamos vindo para cá para poder continuar a luta porque tem muita gente morrendo nas periferias desse país, tem muita gente morrendo porque simplesmente são o que são e tem muita gente que morre porque estão tirando a mata, estão matando índio para poder tirar a demarcação, a gente está aqui para fazer essa luta na casa".


"Eu sofro essas ameaças, eu tomo os cuidados necessários para mim e minha família, mas se eu, um favelado, LGBT, negro, que vem dessas raízes, que foi eleito para estar nesse cargo e não vier para cá agora, falar, responder por essa população que está morrendo nas vielas desse país, os trabalhadores que estão sendo massacrados por cada governo que está aí, se eu não vier nesse chamado, quem é que vai vir? Esse é um chamado que é para eu estar aqui e eu vim e é realmente verdade que um filho teu não foge à luta", explicou Miranda.

O deputado explicou ainda como pretende dar seguimento com o projeto que criminaliza a homofobia, que anda parado na Câmara. para ele, é necessário conversar com a sociedade civil e com as ONGs, mas ele destaca que não precisa, necessariamente, ser um projeto apresentado na Câmara. "A gente pode fazer igual a Lei Maria da Penha, que a gente utilizou o OEA para pressionar o Brasil para fazer passar, esse é um caminho. O modelo tem várias estruturas de penalidade dentro do crime que acontecer. Esse projeto que está escalado aqui só visa punição, não existe uma ressocialização, um entendimento do indivíduo que por ocasião cometer um LGBTfobia, então só existe a punição, e a gente precisa de políticas que faça com que seja ressocializado".

Em uma Câmara tida como mais conservadora, Miranda explicou que vai usar o diálogo para poder aprovar seus projetos, como fez no rio de Janeiro, mesmo tendo um bispo na prefeitura: "tenho certeza que eu consigo falar com uma boa parte desses parlamentares que estão aqui, eu tenho estômago, eu tenho vontade e sei da missão que me deram para estar aqui. Minha missão é estar aqui para ter diálogo, não importa se seja filho do Bolsonaro, não importa quem quer que seja, se eu tiver que ter diálogo com essa pessoa para poder passar projeto, para a população brasileira, eu vou ter diálogo, eu vou está trabalhando para poder isso ser feito".

*O repórter está em Brasília para a cobertura da posse dos deputados e eleição na Câmara

Classificação Indicativa: Livre

FacebookTwitterWhatsApp